quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Memórias de um Escravo Americano

Memórias de um escravo americano

 

De uma forma simples, direta, rigorosa mas comovente Douglas relata a sua vida de pessoa escravizada durante os primeiros 27 anos da sua vida, desde o dia em que nasceu até à altura em que fugiu para o Norte, rumo a Nova Iorque. Uma vida de trabalho duro, castigos corporais, chicotadas frequentes, separação da mãe e de outros familiares. Uma luta contra a ignorância e a injustiça.

 

Pelo próprio esforço aprendeu a ler e a escrever, que a educação por mais primária que fosse estava vedada às pessoas escravizadas, formou-se como calafate, trabalhava nos estaleiros navais, mas tudo o que ganhava era entregue ao esclavagista seu dono.

 

Douglass não era o seu nome original, mas o apelido que adotou no Norte para conseguir escapar aos caçadores de pessoas escravizadas fugidas, que os prendiam e entregavam aos esclavagistas.

 

Sobre a religião cristã e a escravatura escreve ”O homem que empunha o chicote manchado de sangue durante a semana sobe ao púlpito ao domingo e autoproclama-se sacerdote do Jesus simples e humilde. O homem que rouba os meus ganhos ao fim de cada semana encontra-me como pastor ao domingo de manhã para me mostrar o caminho da vida e da salvação. Aquele que vende a minha irmã para o mester da prostituição, apresenta-se como o defensor da pureza. Aquele que proclama como obrigação religiosa a leitura da Bíblia nega-me o direito de ler o nome do Deus que me criou”. De facto a hipocrisia reinava entre o clero esclavagista.

 

Após o fim da guerra civil Douglass teve uma carreira como US Marshal em Washington e mais tarde Embaixador e Cônsul Geral dos Estados Unidos no Haiti. Foi sempre um abolicionista dedicado.

 

Um livro de leitura obrigatória.


 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Os Beatles e a Censura em Portugal


 

Os Beatles e a Censura em Portugal

 

Os Beatles participaram, enquanto conjunto, em quatro filmes produzidos entre os meados e os finais dos anos 60 – o primeiro A Hard Day’s Night em 1964 e o último Let it Be de 1970, pelo meio ficaram Help e Yellow Submarine.

 

Por esses anos Portugal vivia sob a ditadura de Salazar/Caetano que com as suas instituições fascistas, a polícia política e a censura, continuava a oprimir os portugueses, cortando-os das correntes músicas e estéticas do resto do mundo, que eram vistas como perigosas para um regime envolvido numa sangrenta guerra colonial.

 

Todos os filmes dos Beatles, apesar de não terem alusões políticas ou incitamentos à revolução social, foram obrigados a passar pelo crivo da censura prévia, alguns foram cortados, outros estiveram para ser proibidos, todos analisados ao pormenor pelos coronéis de lápis azul.

 

Um livro muito bem documentado, profusamente ilustrado e contado no ritmo e no tom perfeitos. Fruto de uma aturada pesquisa nos arquivos da Torre do Tombo e numa variedade de outras fontes, explica-nos passo a passo a saga destes filmes icónicos nas malhas da Inspeção dos Espetáculos.

 

Longe do comentário ideológico, das frases feitas, do dito fácil, não há uma linha no livro que não seja apoiada na correspondência oficial, nos catálogos editados na época, em fontes credíveis.

 

Recomendamos vivamente.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Le Cri du Moloch

Le Cri du Moloch

 

É sempre com expectativa que esperamos a saída de novo álbum das aventuras de Blake e Mortimer. Este ano a edição em francês já está disponível e em breve a tradução portuguesa estará nas livrarias.

 

Série originalmente criada por Edgar Pierre Jacobs nos anos 50 do século passado, depois da sua morte tem sido imaginada e desenhada por uma profusão de autores. O Le Cri du Moloch conta com o texto de Jean Dufaux e o desenho de Christian Cailleaux e de Étienne Schréder.

 

Último capítulo de uma saga com raízes no Mistério da Grande Pirâmide e que tem como predecessor direto A Onda Septimus este livro coloca os nossos heróis do mesmo lado do vilão Olrik no combate a uma ameaça extraterrestre.

 

Infelizmente estamos na presença de um dos piores álbuns de Blake e Mortimer, quer ao nível da trama, pouco imaginativa e excessivamente previsível, quer dos desenhos.

 

Um grande desapontamento.