domingo, 27 de junho de 2010

A Science Fiction Omnibus

A Science Fiction Omnibus editado por Brian Aldiss

Um livro de contos organizado por um dos grandes autores de ficção científica de sempre, Brian Aldiss. Entre os mais de trinta autores representados estão também outros monstros sagrados deste género literário como A.E. van Vogt, Isaac Asimov mas também de outras famílias como John Steinbeck.

Tem textos admiráveis. Numa única página Frederic Brown conta-nos Answer, a surpreendente e definitiva resposta que o Homem obteve do mais potente processador, uma máquina que acabava de ligar todos os computadores existentes no universo. A pergunta é simples e, apesar do enredo se passar num futuro distante quando o Ser Humano tiver colonizado as galáxias mais longínquas, reflecte uma velha e intemporal dúvida: “Deus existe?”

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Jerusalém



Jerusalém por Gonçalo M. Tavares


Quando as frases se repetem ipsis verbis estaremos perante um erro desastrado ou uma técnica inovadora? Quando a loucura é tal impõe-se reflectir se Pessoa não teria razão ao dizer que o “poeta é fingidor/ finge tão completamente / que chega fingir que é dor / a dor que deveras sente”.

Este livro tem uma moral prática. Diz-nos que é perigoso deixar os loucos sem vigilância e sem tratamento. Que a sua condição de doentes os leva a irreflectidamente e sem malícia a cometer os mais variados crimes e as mais abomináveis maldades. Diz-nos o que acontece quando “os loucos tomam conta do manicómio”.

Uma escrita linear, repetitiva, enfadonha, sem floreados mas também sem sal, uma estrutura narrativa gasta de tanto uso, um enredo linear e previsível.

Gonçalo M. Tavares inclui esta obra num conjunto que denomina de livros negros. Tem razão. Um livro negro, no sentido de que quando fazemos asneira, algo que nos envergonha, sentimos que devemos pintar a cara de ... preto.

sábado, 19 de junho de 2010

O Dilúvio


O Dilúvio de Henryk Sienkiewicz

O Dilúvio é uma história de um amor em tempo de guerra. A época da invasão sueca da Polónia em meados do século XVII é conhecida, tal a destruição, tal o barbarismo dos nórdicos, por Dilúvio.

Esta é uma obra-prima da literatura mundial, um épico que nos revela o melhor e o pior da alma humana, muitas vezes reunidos num só indivíduo. A heróica defesa, a traição de nobres, a deserção de soldados, a fidelidade do povo, a grandeza da alma polaca.

A tradução de L. Costa é péssima, a edição da Portugal Press deficiente, o exemplar que comprei tinha duas folhas em branco, e descuidada, as gralhas abundam. Um mau serviço a um dos maiores escritores de sempre e que ainda em vida viu o seu talento reconhecido tendo recebido o Prémio Nobel em 1905.

domingo, 13 de junho de 2010

Bowling Alone


Bowling Alone de Robert D. Putnam

Para além do capital que conhecemos, acumulação de trabalho na forma de capital físico ou financeiro, existe também o capital humano, os conhecimentos e os saberes que cada indivíduo possui e o capital social, o conjunto de ligações que cada um de nós tem com outros - as redes sociais e as normas de reciprocidade e de confiança que delas emergem.

Robert D. Putman na esteira de James S. Coleman é o grande teorizador do capital social.

Nesta obra Putnam defende, apoiado numa bateria impressionante de dados de diferentes fontes, que o capital social está a diminuir na América – declínio da participação política, retrocesso no envolvimento cívico, afastamento das práticas religiosas, desfiliação sindical, abrandamento do voluntariado, contracção da filantropia e mesmo regressão nas formas mais elementares de interacção social, como os jantares de amigos, os jogos de bowling e os pic-nics. Simultaneamente a confiança dos americanos uns nos outros e a honestidade está igualmente a definhar.

Contra a corrente de retracção social Putnam identifica o crescimento dos pequenos grupos, como os de leitura, os movimentos sociais, por exemplo o Greenpeace, e as redes sociais baseadas na internet. Infelizmente muitos dos novos movimentos sociais, são organizações do tipo “terciário” com um pequeno núcleo de profissionais sedeados em Washington, onde fazem lobby junto dos políticos, apoiados por um conjunto de pessoas cuja intervenção se resume às contribuições monetárias e que se não conhecem mutuamente. Este tipo de organização, naturalmente, não contribui para o capital social.

Putnam procura num segundo momento identificar as causas da redução do capital social e encontra várias: i) a televisão contribui com a maior fatia (50%) para a redução do capital social (o tempo que as pessoas ocupavam a participar em organizações cívicas, em voluntariado, no activismo sindical ou político, é agora ocupado em frente do televisão), ii) o espraiar espacial, os americanos vivem num local, trabalham noutro, fazem as suas compras num terceiro, o que implica maiores tempos em deslocações e maior anonimato nos contactos, iii) o trabalho feminino por necessidades económicas, interessantemente as mulheres que trabalham porque querem mostram em geral um maior envolvimento social do que as que não trabalham e finalmente iv) as dificuldades económicas que a precarização e a globalização introduziram. Estas causas tendo emergido ao longo da segunda metade do século XX afectaram de forma desigual as diferentes gerações. Assim as geração mais velha, nascida na primeira metade do século (antes da TV) mostra hábitos gregários mais fortes, enquanto as gerações seguintes evidenciam índices cada vez mais fracos.

Num terceiro momento Putnam pergunta porque devemos preocupar-nos com o declínio do capital social. A sua resosta é porque o capital social é de importância crucial para: i) a educação das crianças, II) a saúde, estudos revelam que é equivalente para a saúde deixar de fumar ou aderir a uma organização que reúna pelo menos uma vez em cada 15 dias, investigações também demonstraram que quem adere a uma organização reduz o perigo de morte no ano seguinte em 50%, iii) a felicidade, varias autores defendem que a felicidade depende da forma de integração social e que os isolados são muito mais propensos à depressão e ao suicídio, iv) o progresso económico, o capital social propícia o crescimento económico, v) a democracia, sem participação dos cidadãos é difícil imaginar uma democracia.

Num último momento Putnam reflectindo sobre a História americana, aponta algumas pistas para o revigorar do capital social na América.

Um livro, não traduzido em português, mas que seria bom que os políticos, os líderes económicos e sociais o lessem, porque ajuda a perceber as causas do atraso português.