quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Laudato Si

Laudato Si pelo Papa Francisco

 

Um manifesto em defesa da Terra e dos pobres e oprimidos, descartados pela sociedade em que vivemos e um apelo a que esta seja substituída por outra melhor.

Apesar de algumas limitações importantes de análise e de não ir ao fundo das questões, este é um documento com potencial de motivar católicos, crentes de outras confissões e não crentes (ateus ou agnósticos) em torno de um projeto progressista de preservação da natureza, dos ecossistemas e da melhoria das condições de vida da maioria dos habitantes do Planeta.

Duas ideias novas rompem com a tradição católica: a primeira de que a propriedade privada se deve subordinar ao bem comum e que quando o não faz deve ser posta em causa; a segunda que a tradição judaico-cristã segundo a qual Deus deu a Terra ao ser humano para que este a domine e dela faça o que quer, está errada e deve ser substituída por uma visão em que o ser humano é apenas o cuidador de um bem de Deus, que deve ser um mero administrador diligente do mundo e que todos os seres têm uma dignidade própria.

Perspectiva-se uma grande oposição a este texto no interior da Igreja Católica, que é bem patente pelo escasso eco que teve em Portugal, país em que a hierarquia católica se caracteriza essencialmente pelo conservadorismo, principalmente dos grupos sociais mais abastados que são duramente criticados nesta exortação.

Um texto actual, polémico, bem estruturado e argumentado, que seguramente contribuirá para o debate de ideias e para o trabalho de alteração social indispensável para a continuação da vida humana no terceiro planeta do sistema solar.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Moby Dick

Moby Dick Herman Melville



Uma obra-prima da Literatura mundial, um livro espantoso, de uma profundidade oceânica, de um sopro forte e caloroso como o do subtropical alísio, que celebra o cachalote e a verdadeira baleia, rainhas dos oceanos, e nos conta a aventura trágica de um capitão baleeiro do século XIX, e da sua infeliz tripulação, em busca de uma vingança redentora.

Reflexões, sobre a vida e a sua finalidade, sobre a justiça e a sua aplicação – imperdível a passagem sobre as duas leis da pesca à baleia –, sobre a religião e os seus ensinamentos e sobre um sem número de pequenos temas, que ganham uma fundura luminosa e inesperada na pena de Melville.

Uma escrita envolvente, cheia de detalhes interessantes, análises racionais, histórias maravilhosas, lendas brumosas, estatísticas exactas, plena de humor inteligente mas também picaresco, fluida seguindo sempre uma forte e ondulante corrente que nos impele para a frente com uma maravilhamento encantador.

Como seria de esperar numa historia passada abordo de um veleiro, o Pequod, em mar alto os termos náuticos abundam (cabrestante, polé, bujarrona, ciar, amurada, verga, moitão, gurupés, mezena, turco da baleeira, enxárcia e muitos outros) dando um colorido e criando uma atmosfera que nos deposita no castelo da proa desta embarcação.

Portugal, país de mares e marinheiros, é abundantemente citado quer pela valia das suas gentes (“… os americanos fornecem liberalmente os cérebros, cabendo ao resto do mundo contribuir com os músculos. Um não pequeno número de baleeiros provém dos Açores, onde os navios de Nantucket lançam ferro frequentemente para contemplar as suas equipagens com os sólidos camponeses dessas ilhas rochosas”) e pelas suas lendas (“Aqui a verdade da vida iguala a lenda, mesmo quando se trate de uma velha história como a da serra da Estrela em Portugal, onde se diz existir perto do cume um lago em cuja superfície flutuam as carcaças de navios naufragados no oceano …”). Cabo Verde, esse país nosso irmão, é também mencionado, havendo a bordo um marinheiro de Santiago. Timor surge como refugio de outro cachalote mítico, o Tom de Timor assim chamado porque encontrava refúgio das águas circundantes deste país asiático.