domingo, 30 de outubro de 2011

Como nos livramos do Euro?




Como nos livramos do Euro? por Jean-Jacques Rosa

“Os eurocépticos tinham apontado claramente as desvantagens futuras de uma moeda única aplicada a economias diferentes. Triunfaram em toda a linha.” Assim começa esta obra do economista liberal francês Jean Jacques Rosa, um opositor de primeira hora ao projecto do Euro.

Segundo ao autor a crise que hoje vivemos deve-se, em grande medida ao Euro, que pelas suas baixas taxas de juro e pelo seu forte valor se transformou “uma terrível máquina de pedir emprestado”.

Acusa o Euro de estar somente ao serviço do modelo alemão e de não ser útil para as restantes economias. De facto a Alemanha parece ser dos poucos países que manteve a sua competitividade no interior de um Euro forte. Isto porque “a moeda forte reduz o preço de produtos intermédios que são utilizados na produção final de bens. É sobretudo o que acontece no «modelo alemão», que consiste em importar, nomeadamente da Europa Central e de Leste, componentes já elaborados os quais são depois integrados nos bens produzidos na própria Alemanha antes de serem exportados, seja para países terceiros, seja para países da zona Euro”.

Para outros países com modelos económicos diferentes o Euro forte é uma fonte de perca de competitividade assustadora.

Mas se é assim tão mau porque foi para a frente tal projecto de unificação monetária. Jean-Jacques identifica os grandes beneficiados do Euro: “Do ponto de vista económico, a resposta é muito simples: são os grandes utilizadores dos empréstimos quem beneficia de uma moeda única e forte, visto que as dívidas expressas numa tal moeda são muito procuradas pelos investidores por ser muito seguro o seu reembolso e porque o seu largo mercado lhes assegura uma grande liquidez”.

E quem são esses grandes utilizadores de empréstimos? “Os principais devedores são conhecidos: os Estados, os «novos bancos», que reinventaram os seus negócios nos anos 80, e as grandes empresas”.

Assim propõe este economista a França deve preparar-se para defender uma desvalorização do Euro e quando este tiver suficientemente baixo abandonar a moeda única, fazendo-o a paridade (1 Franco=1 Euro). E deve fazê-lo logo porque “não se poderá esperar muito tempo, porque o maior risco seria a saída da zona euro por parte dos países do Sul antes da nossa saída: nesse caso, o valor do Euro respeitante à zona Norte da Europa subiria em relação ao dólar e a saída da França seria muito mais dolorosa”.

Um livro polémico mas muito interessante. A tradução deixa a desejar mas não adultera o sentido do que é dito.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um crime quase perfeito




Um crime quase perfeito por John Le Carré

Um das primeiras obras de Jonh Le Carré publicada em 1962 e que precedeu o primeiro livro de espionagem o êxito que foi e é "O Espião que veio do Frio".

Um policial em que a figura central Smiley é um antigo espião com carreira durante a II Guerra Mundial. Trata-se um um crime anúnciado em que a vítima sabe que vai ser morta mas suspeita da pessoa errada.

O livro entreabre-nos a porta para o mundo selecto e elitista dos colégios particulares ingleses, onde chumbar num exame pode ter consequências desastrosas para a vida de um jovem.

Não sendo dos melhores livros de John le Carré, é leitura fácil e agradável.

sábado, 15 de outubro de 2011

Os Portugueses

Os Portugueses por Barry Hatton


Barry Hatton vive em Portugal, conhece o país e as suas idiossincrasias. A descrição que faz dos portugueses tem muito de verdade e qualquer pessoa que goste de sondar a nossa alma colectiva com certeza concordaria com muito do que escreve. Por outro lado, Hatton revela uma simpatia sincera pelo país e com um estilo bem-humorado e simpático consegue dizer verdades duras sem ofender.

A imagem que nos oferece é a tradicional de um povo pacífico de revoltados, de um povo colonizado pela sua própria elite, um povo decadente e sem perspectivas, um povo passivo, sem iniciativa, e incapaz de lutar pelos seus direitos, mas simultaneamente um povo extremamente acolhedor, bondoso, capaz de nas condições mais extremas, gozar a vida, apreciar os prazeres simples da cozinha, da natureza, da praia e do lazer. È a descrição tradicional, mil vezes repetida, que as elites do Norte têm dos países do Sul.

