Mau
tempo no Canal de Vitorino Nemésio
Em
face da cidade da Horta na Ilha do Faial nas Açores ergue-se do mar a majestosa
ilha do Pico com a sua montanha a terceira mais alta do vasto Oceano Atlântico.
Uma pequena sociedade escalpelizada, as suas
atividades agrícolas e pesqueiras descritas com minúcia e enlevo, as relações
entre as classes e grupos sociais finamente dissecadas, as paisagens rurais e
urbanas apresentadas com rigor, o tempo e as suas mudanças relatados com
exatidão de observador atmosférico, através dos amores de Margarida a filha
mais velha de um casal da classe mais alta que junta a fortuna dos ingleses aos
pergaminhos aristocratas do ramo português.
Surge, com grande nitidez, aos nossos olhos
uma sociedade fechada rigidamente estratificada, ferreamente conservadora,
assente numa forte concentração de riqueza no topo e numa pobreza franciscana
generalizada na restante população, atrasada economicamente, dizimada por
doenças medievais transmitidas por pulgas e ratos e usando ainda técnicas
produtivas obsoletas.
Margarida procura o seu futuro que se antevê
difícil pelo desgoverno do pai que arruína paulatinamente a fortuna do sogro. E
no decurso desta fase de crescimento humano e moral molda-se como uma figura de
típica aristocrata feminina assumindo sem constrangimentos ou remorsos o
casamento de conveniência que se vai tornando inevitável.