terça-feira, 31 de agosto de 2010

Os Conjurados


Os Conjurados por Jorge Luís Borges

“A tarde elementar ronda a casa.

A de ontem, a de hoje, a que não passa”


Os Conjurados é uma pequena colecção de poemas e pequenos textos de Jorge Luís Borges unidos sob um tema magno na sua obra: a conjura. Não a conjura política que visa o derrube deste ou daquele governo ou regime, não a conjura criminosa que planeia um roubo ou um assassinato, antes a grande conjura que é a Vida, em todos os acontecimentos estão subtilmente, mas ferreamente, interligados, em que causas e consequências se confundem e se sucedem, em que presente e passado se justificam mutuamente, em que tudo é único, todo e parte, simultâneo, anterior e posterior.

Uma frase: “Tua será também a certeza de que o Tempo se esquece dos ontens, e de que nada é irreparável ou a contrária certeza de que os dias nada podem apagar e de que não há um acto, ou um sonho, que não projecte uma sombra infinita”.

Um livro extraordinário. Como todos os de Jorge Luís Borges.

Voo Nocturno


Voo Nocturno por Antoine de Saint-Exupéry

Um livro que nos mostra como é possível inculcar noutros um sentimento de dever muito para além do que é razoável e leva-los a assumir riscos mortais ao serviço de empresas comerciais. A linguagem poética e a exaltação das proezas dos pilotos quase nos fazem esquecer que se trata de uma simples companhia de transporte aéreo em concorrência com o caminho de ferro. Uma causa pela qual não vale, seguramente, a pena morrer.

Existe um clima de ardor heróico, de exigência, de rigor sem falhas, uma cultura de superação individual do medo e da adversidade que levam os indivíduos a arriscar a própria vida. Para estes pilotos já não se trata da empresa, de simples trabalho, e aí está a perigosa técnica da alienação, mas de se superarem a si mesmos, de enfrentarem vitoriosos o seu medo, de vencerem a noite e os seus perigos.

Na introdução André Gide escreveu: “Estou-lhe particularmente grato por ter esclarecido esta verdade paradoxal, para mim duma importância psicológica considerável: que a felicidade do homem não está na liberdade mas na aceitação de um dever”.

O livro poderia ser uma denúncia de uma técnica psicológica perigosa, Saint-Exupéry preferiu escrevê-lo como uma apologia e uma justificação do líder que consegue o máximo dos seus empregados.

Este lado negro do texto não apaga a escrita brilhante nem as ternas imagens que constrói. Um talento desperdiçado em favor de uma causa muito negativa.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Três contos da ìndia


Três contos da Índia por Rudyard Kipling
Rudyard Kipling deixou páginas admiráveis e o celebrado Livro da Selva, mas também foi um colonialista empedrenido.

Nestes contos a Índia é apresentada no seu pior: o sistema de castas, o vício do ópio, o ódio e a violência entre comunidades religiosas. Realidades duras mas, sem dúvida, amargas e duras para quem as vive, mas que não autorizam as conclusões que Kipling delas retira, nomeadamente que a Índia “Nunca há-de governar-se sozinha” (pp. 53).

O papel dos ingleses nesta colónia é empolado de forma exagerada. “E, todos os anos, o trabalho de conseguir que o país viva em boas condições prossegue. Se consegue algum progresso, todo o crédito é dado aos nativos, enquanto os ingleses recuam e limpam o suor da testa. Mas, se ocorrem falhas, os ingleses dão um passo em frente e ficam com as culpas.” (pp.54).

Pena que esta atitude colonialista manche uma excelente obra literária.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As aventuras do Valente Soldado Svejk

As aventuras do Valente Soldado Svejk de Jaroslaw Hasek

Fragmentos de três textos diferentes todos no estilo sagaz de critica social que caracteriza Jaroslaw Hasek. Algumas historias extraídas das Aventuras do valente soldado Svejk, mas também excertos da História do Partido do Progresso Moderado dentro dos limites da Lei e de O Comissário Vermelho.

Delirante, bem humorado. Um livro divertido.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O americano tranquilo



O americano tranquilo de Graham Green

Um livro que exemplifica magnificamente o ditado popular que nos ensina que de boas intenções e saber livresco está o inferno cheio. Que nos relembra que “vemos, ouvimos e lemos” e que, por muito que tentemos, chega um momento que não podemos mais ignorar e temos de fazer opções, tomar partido, actuar.

Uma passagem fala de Portugal e da sua influência no Vietname colonial. Ei-la: “O Bispo de Phat Diem visitara em tempos passados a Europa e adquirira certa devoção por Nossa Senhora de Fátima que aparecera, segundo crêem os católicos, a um grupo de crianças em Portugal. Quando regressou ao seu país construiu em sua honra uma gruta nos terrenos da catedral, e celebrava o seu dia todos os anos com uma procissão “.

Um livro notável.

sábado, 14 de agosto de 2010

Antigone


Antigone e Les mariés de la Tour Eiffel por Jean Cocteau


Versão da Antigona de Sófocles em linguagem mais simplificada, contemporânea e coloquial, mas sem sopro de inspiração nem de originalidade. Elimina todas as referências à mitologia grega e substitui mesmo Zeus por Júpiter – que segundo o autor é palavra mais fácil de pronunciar em francês. O resultado final é muito mais pobre que o original.

O livro inclui também a peça Les mariés de la tour Eiffel um texto muito interessante de sabor surrealista.


sábado, 7 de agosto de 2010

Le Châtiment


Le Châtiment por Patrick Delperdange, André Taymans e Raphael Schierer


Lefranc, o herói criado por Jacques Martin que faleceu em Janeiro último, continua vivo, activo, a desvendar mistérios e a evitar tragédias.

Agora com o argumento de Patrick Delperdange e os desenhos de André Taymans e Raphael Schierer, que captaram a essência do personagem e fazem aqui um bom álbum de continuação desta série de banda desenhada.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Lord Beresford e a intervenção britânica em Portugal 1807 - 1820





Aspectos e episódios menos conhecidos da vida de Beresford em Portugal. Quem sabe ou lembra que no final do ano de 1807 um frota inglesa comandada pelo Almirante Samuel Hood ocupou a ilha da Madeira.


A ilha foi declarada colónia britânica e os funcionários portugueses obrigados a juramento de fidelidade ao monarca da Grã-bretanha. Beresford foi o Governador nomeado para dirigir a Madeira. Esteve no cargo poucos meses mas introduziu várias reformas.


Interessante a sua opinião sobre a magistratura portuguesa: "na verdade os salários são tão insuficientes para prover às despesas das pessoas que os auferem que a intensão quase parece ser - e seguramente assim é interpretada - levá-las a remunerarem-se de outras formas" (pp. 58).


O livro também nos dá conta da forma como Beresford conduziu a batalha da Albuera contra os franceses e de como o seu conflito com os Regentes levou ao trágico desenlace do caso Gomes Freire de Andrade.Um livro de História bem argumentado e bem assente em documentos da época.