quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Jesus Cristo bebia cerveja



Jesus Cristo bebia cerveja por Afonso Cruz

Matar o corpo para que possa viver a ideia, eliminar o material para que lhe sobreviva o imaterial, o espiritual. Como se a morte pudesse substituir o temporário pelo eterno, o corpo pela alma, o real pela memória, o transitório pelo perpétuo.

Pode o velho amar o novo? Pode o novo amar o velho sem que tal pareça contra-natura? Sem que o desenlace seja a morte? Até que ponto uma ilusão pode funcionar como vislumbre de felicidade?

Um livro que, a espaços, nos surpreende com imagens certeiras de tons surrealistas mas que no seu conjunto se nos afigura ainda algo inconsistente.

Afonso Cruz surge, muito justamente, como a maior promessa da nova Literatura portuguesa mas não foi ainda com esta obra que se afirmou definitivamente.

Quanto à questão de saber se Jesus Cristo bebia cerveja o certo é que no seu tempo a cerveja (bebidas obtidas da fermentação de cereais) e o vinho estavam disponíveis na Palestina. Sabemos por exemplo que São João Baptista se recusava a beber vinho, mas tudo indica que Jesus o bebia o que, obviamente, não obsta a que também bebesse cerveja.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Pense como um Freak

Pense como um Freak de Steven D. Levitt, Stephen J. Dubner


Capitalizando no bem merecido sucesso das suas publicações anteriores nomeadamente de Freakonomics, os autores apresentam-nos agora com um texto indigente pejado de lugares comuns e de exemplos gastos (e gástricos) sem a centelha de pensamento acutilante que surpreendia nos anteriores volumes.

Aproximando-se perigosamente dos livros de auto-ajuda este livro dá-nos uma receita muito simplista de como pensar com clareza.

 Esperávamos, sem dúvida, mais destes dois autores. Uma total desilusão.
 


Desgraça



Desgraça por J.M. Coetzee


Um livro subtilmente racista sobre a pretensa humilhação dos brancos sul-africanos às mãos dos africanos depois do fim do regime de segregação racial.

Na primeira parte do livro o leitor encontra um orgulhoso professor universitário branco sul-africano mulherengo que seduz uma aluna é exposto e acaba por ter de se demitir das suas funções.

Desempregado dirige-se a casa da filha que é dona de uma pequena quinta no interior onde cultiva flores e alguns géneros alimentares que depois vende numa banca numa pequena cidade próxima. As terras à volta têm vindo a ser adquiridas por africanos que têm vindo gradualmente a substituir os agricultores brancos.

Lucy acaba por ser violada por três assaltantes e a sofrer uma grande pressão para vender as suas terras. Resiste. E acaba por aceitar, apesar de ser lésbica, tornar-se a terceira mulher no harém do seu vizinho na condição deste a proteger e perfilhar o filho que irá nascer fruto da violação.

Humilhado e envelhecido o professor retira-se definitivamente para o interior onde se dedica a ajudar a abater cães e a levar as respectivas carcaças para o incinerador local.

Uma desgraça. De faca e alguidar. Em que os africanos são retratados como violadores, ladrões e egoístas. Apesar de tudo J.M. Coetzee foi Prémio Nobel da Literatura.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Cláudio e Constantino

Cláudio e Constantino por Luísa Costa Gomes

Um livro que causa perplexidade. Como é possível uma autora consagrada, embora de segunda linha, escrever um livro como este e apresentá-lo como literatura?

Cláudio e Constantino pode dividir-se em duas partes, uma primeira que mais não é que a simples, porque não acompanhada de qualquer reflexão que lhe pudesse acrescentar substância ou profundidade, reprodução de paradoxos e problemas de lógica formal que encontramos em qualquer vulgata sobre o tema dirigido ao grande público e uma segunda que nos conta as aventuras de Constantino durante a viagem que empreende. Esta segunda parte é ainda mais indigente, sem pingo de imaginação, sem centelha de especulação que lhe acrescente interesse ou brilho. O final é o espelho de todo o texto, um desastre de uma pobreza completa.

Um bom exemplo de que escrever bem, ter uma prosa escorreita e bem alinhada, não chega para ser um bom escritor. É que apesar de tudo a forma e o conteúdo não podem ser separados.