sexta-feira, 26 de agosto de 2022

O Alegre Canto da Perdiz

 

O Alegre Canto da Perdiz por Paulina Chiziane

 

A saga de uma família, o tormento de uma nação, a determinação na construção de um destino diferente daquele que lhe é imposto. Um hino à Zambézia, aos seus palmares e campos de chá, ao monte Namúli, e, acima de tudo, ao seu Povo.

 

Uma dissertação sobre as raças, sobre a ascensão social pela cor da pele, sobre o papel dos mestiços. Uma reflexão sobre o colonialismo e sobre o estatuto do assimilado.

 

Um colonialismo feroz, assassino, que finge o que não é “Que a escravatura se chame descobertas. Que massacre se chame civilização e a humilhação se chame conversão ou cristianização. Que a submissão se chame fidelidade”.

 

No mundo hierárquico colonial, em que os brancos ocupam a posição cimeira, a estratégia para escapar ao destino trágico dos Negros, escravizadas, presos, aviltados, leva ao desejo de mudança de cor, mas “Viver em dois mundos é o mesmo que viver em dois corpos, não se pode. Tu és negra, jamais serás branca”.

 

A alternativa intergeracional pode passar pela mestiçagem - “Os governadores do futuro terão cabeças de brancos sobre o corpo negro. Nesse tempo, os marinheiros já não precisarão de barcos, porque terão construído moradas seguras dentro da gente”.

 

Uma atmosfera onírica em que os personagens, como sonâmbulos, vagueiam levados pela vontade e pelas circunstâncias.

 

Paulina Chiziane (n. 1955), escritora moçambicana, venceu o Prémio Camões de 2021.

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