sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Mau tempo no canal



Mau tempo no Canal de Vitorino Nemésio

Em face da cidade da Horta na Ilha do Faial nas Açores ergue-se do mar a majestosa ilha do Pico com a sua montanha a terceira mais alta do vasto Oceano Atlântico.




Uma pequena sociedade escalpelizada, as suas atividades agrícolas e pesqueiras descritas com minúcia e enlevo, as relações entre as classes e grupos sociais finamente dissecadas, as paisagens rurais e urbanas apresentadas com rigor, o tempo e as suas mudanças relatados com exatidão de observador atmosférico, através dos amores de Margarida a filha mais velha de um casal da classe mais alta que junta a fortuna dos ingleses aos pergaminhos aristocratas do ramo português.

Surge, com grande nitidez, aos nossos olhos uma sociedade fechada rigidamente estratificada, ferreamente conservadora, assente numa forte concentração de riqueza no topo e numa pobreza franciscana generalizada na restante população, atrasada economicamente, dizimada por doenças medievais transmitidas por pulgas e ratos e usando ainda técnicas produtivas obsoletas.

Margarida procura o seu futuro que se antevê difícil pelo desgoverno do pai que arruína paulatinamente a fortuna do sogro. E no decurso desta fase de crescimento humano e moral molda-se como uma figura de típica aristocrata feminina assumindo sem constrangimentos ou remorsos o casamento de conveniência que se vai tornando inevitável.

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