sexta-feira, 31 de agosto de 2012

As Ciências do Artificial


As Ciências do Artificial por Herbert A. Simon


Herbert Simon foi um dos maiores e mais importantes pensadores do século XX. Doutorado em Ciência Política, recebeu o Prémio Nobel da Economia em 1978, foi um dos pioneiros das neurociências, um dos primeiros investigadores na área da inteligência artificial, um dos criadores das ciências computacionais e também um psicólogo dos mais relevantes.

Argumentou que o ser humano não é racional, no sentido de procurar maximizar a utilização dos recursos na obtenção de um resultado, mas antes possui uma “racionalidade limitada” (bounded rationality), que procura uma solução que satisfaça o resultado desejado (o ótimo é inimigo do bom) e não a que o maximiza. Para chegar a soluções satisfatórias seguimos modelos de pensamento heurísticos que muitas vezes contêm apenas a experiência acumulada pelo individuo/especialista.

O conceito de racionalidade limitada tem implicações profundas quer nos fundamentos da economia, quer nas de outras ciências sociais, nomeadamente na gestão e na psicologia.

Neste pequeno livro retoma este tema para nos conduzir à exploração das nossas capacidades cognitivas e propor a criação de novas ciências, as ciências do artificial.

Um sistema artificial é, grosso modo, aquele que se adapta ao exterior. O sistema artificial pressupõe a existência de um ambiente interno e de um ambiente externo ligados por um interface.

Normalmente o interior é simples mas o exterior é muito complexo. Um exemplo: a analisar o trajeto de formigas, nunca vemos muitas linhas retas, mas sim itinerários muito erráticos e complexos. No entanto essa complexidade está no meio ambiente, a formiga segue um modelo muito simples: vai a direito, se encontra um obstáculo procura passar por cima, se não consegue procura contorna-lo. Com este modelo conseguimos replicar o aparentemente aleatório percurso da formiga. A complexidade está no exterior e não no interior. No meio não na formiga.

Herbert Simon apresenta neste livros vários tópicos, que inicialmente surgem como aparentemente desconexos mas que depois encaixam de forma perfeita.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Doutor Glas

O Doutor Glas de Hjalmar Soderberg

O Doutor Glas é um jovem médico, sóbrio e sereno, com ideias firmes e bem estruturadas, com consultório na cidade e uma reputação impoluta na sociedade. Por detrás desta imagem, mas totalmente consistente com esta, é um frio assassino.

Seguimos em direto a escrita do seu diário nos breves dias que antecedem o assassinato a sangue frio e alguns dias que o seguem. Aí vemos como Glas reflete e decide sobre o ato que se prepara para cometar e como depois do facto reage e se adapta e reconcilia interiormente com a sua nova faceta de homicida.

Glas é uma alma sensível e melancólica. Apaixonado pelo Belo idealizado e intelectualizado, criado pela literatura, sublimado pela música, mas irreal, atraído pelo amor espiritual e platónico, abomina o carnal, o feio, o sujo, o doente, o decadente, coisas que associa ao sórdido, que desfeiam o mundo e que devem ser expurgadas e eliminadas. 

O médico é a favor do aborto, que contudo não pratica para não ir contra as convenções, da eutanásia que vê como uma forma de retirar do mundo dos vivos aqueles que estão doentes, e, pior ainda, a favor da eugenia praticada sobre pessoas com malformações ou atrasos mentais por razões materiais – é preferível sustentar um jovem e saudável operário do que uma criança deficiente escreve.

Naturalmente alguém com esta estrutura mental é um assassino em potência. Concretizar o ato apenas uma questão de oportunidade e circunstancia.

Um livro terrível primeiro pela apologia que faz de crimes terríveis como a eugenia, a eutanásia e o assassinato e por outro por misturar estes crimes com atos médicos legítimos como o aborto. Mas apesar de tudo uma obra que nos ajuda a perceber como um amor pelo Belo pode gerar um monstro.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Sobre Ética e Economia

Sobre Ética e Economia de Amartya Sen


Este é um livro indispensável aos milhares de economistas formados na errada assunção de que o homem económico é um ser racional que procura maximizar a sua utilidade.

