Porto-Sudão

Porto-Sudão de Olivier Rolin

 

A notícia da morte de um amigo de Juventude desencadeia uma viagem solitária e uma busca pela compreensão dos últimos dias dele.

 

Paisagens, interiores e ambientais, descritas, simultaneamente, com admirável precisão e com um lirismo tocante revelam-nos a dor do abandono e do fim do amor quando um parte e o outro permanece firme nos seus sentimentos. Um caminho autodestrutivo que só pode ter um final infeliz.

 

Um pequeno livro que é uma mescla entre um ensaio e uma novela que recorre muitas vezes à linguagem da poesia. Um escritor erudito com um vocabulário muito rico e diversificado. Uma reflexão sobre o fechamento interior, a desistência vital, a amarga lucidez, que precede a morte.

 

Porto-Sudão no Mar Vermelho com a sua violência de faroeste dá uma pincela, a meu ver escusada, de exotismo.

 

Olivier Rolin (n. 1947), francês, foi na juventude dirigente da organização Nova Resistência Francesa braço armado da Esquerda Proletária uma organização atuante nos anos em torno do Maio de 1968. Hoje é um escritor afamado e premiado.

 

Os Crimes da Rua Morgue e outras histórias

 

Os Crimes da Rua Morgue e outras histórias de Edgar Allan Poe

 

Um livro juntando três contos singelos que inaugurou todo um novo ramo literário: o da literatura policial. Fixa também uma estrutura que perdurou o da descrição de factos criminosos, aparentemente incoerentes ou impossíveis, a que a perspicácia e o poder de observação vão dar lógica permitindo apanhar o culpado. Ainda cria a dupla de personagens: o génio e a testemunha que depois foram replicados por Doyle em Sherlock Holmes e o seu amigo o Dr. Watson e por Agatha Christie com Hercule Poirot e o Capitão Hastings.

 

As três histórias mostram o cavaleiro Daupin, arguto observador e brilhante pensador, a desvendar crimes misteriosos em que a intervenção da Polícia se mostra ineficaz.  

 

Pena é a tradução deficiente e as imensas gralhas incluindo uma generalizada falta de assentos nos “é” que em conjunto tornam a leitura difícil. Uma falha difícil de explicar numa casa editorial como a Bertrand.

 

Edgar Allan Poe (1809-1849) foi um escritor e editor americano. Teve uma vida curta e agitada. Deixou uma vasta e preciosa obra de poesia e muitos contos, a maioria góticos, uma peça e até um romance. Morreu louco.

Canções para o incêndio

 

Canções para o incêndio de Juan Gabriel Vásquez

 

Um livro de contos que reúne nove excelentes histórias relatadas com mestria. Em toda a obra perpassa uma estranheza, uma atmosfera irreal que contrasta com o realismo dos lugares, a verosimilhança dos personagens, a factualidade histórica das épocas.

 

Vásquez começa com duas citações de Jorge Luís Borges, o maior escritor latino-americano de sempre, sobre as memórias. A segunda reza ”Quero saber de quem é o meu passado”, uma frase que sugere múltiplas interpretações e de que estes contos podem ser variações concretas.

 

A mulher à beira do rio, sugere uma perda de memória e identidade, em O duplo a ausência de passado de um atormenta o presente de ouro, As rãs e As más notícias desvendam um passado sonhado mas não concretizado, Nós confronta-nos com a fuga ao passado e a tentativa de renascimento, Aeroporto relata uma experiência com Polanski em que as memórias se fundem com dificuldade com a realidade, Os rapazes mostra-nos a vivência violenta de jovens vítimas na Colômbia e como o passado alimenta esse ciclo, O último corrido o passado de uma banda mexicana na memória do seu vocalista, Canções para o incêndio uma biografia de vários ângulos.

 

Juan Gabriel Vásquez, n. 1973 é um escritor colombiano, vencedor de inúmeros prémios literários incluindo em Portugal.