sábado, 15 de outubro de 2011

Os Portugueses

Os Portugueses por Barry Hatton


Barry Hatton vive em Portugal, conhece o país e as suas idiossincrasias. A descrição que faz dos portugueses tem muito de verdade e qualquer pessoa que goste de sondar a nossa alma colectiva com certeza concordaria com muito do que escreve. Por outro lado, Hatton revela uma simpatia sincera pelo país e com um estilo bem-humorado e simpático consegue dizer verdades duras sem ofender.

A imagem que nos oferece é a tradicional de um povo pacífico de revoltados, de um povo colonizado pela sua própria elite, um povo decadente e sem perspectivas, um povo passivo, sem iniciativa, e incapaz de lutar pelos seus direitos, mas simultaneamente um povo extremamente acolhedor, bondoso, capaz de nas condições mais extremas, gozar a vida, apreciar os prazeres simples da cozinha, da natureza, da praia e do lazer. È a descrição tradicional, mil vezes repetida, que as elites do Norte têm dos países do Sul.

Mas essa visão contém muitos erros de etnocentrismo. Um dos mitos mais arraigados é o de que os povos do Sul trabalham menos, porque são mais preguiçosos. Hatton conta-nos o choque que foi para os britânicos quando viram que os inspectores da Polícia encarregues do caso Maddie estavam a almoçar! De facto povos do Norte e do Sul têm uma organização horária muito diferente, por causa do mais reduzido período de luz solar que têm, nomeadamente no Inverno.


Os povos do Sul trabalham indiscutivelmente mais horas, fenómeno estatisticamente comprovado, mas fazem-no ao longo de dois períodos distinto separados por uma refeição que tende a ser a principal do dia. Os nórdicos têm no pequeno-almoço uma refeição muito mais reforçada e, consequentemente, a pausa do almoço tende a ser muito menor ou, em alguns casos, inexistente. Em contrapartida a hora de saída dos empregos é muito mais cedo. Na Holanda, por exemplo a hora de jantar normal é às 18 horas. A essa hora muitos portugueses ainda estão a trabalhar. Confundir diferentes organizações do horário diário com preguiça é um erro grosseiro que qualquer bom observador consegue evitar. Não é o caso de Barry Hatton que reproduz as banalidades do costume.

Apesar de tudo vale a pena ler.

2 comentários:

  1. Muito bem visto! Contudo a ideia que tenho é que no norte da europa as pessoas são mais focadas no seu trabalho, cá perdemos muito tempo na internet, nas conversinhas, no café, no cigarro... por isso passamos mais tempo no local de trabalho, mas não necessariamente a trabalhar.

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  2. Vivi ha Holanda algum tempo e as idas lá fora para fumar um cigarro são tão frequentes quanto cá e também bebem café (embora em grandes copos e muito mais fraco que a nossa "bica") e veêm a internet. A maior produtividade advém da melhor organização, da maior utilização de tecnologias e dos preços mais altos a que conseguem vender os seus produtos e serviços.

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