Em contraponto Sem, que ganhou o prémio Nobel da Economia de 1998, recorda-nos que, na verdade, não somos, como decisores totalmente racionais e que por outro que os nossos objetivos não se limitam à maximização do nosso bem-estar pessoal. Assim sendo cai pela base grande parte da economia clássica e neoclássica, que tantas vezes tem sido a base para as políticas neoliberais.

Sem recorda que mesmo Adam Smith tido como o fundador da visão económica mais liberal defendeu que a ação económica deve ser regida por um lado por sólidas leis morais e por outro por uma regulamentação apertada.

Particularmente criticada é a ética utilitarista, quer pela dificuldade na comparação interpessoal, quer pela dificuldade da sua aferição e agregação. Sen é particularmente crítico da chamada regra de eficiência de Pareto, que estatui que a uma dada situação económica é ótima se não for possível aumentar a utilidade de uma pessoa sem ser à custa da diminuição da utilidade de outra. Sem recorda que, muitas vezes, é preferível aumentar a utilidade de uma pessoa (pobre, doente, etc.), ou de um conjunto de pessoas (desempregados, minoria étnica, etc.) mesmo que isso seja feito à custa da diminuição da utilidade de outras pessoas (privilegiadas, ricas, etc.).

Um livro bem argumentado mas de resvalando a espaços para um estilo denso e excessivamente académico. 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

The Lazarus Vendetta

The Lazarus Vendetta por Patrick Larkin


Um livro de ação e suspense, em que num primeiro instante nada do que aprece é e nada do que é transparece, mas que depois se desvenda num desenlace pífio e sem grande surpresa.

Um aspeto interessante reside no facto de a localização do quartel-general dos terroristas se situar nos Açores, na ilha de Santa Maria, e de os heróis descobrirem a sede e, por esta, a identidade dos vilões através de um dos membros da sinistra organização, um português chamado Abrantes.

Apresentado como um livro de Robert Ludlum o criador de grandes êxitos de vendas, muitos deles, como as várias aventuras de Jason Bourne, adotados para televisão ou cinema, o livro é na realidade de Patrick Larkin. Na verdade Ludlum criou o conceito de uma série que teria por base o herói Smith agente de uma agência de informações americana super secreta, mas todos os livros da série forma escritos, muitos já depois da sua morte em 2001, por outros autores.

Este livro é um campeão de vendas. Não está traduzido em português.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Carteiro de Pablo Neruda

O Carteiro de Pablo Neruda por  Antonio Skármeta


A trama corre fluída e límpida ao longo da vida de Mário, o jovem carteiro chileno que tinha um único e afamado cliente, Pablo Neruda, de quem se torna amigo.

O amor, a amizade, a lealdade, a esperança, a alegria, mas também a falsidade, a traição e a brutalidade surgem em estado puro. A história de um despertar feliz e doce mas que termina em desgraça.

No Chile de Pinochet milhares de pessoas desapareceram para sempre assassinadas pela ditadura. 

Um livro indispensável.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

The Crisis of Islam


The Crisis of Islam por Bernard Lewis


A visão norte-americana do mundo muçulmano elaborada, num estilo erudito mas atraente e  acessível , por um judeu nascido em Inglaterra.

O Islão descrito como uma visão do mundo totalitária, em que o poder religioso e o poder político estão intimamente unidos, e em que os lideres políticos foram, durante muito tempo, os descendentes do Profeta, ele próprio um líder simultâneamente político e religioso. 

Nesta perspectiva do Islão o conceito de jihad é dado como elemento central e interpretado como luta, no sentido bélico, contra os infiéis, que  todo o bom muçulmano é chamado a travar.  

Dois temas muito interessantes são brevemente referidos mas infelizmente pouco aprofundados. A História vista pelos muçulmanos é, segundo o autor, num primeiro plano religiosa e só num segundo nível se especializa por nações ou estados, ao contrário da História ocidental que é essencialmente nacional e só no interior deste primeiro nível é que estuda a religião.

O segundo tem a ver com o artificialismo das fronteiras desenhadas pelos colonizadores europeus que dividiram as terras conquistadas pela força ao Império Otomano. “Siria, Palestina e Líbia são nomes da antiguidade clássica que não eram usados na região há mais de mil anos antes de serem ressuscitados e impostos – com novas e diferentes fronteiras – pelos imperialistas europeus no século XX; Argélia e Tunísia não existiam sequer como palavras em árabe ...”.