segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O Estrangeiro

O Estrangeiro de Albert Camus

 

A Natureza tem horror ao vazio e a sociedade à indiferença. Estes vácuos têm de ser preenchidos. De forma natural ou artificial.

 

O personagem central deste romance, Meursaul, mostra uma espantosa indiferença aos outros, se bem que por vezes racionalmente explicada, uma falta de sentimentos fortes, deixando-se levar pelos acontecimentos e pelas suas impressões sensoriais momentâneas. Um caminho que se revela dramaticamente perigoso.

 

O drama passado em Argel tem um forte contexto colonial e mostra duas comunidades separadas: a dos colonos franceses e a dos colonizados árabes. Como o salientou Edward Said as personagens árabes não têm nome e constituem apenas um pano de fundo para as ações dos europeus que, eles sim têm nome e personalidade.

 

No livro Meursaul perde-se mais por não ter chorado no funeral da mãe do que pela ação violenta que cometeu, num julgamento em que mais do que as ações concretas se julga o suposto carácter do réu.

 

Albert Camus (1913-1960), escritor francês, venceu o Prémio Nobel de 1957. Morre num acidente de viação quando o carro em que seguia, mas não conduzia, se despistou.


 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Histórias Maravilhosas do Oriente


Histórias Maravilhosas do Oriente por Pearl S. Buck

 

Uma coletânea de catorze contos Orientais. Aqui o conceito de oriental é amplo indo da Rússia e da Turquia europeias aos confins da China e da Índia chegando ao Japão.

 

Histórias de encantar, com fadas, duendes e seres extraordinários, em que o bem sempre triunfa e o mal é irremediavelmente derrotado e castigado. Nestes contos populares “o pobre enriquece, porque acha um tesouro; a madrasta perversa morre; a irmã mais velha invejosa não casa nunca com o príncipe; o casal idoso e sem filhos encontra um menino perdido… E sobretudo, ao belo jovem depara-se sempre a sua princesa e o amor eterno”.

 

Contos curto que demostram uma brilhante concisão, variando no estilo com a nacionalidade do conto, provando uma incomparável versatilidade na escrita.

 

A gralha encantada escondia uma jovem donzela, Ming-Y namorava o espirito de uma jovem defunta, O príncipe Veado retomou a sua condição, Príncipe Ahmed envereda por uma saga fantástica de tapetes voadores, óculos mágicos e maçãs milagrosas, O Rei Kajota faz uma promessa que não quis cumprir, e muitas outras histórias maravilhosas.

 

Pearl S. Buck (1892-1973), americana, viveu grande parte da sua vida na China onde adotou o nome de Sai Zhenzhu. Recebeu o Prémio Nobel de 1938.

 

domingo, 11 de outubro de 2020

Assassínio na Catedral

Assassínio na Catedral por Thomas S. Eliot

 

Quatro cavaleiros entram na Catedral de Cantuária e de espadas em punho matam o arcebispo Thomas Becket a sangue frio. Corre o reinado de Henrique I e o ano de 1170.

 

Esta peça, em dois actos intervalados de um breve Interlúdio, recorre à forma clássica do Coro que se expressa eloquentemente em verso e que de fora comenta os acontecimentos dando voz à multidão.

 

Na primeira parte o arcebispo enfrenta os quatro tentadores que lhe oferecem o poder temporal, as riquezas e pompas terrenas e mesmo a glória do martírio. A todos afasta com energia. O Interlúdio é uma homilia proferida por Becket no dia Natal. A segunda parte relata o enfrentamento entre os quatro assassinos e a sua vítima, antes e depois do bárbaro ato.

 

Extraordinário poeta T.S. Eliot deixa-nos nesta peça versos de grande beleza e de grande profundidade – “Quem és tu que me tentas com os meus desejos”, “A ambição chega ao findar das forças juvenis / Quando sabemos não mais tudo possível”, “ Jazi no fundo do mar a respirar como uma anémona, / comendo com o ingurgitar das esponjas. Jazi por / sobre a terra e critiquei o verme.”

 

T.S. Eliot (1888-1965), nascido americano mas tendo mais tarde renunciado à sua nacionalidade originária para se tornar inglês, é considerado o maior poeta de língua inglesa do século XX. Recebeu o Prémio Nobel em 1948.