sábado, 28 de março de 2009

Rubaiyat


O autor destes versos, Omar Khayyam, nasceu na Pérsia ainda antes da formação de Portugal.

Os seus poemas reflectem sobre o sentido da vida, e sobre a melhor forma de preencher os anos que a cada um cabe de existência.

Á sempiterna inquietação sobre o que fazemos neste Mundo responde com sinceridade e bom humor.

Oh, amigo não te apoquentes com os enigmas da vida
Não aflijas o teu coração com os pensamentos vãos.
Goza a vida porque quando se fez este mundo
Não foste convidado para o aconselhar.

E diz-nos, sem mágoa mas com humildade, que o ciclo da vida e morte se sucede sem fim.

Quando deitarmos o último suspiro
Colocarão tijolos na campa das nossas cinzas
Das nossas cinzas moldarão tijolos
Para cobrir as campas daqueles que virão depois.

Sobre a busca do conhecimento e do saber assume uma atitude socrática:

A sabedoria não me era alheia
Poucos enigmas restaram por explicar
Lançando o olhar para a minha vida que passou
O que sei eu? Não sei nada.

Destas premissas retira lições e constrói uma interessante filosofia de amor à vida e aos seus prazeres.

A vida passa como um momento
Valoriza-a, busca nela o prazer
Da maneira como viveres a vida assim passará
Não esqueças. Ela é a tua criação.


Entre os prazeres que Omar Khayyam celebra tem lugar proeminente o vinho.

À beira-rio, junto da criatura bela como a lua, rosa e o vinho
Deliciar-me-ei enquanto estiver vivo
Bebia vinho, bebo-o e beberei.
Até ao último minuto do meu destino.

Dez Discursos Históricos


Barack Obama é um orador notável. Os seus discursos cheios de esperança vão directos à razão e ao coração dos seus ouvintes.

Esta pequena colectânea centra-se essencialmente no tempo que mediou entre o lançamento da campanha presidencial e a tomada de posse em Janeiro de 2009. Fora deste período apenas a tomada de posição contra a guerra no Iraque no já longínquo ano de 2002.

A clareza na identificação dos problemas e as respostas às preocupações das pessoas comuns surgem como temas sempre presentes.

“Todos sabemos quais são hoje os desafios: uma guerra sem fim,
uma dependencia do petroleo que ameaça o nosso futuro, escolas
onde demasiadas crianças não estão a aprender, e famílias que
lutam de ordenado a ordenado apesar de trabalharem o máximo
que podem.” (pag. 14)

Mas a esperança que sempre as suas palavras transmitem, não assenta no crença em soluções milagrosas, em chefes iluminados mas antes

“... na crença de que o nosso destino não será escrito para nós, mas por nós, por todos aqueles homens e mulheres que não se contentam com o mundo tal como é, mas que têm a coragem de transformar o mundo naquilo que devia ser.” (pág. 25).

“... homens e mulheres comuns, verticais e desassombrados, desafiaram aquilo que sabiam estar errado e contribuíram para o aperfeiçoamento da nossa união."

Palavras que são um desafio à nossa consciência, um apelo à participação. Em tempos cantávamos “Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar”. Barack Obama vem lembrar estas verdades esquecidas.



sexta-feira, 27 de março de 2009

O Parque de Mansfield




O Parque de Mansfield é um livro muito interessante quer pelo que revela de uma época, finais do século XVIII princípios do século XIX, com a sua minúcia e precisão descritiva dos costumes e utensílios da vida quotidiana e um autentico manual educativo, formativo para as raparigas de sociedade na Inglaterra do seu tempo. Se a segunda característica lhe assegurou sucesso em vida, a primeira transforma-o num clássico de leitura obrigatória.

O livro desenrola-se por quadros, ricamente descritos, que nos dão uma imagem colorida em tons de aguarela, feminina e singela, quase infantil, dos cenários e que servem para a partir de situações quase insignificantes, saltar um muro, receber um presente, escolher o lugar numa carruagem, ler em voz alta e outras reflectir sobre o caracter e os princípios morais dos intervenientes e deles extrair lições sobre a conduta correcta, a incorrecta e a leviana.

