sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Mau tempo no canal



Mau tempo no Canal de Vitorino Nemésio

Em face da cidade da Horta na Ilha do Faial nas Açores ergue-se do mar a majestosa ilha do Pico com a sua montanha a terceira mais alta do vasto Oceano Atlântico.




Uma pequena sociedade escalpelizada, as suas atividades agrícolas e pesqueiras descritas com minúcia e enlevo, as relações entre as classes e grupos sociais finamente dissecadas, as paisagens rurais e urbanas apresentadas com rigor, o tempo e as suas mudanças relatados com exatidão de observador atmosférico, através dos amores de Margarida a filha mais velha de um casal da classe mais alta que junta a fortuna dos ingleses aos pergaminhos aristocratas do ramo português.

Surge, com grande nitidez, aos nossos olhos uma sociedade fechada rigidamente estratificada, ferreamente conservadora, assente numa forte concentração de riqueza no topo e numa pobreza franciscana generalizada na restante população, atrasada economicamente, dizimada por doenças medievais transmitidas por pulgas e ratos e usando ainda técnicas produtivas obsoletas.

Margarida procura o seu futuro que se antevê difícil pelo desgoverno do pai que arruína paulatinamente a fortuna do sogro. E no decurso desta fase de crescimento humano e moral molda-se como uma figura de típica aristocrata feminina assumindo sem constrangimentos ou remorsos o casamento de conveniência que se vai tornando inevitável.

domingo, 25 de setembro de 2016

Reencontro



Reunion de Fred Uhlman

Uma forte e improvável amizade entre dois jovens da elite Alemã dos anos 30 do século XX nasce no Liceu Karl Alexander em Estugarda que ambos frequentam cimentada por gostos comuns e uma busca sincera da direção a tomar para a vida que se abre à sua frente.

A forma como as diferenças sociais, a relação com os pais, as expetativas familiares, os colegas, os acontecimentos mundanos e as leituras vão moldado os dois jovens, a sua visão do mundo e a sua amizade.  

A propagação de uma ideologia racista e a ascensão de Hitler ao poder vão inexoravelmente afastá-los encaminhando um, o judeu, para o exílio e o outro, o aristocrata, para a guerra.

De forma subtil o autor mostra-nos que o argumento contra os judeus se situava no plano étnico e não no religioso, já que o judeu se declara agnóstico e a sua família só imprecisamente se pode considerar judia no sentido religioso do termo.

O esforço de conciliação do aristocrata dividido entre a admiração pelo Fuhrer e a lealdade para com o seu amigo sugerindo a existência de bons e maus judeus, faz pairar a hipótese que Uhlman poderia subscrever essa tese.

De carácter levemente biográfico o texto mostra-nos uma Alemanha tranquila, culturalmente vibrante, economicamente próspera que, na verdade, apenas existia para as classes mais altas da população. Por aqueles anos o desemprego, a fome, a desarticulação económica e a erosão da coesão social, criaram o caldo social em que cresceu o nazismo.

Não está disponível em Portugal embora existam edições brasileiras.