Why Save the Bankers? por Thomas Piketty
Thomas
Piketty é um economista francês célebre pelos seus trabalhos sobre os
mecanismos que levam à concentração da riqueza, potencial Prémio Nobel, observador
atento da realidade social europeia.
Este
livro recolhe um conjunto selecionado pelo autor de artigos publicados na
imprensa francesa sobre a crise económica, nomeadamente a crise provocada pelo
Euro.
Reconhecendo
que o Euro implica serias limitações aos países com economias menos desenvolvidas,
Piketty defende a mutualização das dívidas superiores a 60% do PIB, isto é a
solução conhecida pelas Eurobonds, divida a emitir pela União Europeia e que
permitiria transferir para a EU o excesso de dívida de países como Portugal, a
Grécia, a França, a Irlanda e outros.
Mas é
evidente que para que fosse a EU a assumir o pagamento os países não poderiam
ser livres de emitir a dívida que quisessem. Por isso Piketty propõe a
constituição de um Parlamento do Euro constituído pelos membros da Comissão de Finanças
dos Parlamentos dos países dos Euro. Este novo órgão atribuiria limites máximos
de dívida a emitir por cada país.
Por
outro lado para poder pagar os juros e o reembolso da divida europeia a União
Europeia necessitaria de aumentar as suas receitas. Piketty propões para esse
efeito uma taxa de 10% sobre os lucros das empresas.
Uma
proposta federalista que levaria a uma integração cada vez maior e a uma perca
de independência e de soberania de Portugal e à criação de um pequeno diretório
(França-Alemanha) ainda mais capaz de impor as suas políticas. Se aplicado
produziria ainda mais dificuldades à economia portuguesa e à aplicação de doses
maiores de austeridade e de desmantelamento mais completo dos serviços sociais
(pensões, saúde, educação).
A larga
maioria dos artigos expõem e defendem esta teoria, mas também podemos aqui
encontrar textos versando outras temáticas. Muito interessante é o artigo sobre
as indemnizações aos africanos pelos crimes cometidos pelos europeus ao nível
da escravidão a que submeteram milhões de pessoas. É importante saber que
quando a França e a Inglaterra terminaram com o crime do comércio de pessoas,
os proprietários de pessoas escravizadas receberam enormes indemnizações que
estão ainda na base de muitas grandes fortunas atuais.
Em
Portugal este tema ainda não se discute mas é cada vez mais urgente coloca-lo
em cima da mesa, quando sabemos que os afro-portugueses não têm no nosso país
as mesmas oportunidades reais que os restantes cidadãos.
Outro
tema é a da liberdade de imprensa. Partindo do caso do Liberation em França em
que o novo dono, Bruno Ledoux, impôs uma linha editorial coartando a liberdade
de imprensa, Piketty propõe uma reflexão sobre novas formas de governo das
empresas de comunicação social que restrinjam a interferência dos acionistas
nos conteúdos editoriais.
Finalmente
Piketty também explica como os muito ricos conseguem ir concentrando a riqueza
nas suas mãos. È que as taxas de lucro que auferem são muito superiores à taxa
de crescimento da economia. Sempre que tal acontece a riqueza vai-se
concentrando nos que têm mais taxas de lucro.
Um
livro interessante que vale a leitura mas cujo cerne é uma proposta que não
interessa a Portugal nem aos portugueses: a emissão de eurobonds em
substituição da dívida pública contra a imposição de um imposto europeu sobre
as empresas e contra a perda de soberania financeira.