Não deixa de ser repulsivo a forma crua como o casamento é encarado como um contracto económico destinado acima de tudo a providenciar ao casal um conforto material. A afeição e o ajuste de temperamentos surgem como elementos também relevantes mas claramente secundários na escolha dos cônjuges. Mesmo na sua época havia muita gente já que assim não pensava.

As pessoas são sem dúvida descritas pelo seu caracter, pelas suas maneiras, pela sua apresentação física, mas estas, em geral, reflectem uma outra informação, mais relevante, que sobre elas sempre é dada – o valor do seu rendimento anual em libras.

Sintomática é a dicotomia cidade – campo presente na narrativa, em que o mundo rural surge como sinónimo de quietude e virtude e a cidade como repositório do perigo e do vício.

Por não ter encontrado imagem da capa do livro da colecção dos Clássicos da Europa-America que li opto por colocar a imagem de um retracto da autora.

quarta-feira, 18 de março de 2009


A vida de sacrifício, esforço e audácia de uma Mãe para dar um futuro melhor aos seus filhos e a amargura e a revolta que a invadem quando os seus projectos se desmoronam como a barragem que ergueu contra o Pacífico. Um diamante acalenta uma nova e derradeira esperança, que se desfaz com a bem intencionada mas de novo desastrosa utilização dos proventos da sua venda. A emancipação dos filhos dita uma morte prematura.

Uma história triste e dura passada na Indochina francesa dos tempos coloniais.

domingo, 8 de março de 2009

As cinco pessoas que encontramos no céu


Cinco pessoas que explicam a um homem simples o sentido da sua Vida. O autor defende que todos estamos unidos na grande teia da existência e que tudo o que fazemos tem impacto directo noutras pessoas e por essa via repercussões indirectas infindas. Na linha de autores como Paulo Coelho e James Redfield.

quinta-feira, 5 de março de 2009

O Regresso da Economia da Depressão e a crise actual


Poderia chamar-se Crónica de uma crise anunciada, este interessante livro de Paul Krugman, o justo laureado com o Prémio Nobel da Economia em 2008.

O autor argumenta que as crises do México, Argentina, Japão e Rússia foram sérios pronuncios a que as autoridades políticas e económicas norte-americanas não deram a devida importância, inebriados que estavam com a “exuberância irracional” das bolhas especulativas e pela ideologia neo-liberal. Foram, digamos, ensaios antes da grande estreia da crise actual.

Paul Krugman vê a causa da crise no desabar do sistema bancário paralelo e não regulado, mas totalmente legal, designado na terminologia anglo-saxónica como shadow-banking, que se foi desenvolvendo perante a indiferença em torno da banca de investimento, dos hedge funds e de outras entidades não reguladas. Explica que a dimensão deste sector era já próxima da do sector regulado.

A causa maior da Grande Depressão do final da década de 20 do século passado, foi a falência do sistema bancário, então fracamente regulado perante a passividade das autoridades, uma lição que foi aparentemente esquecida há medida que se instalava o mito de que as depressões seriam fenómenos do passado e de que as autoridades dispõem dos meios para as evitar.

Como soluções para a crise propõe que, e cito, “... os decisores políticos a nível mundial precisam fazer duas coisas: fazer com que o crédito volte a fluir e apoiar a despesa.”

A tradução de Alice Rocha, Saul Barata e Alberto Gomes é muito deficiente, sendo algumas passagens completamente ininteligíveis.

Washington Square



Um pai afasta a filha de um mau pretendente provocando consequências nefastas para todos os envolvidos. Um romance de intriga simples e previsível mas que por admiravelmente bem escrito prende o leitor.





domingo, 1 de março de 2009

Filhos da Mãe


Histórias de emigrantes brasileiros em Portugal e de emigrantes portugueses no Brasil. Umas escritas em português de Portugal e outras em português do Brasil.

Fica claro que existem preconceitos graves dos dois lados do oceano. A vontade de os combater é louvável e certamente me encontra como aliado e defensor.

Um projecto interessante mas que para resultar tinha de estar suportado num domínio mais profundo da língua portuguesa.