Mas essa visão contém muitos erros de etnocentrismo. Um dos mitos mais arraigados é o de que os povos do Sul trabalham menos, porque são mais preguiçosos. Hatton conta-nos o choque que foi para os britânicos quando viram que os inspectores da Polícia encarregues do caso Maddie estavam a almoçar! De facto povos do Norte e do Sul têm uma organização horária muito diferente, por causa do mais reduzido período de luz solar que têm, nomeadamente no Inverno.


Os povos do Sul trabalham indiscutivelmente mais horas, fenómeno estatisticamente comprovado, mas fazem-no ao longo de dois períodos distinto separados por uma refeição que tende a ser a principal do dia. Os nórdicos têm no pequeno-almoço uma refeição muito mais reforçada e, consequentemente, a pausa do almoço tende a ser muito menor ou, em alguns casos, inexistente. Em contrapartida a hora de saída dos empregos é muito mais cedo. Na Holanda, por exemplo a hora de jantar normal é às 18 horas. A essa hora muitos portugueses ainda estão a trabalhar. Confundir diferentes organizações do horário diário com preguiça é um erro grosseiro que qualquer bom observador consegue evitar. Não é o caso de Barry Hatton que reproduz as banalidades do costume.

Apesar de tudo vale a pena ler.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Bursts

Bursts por Albert-Lászlo Barabási





Um livro interessante em que Albert-László Barabási procura, com exemplos concretos e simples, demonstrar que o comportamento humano é previsível. Conhecida a actividade passada de uma dada pessoa é possível prever, com um elevado grau de certeza, a sua localização e a sua actividade nos próximos dias, semanas ou meses. Conhecer o passado é antecipar o futuro.

Barabási demonstra que duas verdades dadas por adquiridas pela opinião dominante no mundo das ciências sociais não passam de mitos. A primeira é a tese de Karl Popper de que é impossível antecipar a actividade humana, isto é que o agir e devir do ser humano e da sua sociedade são imprevisíveis e a segunda é a tese de que a famosa curva de sino própria dos fenómenos aleatórios se aplica sempre ao comportamento social e individual.

De facto se tivermos dados suficientes, como a tecnologia actual já permite recolher, e que as empresas de telecomunicações, de serviços de GPS, e outras já dispõem, podemos modelar o comportamento das pessoas e prever com um grau muito elevado de precisão os seus passos futuros.

Sendo o ser humano um animal de hábitos isto não surpreende. Sabendo onde mora e onde trabalha consigo prever com muita segurança onde é que estará qualquer pessoa durante boa parte do dia (naturalmente em casa ou no trabalho), se souber onde costuma fazer compras e o tipo de lazer de que gosta ainda mais consigo prever. Sem qualquer magia. Sem que qualquer processo aleatório se imiscua nesta previsão. Extraordinária e contra intuitiva era a premissa dominante de aleatoriedade do comportamento humano. Cada vez estou mais convencido que a aleatoriedade, em ciências sociais, desempenha o papel da religião e esconde áreas de ignorância com falsas certezas.

Barabási mostra também que a actividade humana é regida por prioridades. Como temos um tempo limitado (o dia tem 24 horas) e não conseguimos fazer tudo em simultâneo atribuímos, consciente ou inconscientemente, prioridades ao que queremos fazer. Assim a actividade humana relativa a qualquer tema caracteriza-se por irrupções (Bursts) e por períodos de acalmia. Respondo aos e-mails recebidos e depois concentro-me noutra coisa e só passado horas é que volto aos e-mails. Estas irrupções podem ser descritas por uma função de potenciação – que usualmente é descrita pela seguinte fórmula: 〖f (cx)= a (cx)〗^k.

Hábitos e prioridades eis as chaves do comportamento humano.

Num futuro não muito longínquo será possível antever com precisão o desenrolar da vida futura de cada pessoa.

É de um território novo e, talvez por isso, perturbador. Apesar de estar preso ao hábito como qualquer outra pessoa gosto de sentir que sou livre de dar o rumo que pretendo à minha vida e não estou certo que gostaria de conhecer antecipadamente o meu futuro. Estou, porém, certo que se outros o pudessem fazer então eu também exigiria ter acesso a essa informação.