quarta-feira, 27 de novembro de 2013

As aventuras de Augie March

As Aventuras de Augie March por Saul Bellow


Augie nasce em Chicago, numa família judia desestruturada, pai ausente, mãe limitada, inquilina que assume papel de avô, e pobre. Desde cedo começa a trabalhar, o que faz em simultâneo com estudos que vai mantendo e de que acabará por desistir.

A sua relação com os irmãos, um atrasado mental outro bem sucedido empresário, a sua relação com a mãe que cega, a sua relação com as mulheres, com os amigos, mas acima de tudo com o seu tempo.

Multiplica experiências, num momento vive bem como empregado comercial apadrinhado pelos patrões para no momento seguinte acompanhar um contrabandista, escapar da Polícia mas acabar por ser preso por vagabundagem. Renasce como ladrão de livros envolve-se no movimento sindical mas abandona tudo para seguir uma mulher rica que vai para o México treinar águias e caçar cobras.

De novo só aproxima-se do trotskismo e chega a planear ser guarda costa do célebre revolucionário no seu exílio mexicano. Volta aos Estados Unidos, sobrevive a grande depressão, alista-se para a segunda guerra, casa-se, naufraga no Atlântico mas é salvo por um navio improvável e finalmente instala-se na Europa do pós guerra.

Augie é de facto um naufrago a boiar na sua época, um tempo difícil que cobre os anos 20 do século XX, a Grande Depressão, a II Guerra e os primeiros anos do pós Guerra, esbracejando para encontrar o seu caminho e não aquele para o qual os outros o pretendem, com palavras doces, entusiásticas, sinceras mas inconscientemente egoístas, recrutar, A sua autenticidade é verdadeira, a sua procura é esforçada.  Um homem abrindo caminho em luta contra as suas circunstâncias.

Através dos olhos de Augie, Saul Bellow descreve-nos, com erudição e detalhe, a sociedade do seu tempo, vistas com uma grande angular que tudo capta. A vida luxuosa e excêntrica dos abastados proprietários e a vida difícil das jovens empregadas da limpeza que procuram organizar-se para reivindicar alguns cêntimos mais de ordenado. O jovem cientista brilhante físico que para seguir os seus estudos é obrigado a furtar nas livrarias técnicas, o invalido que com força de vontade gere os seus negócios lícitos e ilícitos,.A América, o México e a Europa. O aborto e o casamento. A cidade e o campo. Terra firme e o Mar. A vida e a morte.

O mundo como um grande caleidoscópio que a cada movimento se transfigura. A vida nas suas múltiplas pulsões simultâneas e,aparentemente, independentes.


domingo, 10 de novembro de 2013

Astérix entre os Pictos

Asterix entre os Pictos por Didier Conrad e Jean-Yves Ferri 


Os pictos eram um povo que habitava o que hoje é a Escócia. Pintavam o corpo e daí o nome que os romanos de lhes deram – os homens pintados ou pictos. O que chamavam a si próprios não se sabe.

Primeiro álbum em que nenhum dos criadores, René Goscinny e Albert Uderzo, intervém, sendo da total responsabilidade da dupla Didier Conrad (desenhador) e Jean-Yves Ferri (argumentista), Astérix e os Pictos surge na de outras aventuras em que os destemidos gauleses se cruzam com outros povos da sua época – de que Astérix e Cleópatra seja o mais famoso e mais bem conseguido.

E se os desenhos se mantêm fieis aos originais e o argumento não deixa de ser consistente, a verdade é que se perdeu a veia de observação e critica social que caracterizava os heróis gauleses e fazia a delícia dos leitores mais velhos e mais intelectualizados.

Vergonhosa é a tradução dos nomes do bardo (Assurancetourix) e do chefe da aldeia (Abraracourcix) na versão portuguesa, quebrando uma longa tradição de manutenção dos nomes originais. Não vemos qual o ganho desta opção.

Por nós teríamos preferido que Uderzo tivesse mantido a sua intenção original de que, Astérix acabasse quando ele se reformasse, uma vez que Goscinny já morreu. No entanto os interesses comerciais falam mais alto e Astérix, sem a frescura de outros tempos, continua.