terça-feira, 24 de maio de 2022

A Trilogia de Nova Iorque

A Trilogia de Nova Iorque

 

Um livro simples mas complexo, de múltiplas camadas geológicas, de histórias independentes mas interligadas, de múltiplos temas em que a desintegração da identidade surge com proeminência a par do dilema do escritor, da aleatoriedade e fragmentação da vida, e de numerosos outros assuntos tratados sempre com profundidade e erudição.

 

Na crosta exterior três histórias com detetives ou com personagens que lhes vestem a pele, mas no manto a trama complica-se e começam a surgir complicações, interrogações, problemas inesperados para finalmente no núcleo enfrentarmos os fantasmas da nossa própria identidade e da sua fragilidade à beira da dissolução ou da metamorfose. Mudamos, nem sempre para melhor, o que o pode despoletar e como o fazer e com que consciência dessa transformação?

 

Auster conta-nos em meia página a história de Lorenzo da Ponte, um homem com múltiplas e sucessivas vidas, sempre em processo de se reinventar e que numa das suas fases mais interessantes foi o libretista de óperas de Mozart como Cosi Fan Tute, Don Giovani e Bodas de Fígaro. Judeu da Republica de Veneza por nascimento, tornou-se católico e mudou de nome, estudou no seminário, foi ordenado padre, foi professor de Literatura, mudou-se para a Áustria onde foi libretista, rumou depois a Inglaterra onde escreveu para o Teatro Real, contraiu dívidas, declarou falência e fugiu para os Estados Unidos com a companheira e seus quatro filhos, estabeleceu-se em Nova Iorque onde geriu uma mercearia, depois transferiu-se para a Califórnia e foi professor de italiano na Universidade de Colúmbia. A identidade sempre em transmutação, a vida fragmentada em etapas sucessivas, quase independentes. Lorenzo da Ponte é a chave para este livro.

 

Paul Auster (n. 1947), escritor americano, vencedor de inúmeros prémios, é um sério candidato a um Nobel.

 


 

sábado, 14 de maio de 2022

Quinas e Castelos


 

Quinas e Castelos – Sinais de Portugal

 

Uma história muito interessante e bem resumida das armas e símbolos de Portugal desde D. Afonso Henriques aos nossos dias. As armas nacionais, primeiro o simples escudo branco com cinco escudetes azuis organizados em cruz e semeados de besantes brancos, pouco depois o escudo foi rodeado por uma bordadura vermelha com castelos mantém-se até hoje como o escudo nacional sobrevivendo a oito longos séculos e a vários regimes políticos.

 

É certo que o número de besantes se reduziu ficando estabilizado em cinco e o de castelos sofreu igual redução até se fixar em sete. Os escudetes inicialmente com a ponta convergente para o escudete central ganharam também a posição vertical que hoje ostentam.

 

Muito interessante é o facto de a III República, a que hoje habitamos, ter mantido como símbolo a esfera armilar, que se mantém na bandeira nacional, quando esta representava o colonialismo e o domínio português sobre os povos de outros continentes. Um regime implantado para, face à derrota militar na Guiné, fazer rapidamente a descolonização e que mantém o símbolo do colonialismo no centro da sua bandeira é algo que nos faz pensar que as mentalidades vão atrás dos acontecimentos e raramente o contrário.

 

Miguel Metelo de Seixas é investigador na Universidade Nova no Instituto de Estudos Medievais e Presidente do Instituto Português de Heráldica.