quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Expresso & Avante dois espelhos do mundo

Expresso & Avante dois espelhos do mundo

O Expresso e o Avante são os dois semanários de referência no panorama jornalístico português. O primeiro um jornal comercial, i.e. apoiado na principalmente publicidade, o segundo um jornal literário suportado na venda de exemplares, o Expresso um jornal que reflete as orientações das elites dirigentes e se destina à classe média, o segundo um periódico que espelha as posições alternativas ao sistema social dominante e se destina às classes trabalhadoras.

Um defendendo a objetividade o outro contrapondo que a objetividade não existe e tomando abertamente partido. Duas visões do mundo, dois espelhos de uma mesma realidade. Ambos líderes de opinião na respetiva área política e social.

Neste interessante livro encontramos uma excelente análise comparativa destes dois jornais portugueses.

O leitor que se quer esclarecido e capaz de ponderar argumentos alternativos faria bem em ler os dois.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

As Recordações de Edna

As Recordações de Edna de Sam Savage

A técnica literária do fluxo da consciência levada a um limite esteticamente avassalador.

O presente e o passado, o geral e o detalhe, a reflexão profunda e o prosaico, tudo rodopia na mente humana sem aparente ordem ou sequência. Não há ato de vontade que impeça os pensamentos de irromperem pela consciência, aí se demorarem um tempo finito e de bruscamente serem interrompidos por outros, numa torrente imprevisível e imparável.

Edna escreve, dactilografando na sua preciosa máquina-de-escrever, esvaziando o saco, enquanto o seu mundo se desmorona lenta mas inexoravelmente. Que escreve Edna? A sua vida, as suas memórias, da infância longínqua, do encontro com o seu marido, da vida que construíram em comum tentando ser escritores, mas também o seu quotidiano, as suas reflexões, os seus medos e angústias.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Luz Antiga de John Banville

Luz Antiga de John Banville

A vida interior de um retirado ator sexagenário espartilhado entre a dor da perca da sua única filha e as recordações do seu primeiro amor, vivido em plena adolescência, de que guarda uma memória repleta de detalhes, cheiros, sensações e desejo. Uma relação que, tantos anos passados,  ainda o perturba e intriga.

Um presente sombrio, cinzento, desfocado e um passado vivo, colorido, apaixonado mas distante em que suspeita já se confunde a realidade com a imaginação.

A morte, o suicídio, o pesado e interminável sofrimento pela perda, a culpa, o remorso, a memória fixa em momentos longínquos, a esperança estilhaçada e deslocada, a vida condenada dos sobreviventes.

Nada que se faça no presente, não importa quem enfrentemos ou salvemos, pode apagar o passado, pode dissolver o luto, restaurar a alegria, mas vasculhar o passado pode iluminar e esclarecer, neste caso com uma luz muito triste, as memórias que dele construímos com base na nossa vivência sempre parcelar e unilateral de uma realidade complexa.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Quando o Cuco Chama por Robert Galbraith


Quando o Cuco Chama por Robert Galbraith

Depois da saga de Harry Porter, J.K. Rowlings lança-se noutra direção, a dos livros policiais de que Quando o Cuco Chama promete ser o primeiro de uma série já anunciada.

A queda mortal, da janela seu luxuoso apartamento londrino, de uma famosa modelo leva o seu irmão a contratar um detetive privado, filho bastardo de um famoso cantor rock, herói condecorado do Afeganistão. O que ele vai descobrir é uma surpresa que só será revelada no final do livro.

Publicado sob pseudónimo, Robert Galbraith, o livro não vendeu quase nada e só viu as receitas subirem em flecha quando uma indiscrição levou ao conhecimento público do verdadeiro nome da autora.

A apologia acrítica da guerra do Afeganistão pela exaltação dos seus mortos e “heróis” é seguramente deslocada e desnecessária para a trama e vinca uma posição política muito controversa da autora. 

Um policial sólido, com humor, com uma trama que prende a atenção do leitor, com personagens bem desenhadas evoluindo num cenário que cruza várias classes sociais, da nobreza aos sem-abrigo. Falta-lhe contudo o toque de ação, de perigo, de arrepio que encontramos nos verdadeiramente bons livros do género.