quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Jobs for the Boys? Nomeações para a administração pública

 

Jobs for the Boys? Nomeações para a administração pública por Patrícia Silva

 

Cada governo que assume funções efetua alterações na estrutura da função pública, substituindo dirigentes e nomeando milhares de pessoas a todos os níveis hierárquicos.

 

Patrícia Silva argumenta que parte das nomeações são absolutamente necessárias para o controlo governamental da máquina da administração pública e que outra parte surge como forma de clientelismo que permite retribuir apoios eleitorais. As primeiras são nomeações positivas porque permitem ao governo implementar mais eficazmente as suas políticas, as segundas são negativas porque se traduzem na dissipação dos recursos públicos sem aumento de eficiência, ou até com grave diminuição da eficácia dos serviços quando os nomeados são incompetentes.

 

Em Portugal as nomeações negativas são em grande número. Que fazer então para reduzir este desperdício e esta injustiça? Patrícia Silva propõe uma estratégia com três pilares: a) Limitar – reduzindo legalmente as possibilidades de nomeação sem concurso; b) Melhorar – aumentar a transparência dos concursos e aperfeiçoar as regras dos concursos; c) Exigir – aumentar o grau de exigência da sociedade civil em relação ao comportamento dos políticos.

 

Patrícia Silva é Doutorada em Ciência Política e Professora na Universidade de Aveiro.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

O Alegre Canto da Perdiz

 

O Alegre Canto da Perdiz por Paulina Chiziane

 

A saga de uma família, o tormento de uma nação, a determinação na construção de um destino diferente daquele que lhe é imposto. Um hino à Zambézia, aos seus palmares e campos de chá, ao monte Namúli, e, acima de tudo, ao seu Povo.

 

Uma dissertação sobre as raças, sobre a ascensão social pela cor da pele, sobre o papel dos mestiços. Uma reflexão sobre o colonialismo e sobre o estatuto do assimilado.

 

Um colonialismo feroz, assassino, que finge o que não é “Que a escravatura se chame descobertas. Que massacre se chame civilização e a humilhação se chame conversão ou cristianização. Que a submissão se chame fidelidade”.

 

No mundo hierárquico colonial, em que os brancos ocupam a posição cimeira, a estratégia para escapar ao destino trágico dos Negros, escravizadas, presos, aviltados, leva ao desejo de mudança de cor, mas “Viver em dois mundos é o mesmo que viver em dois corpos, não se pode. Tu és negra, jamais serás branca”.

 

A alternativa intergeracional pode passar pela mestiçagem - “Os governadores do futuro terão cabeças de brancos sobre o corpo negro. Nesse tempo, os marinheiros já não precisarão de barcos, porque terão construído moradas seguras dentro da gente”.

 

Uma atmosfera onírica em que os personagens, como sonâmbulos, vagueiam levados pela vontade e pelas circunstâncias.

 

Paulina Chiziane (n. 1955), escritora moçambicana, venceu o Prémio Camões de 2021.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

A Vida Verdadeira de Domingos Xavier

A Vida Verdadeira de Domingos Xavier por José Luandino Vieira

 

Uma curta novela sobre o heroísmo singelo, de quem dá a vida para não trair o seu povo, para não denunciar o seu amigo, para não comprometer quem nos ajuda. Face à brutalidade policial, às torturas da PIDE, um jovem Negro só tem duas alternativas: falar ou morrer.

 

Luanda com os seus bairros de lata, onde se acantonam os Negros surge em todo o esplendor de cidade colonial dual em que os principais espaços de contacto entre colonizador e colonizado são o trabalho e a prisão.

 

A língua portuguesa falada em Angola incorpora muitas palavras da língua quimbundo, hoje uma das línguas nacionais de Angola, e tem uma construção frásica diferente do português de Portugal. Por exemplo o “lhe” surge antecipadamente (“Xico lhe agarrou na mão”) e substitui o “o” em muitas ocasiões (“Ninguém lhe conhece”).   

 

Este livro tem uma belíssima capa do grande pintor angolano António Ole.

 

Luandino Vieira (n. 1935), escritor luso-angolano, membro do MPLA, lutador pela independência de Angola, preso político passou oito anos no Tarrafal, dirigiu o Instituto Angolano de Cinema, foi fundador da União de Escritores de Angola. Desiludido com o caminho de Angola depois de 1990 regressou a Portugal, vivendo no Norte do país. Foi-lhe atribuído o Prémio Camões em 2006 mas recusou-o.