domingo, 29 de novembro de 2015

Psicologia do Dinheiro



Psicologia do Dinheiro por Georg Simmel

Georg Simmel foi um imaginativo sociólogo alemão, de origem judaica, do final do século XIX princípios do século XX e conjuntamente com Karl Marx, Max Webber e Émile Durkheim como um dos pais da Sociologia.

Reunidos neste livro estão quatro palestras proferidas por Simmel sobre o dinheiro: i) Psicologia do Dinheiro, ii) O dinheiro na cultura moderna, iii) Sobre a Avareza, o esbanjamento e a Pobreza e por ultimo As grandes cidades e a vida do espírito.

O primeiro texto analisa o fenómeno psicológico de transformação de simples meios em fins em si mesmos. Partindo da ideia de que “Diagnostico os meios para um fim quando identifico as causas que o determinam” Simmel concluiu que o dinheiro é um simples meio de que os seres humanos se servem para atingir os seus fins, i.e. obterem os produtos e serviços de que necessitam. Contudo certas pessoas, esquecendo o fim último do dinheiro, fazem da sua acumulação um fim em si mesmo, renunciando, mesmo, a trocá-lo por bens. Esta é a curiosa base de todo um raciocínio muito subtil e elucidativo.

O dinheiro, segundo Simmel tende a ocupar o lugar de Deus nas sociedades capitalistas de tal forma é a sua força de nivelamento de todas as coisas – tudo, ou quase, se pode converter em dinheiro, desde o trabalho a qualquer objecto – e tornando-se o ponto de confluência de tudo. “O pensamento de Deus tem a sua essência mais profunda no facto de que toda a multiplicidade do mundo chega nele à unidade, de que ele é, segundo a bela expressão de Nicolau de Cusa, a coincidentia oppositorum… a sua semelhança com a representação do dinheiro é clara”.

Outros argumentarão, com razão, que Simmel não percebeu que o dinheiro há muito que não é um mero meio de troca, mas se transformou em capital, cuja acumulação é a base de funcionamento do sistema económico actual.

Apesar desta falha estrutural o pensamento de Simmel não deixa de nos surpreender com a sua minúcia, poder de observação, de lógica, de síntese e de perspicácia. Imprescindível.

domingo, 22 de novembro de 2015

As Mulheres da Fonte Nova



As Mulheres da Fonte Nova por Alice Brito

Uma cidade de província, Setúbal, pobre, explorada por estrangeiros, vivendo dependente de uma única indústria, sentindo o peso da miséria que se perpetua sob a vigilância apertada da polícia política, imersa numa moral hipócrita, mesquinha e beata.

Um bairro especial, o Troino, com o seu Largo da Fonte Nova, com o seu ambiente típico de casa de homens pescadores e mulheres operárias conserveiras, com a apertada solidariedade entre a sua gente, com a fome a espreitar, com a sua topografia apertada, as suas ruas estreitas num desordenamento espacial.

A saga de várias mulheres ali “nascidas e criadas” que atravessa todo o terceiro quartel do século XX.

Um livro interessante com um certo sabor, que saudamos porque necessário nos dias que correm, a um regresso ao realismo mas que peca pelo final inverosímil, pouco inspirado e que é a milionésima repetição de um tema já muito glossado, e por uma visão política sectária.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Como ganhar eleições



Como ganhar eleições de Quinto Túlio Cícero


Quando o irmão Marco Túlio Cícero decidiu concorrer a cônsul, Quinto escreveu-lhe uma carta, que é um pequeno manual cheio de utilidade para os políticos cínicos de hoje, com conselhos sobre como organizar e ganhar a campanha eleitoral.

Há mais de 2.000 anos, corria então o ano de 64 antes de Cristo, no tempo em que Roma era uma democracia governada por dois cônsules eleitos pelos cidadãos por um período de um ano, as eleições eram dominadas pela classe dos nobres que pontificavam no Senado. Marco Túlio Cícero não era nobre mas um formidável orador e homem de leis e concorria contra dois nobres.

Os conselhos, cheios de pragmatismo, mas também eivados dum cinismo grande, são variados e incluem pérolas como o ataque ao carácter dos adversários, listando os seus pecados e acções passadas, o garantir do apoio de um núcleo coeso constituído pela família e os amigos, o obter apoios entre “uma ampla variedade de meios sociais”, mas acima de tudo “Há três coisas, que podem garantir votos numa eleição: favores, esperança e relação pessoal. Tens de te esforçar por dar estes incentivos às pessoas certas”.

Indispensável para quem queira fazer política, quer para quiser seguir estes conselhos quer para quem os não pretenda seguir mas para os melhor identificar nos adversários.

sábado, 7 de novembro de 2015

Bomarzo



Bomarzo de Manuel Mujica Lainez

Um livro que é um monumento, uma obra-prima que nos transporta para a Renascença italiana, e em que vemos erguer-se, com grande realismo, maiores que a vida, os grandes nomes desta era, os artistas como escultor e ourives Benvenuto Cellini, Miguel Angelo Buonarotti que pintou a capela sistina no Vaticano, os pintores Lorenzo Lottoos, Ticiano, os cabalistas, os magos, os escritores Ariosto, Graciliano, os clássicos como Vergílio e também Cervantes, os Papas Leão X, Clemente VII, Paulo III, Júlio III, Marcelo II, Paulo IV, Pio V e Gregorio Xiii, os Reis e Imperadores, Carlos V, Filipe II de Espanha que foi primeiro de Portugal, os membros mais famosos das famílias mais influentes, os Orsini, os Borgia, os Médicis, os Farnese, os chefes militares, os corajosos condottiero, as cidades esplendorosas de Veneza, Florença e Roma, as guerras e as batalhas, a Arte e a Vida.  

A vida romanceada de Pier Francesco Orsini, Duque de Bomarzo, um retrato psicológico profundo de um nobre do século XVI que foi um homem da sua época; um trauma de nascimento, a violência sem limites, o crime que compensa, a paixão desenfreada, o orgulho desmedido, a força brutal, a superstição fúnebre, o requinte artístico, a perseverança, um sonho de imortalidade, uma obra singular, um arrependimento místico no crepúsculo da vida e uma surpresa desagradável no final.

Um livro de culto que tem levado muitos a visitar o Sacro Bosque de Bomarzo para ver os Monstros esculpidos na rocha o projecto fantástico de Pier Francesco.

Portugal surge a espaços nesta obra. A chegada a Roma da delegação que o Rei D. Manuel I enviou ao Papa e que incluía o elefante Hanno é descrita de forma admirável. Uma passagem dessa cena: “Abul obteve a sua compensação plena quando se apresentou diante de Leão X, sentado nos calcanhares, quase nu em cima da cabeçorra oscilante de Hanno, no centro da comitiva que desdobrava o seu fausto na ponte de Castel Sant’Angelo, e que sua Santidade contemplava, extasiado, através do monóculo, da eminência do castelo, porque constituía o espectáculo mais fabuloso que se havia oferecido aos seus olhos de pesquisador de beleza”.



Um livro extraordinário. Uma das grandes obras literárias do século XX. Indispensável.