sábado, 23 de fevereiro de 2013

Os Cães de Tessalónica

Os Cães de Tessalónica de Kjell Askildsen


Ansiedade, claustrofobia, solidão e sofrimento nas relações familiares em que um conflito latente, uma vontade de libertação e rebelião, aflora à superfície, num pequeno nada que agride, e ameaça tornar-se explosivo mas é voluntariamente contido. Antes de qualquer irrupção impetuosa os sentimentos são reprimidos os factos ignorados e o desaguisado rapidamente enterrado sem esclarecimento numa aceitação resignada de um quotidiano vazio e infeliz.

Aprisionadas na rotina da sua relação trágica as personagens bem se compreendem mas não têm a coragem de assumir e agir sobre o mal-estar que as atormenta se bem que, aparentemente, nada exista que as prenda.

Num tom suave, com uma escrita minimalista, simples e concisa, Askildsen transmite-nos toda com toda a intensidade, muitas vezes perto do insuportável, a tensão psicológica, a dor e o desespero destes casais.

Um grande autor contemporâneo. Uma obra-prima.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Paris é uma Festa

Paris é uma festa por Ernest Hemingway

Um livro de recordações, escrito nos últimos anos de vida de Ernest Hemingway e só publicado após a sua morte.


Através de pequenos quadros e retratos Hemingway transporta-nos para a Paris dos anos 20 em que viveram muitos escritores e intelectuais americanos da Idade do Jazz. Uma Paris sem franceses e com muitos americanos e ingleses. Encontramos entre outros Erza Pound oferecendo um boião de ópio a um amigo viciado, Gertrude Stein a discutir com a amante, Ford Madox Ford feito aldrabão de feira a garantir o mesmo prémio a vários autores, Scott Fitzgerald escrevendo prosa comercial, preocupado com o tamanho do seu pénis e atormentado por uma gripe inexistente,

A evidente tendência para se auto descrever nas melhores cores físicas, intelectuais e morais e para de todos os outros salientar quase exclusivamente as debilidades, as idiossincrasias e os vícios acaba por funcionar contra o livro diminuindo-o. Por vezes parece que estamos a assistir a um ajuste tardio de contas contra o mundo literário americano da época tantas são as setas disparadas em tantas direções.

Como todos os livros póstumos está envolto em várias polémicas sendo a sua mulher Mary acusada por alguns de ter alterado a ordem dos capítulos e eliminado partes importantes do texto. Mais recentemente uma edição de 2009, organizada por um neto de Hemingway alterava várias passagens pouco simpáticas para com a sua avó.

O título em português, Paris é uma festa, não parece fiel ao original: “A Moveable Feast”.

Não encontramos aqui Hemingway na sua melhor forma. 

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Burro-em-pé

O Burro-em-pé de José Cardoso Pires


Cinco excelentes contos. O Dinossauro Excelentíssimo uma divertida, mas certeira e demolidora, critica ao Reino dos Dr em que Salazar imperava.

Celeste e Làlinha: Por cima de toda a folha, um retrato áspero de um certo tipo de retornados e uma história terna do amor de uma menina pela sua boneca africana.

Os Reis.mandados mostra-nos a vida difícil das crianças pobres cedo empurradas para o trabalho.

Nós aqui entre o fumo falá-nos dos sonhos, irrealistas mas genuínos  que dão esperança e futuro a uma família que se debate com a fome e a impossibilidade de fazer face às mais básicas necessidades.

Portugal visto tal e qual é. Uma sociedade desapiedada em que os pobres são abandonados, em que as crianças passam fome, em que os velhos são mesmo tratados como trapos. Escrito nos anos 70 e tão actual.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Adeus às Armas por Ernest Hemingway


Um grande clássico da literatura norte-americana. Com a batalha Caporetto, em que as tropas austro-alemãs obrigaram o exército italiano a retirar para as margens do Rio Piave onde conseguiram deter a ofensiva germânica, como pano de fundo Hemingway conta-nos de forma seca e realista a história triste de um valoroso e nobre jovem americano alistado voluntariamente nas tropas transalpinas e da sua amante inglesa.

O horror da guerra, o heroísmo inadvertido, o hospital de guerra, a camaradagem militar, a fuga, o amor e a morte são-nos mostrados de uma forma crua, natural e desapaixonada sem qualquer comentário ou reflexão do narrador. Os factos são o que são e contudo fazem-nos pensar e optar.