domingo, 24 de julho de 2011

Marketing Ombro a Ombra






Marketing Ombro a Ombro por João Pinto e Castro






Habitamos no que alguns chamam era “pós-moderna”. Para Pinto e Castro “Vivemos em sociedades cépticas, ignorantes do passado, desconfiadas do presente e descrentes no futuro”. Neste ambiente que nada oferece, as pessoas sentem uma grande necessidade de fazer sentido da sua vida, do seu trabalho, do seu consumo. Daí que as marcas sejam “instadas a investir cada vez mais no domínio simbólico para dar resposta à fome de sentido manifestada pelos clientes”.

Face à atomização das sociedades ocidentais as pessoas têm-se agregado em novas tribos de pertença múltipla a que se adere e de que se sai livremente, e que se fundam num “conjunto de crenças e valores partilhados, mas também por instituições, canais de comunicação, sinais de identidade e rituais”. Estas tribos/ comunidades ajudam os membros a fazer sentido do mundo actual.

Hoje a partilha, a criação cooperativa, a agregação de conteúdos e mesmo a socialização em redes dão ao consumidor “conectado e activo” um maior poder.

Cabe ao marketing canalizar esse poder numa direcção mutuamente benéfica, não esquecendo que os produtos são meros instrumentos ao serviço de uma estratégia do consumidor (“um candeeiro tem de se enquadrar numa ideia de decoração de um espaço; um automóvel … de um estilo de vida e de trabalho”). O produto tem de fazer sentido na estratégia do consumidor. O Marketing deve reflectir sobre “Qual é essa estratégia e que papel desempenha nela a nossa oferta de valor?”. Esse papel consubstancia-se na Ideia-Projecto da marca para cada segmento de clientes - e a digitalização reduz muito “os custos de diversificação e personalização da oferta”.

Compete à empresa criar Ideias-Projecto, que “mobilizem os desejos básicos, as estratégias e a generosidade dos consumidores”. A comunicação das Ideias-Projecto deve “estruturar-se em torno de Mitos Fundadores, Lendas e Narrativas e Ícones”.

O novo Marketing Ombro a Ombro, que “rompe com o Marketing intrusivo, que consiste na intromissão não autorizada … das marcas na vida do cidadão”, assenta em três pilares: escuta, relacionamento e envolvimento. Escuta o que se diz da marca nas comunidades online. Estabelece um relacionamento com os clientes de maior valor e com os que podem influenciar outros. Gera neste grupo um envolvimento profundo com a marca.
Para estabelecer relacionamento há duas vias: a infiltração juntando-se a comunidades existentes e a mobilização agregadora criando novas comunidades.

Um livro com o qual se aprende muito. Um excelente livro.

Shadow

Shadow por Philippe Francq e Jean van Hamme


Jean van Hamme tem-se afirmado com um dos mais inspirados continuadores da escola de Banda desenhada belga que teve em Hergé e em Edgar Pierre Jacobs os seus máximos expoentes.

Esta aventura, a décima segunda da série Largo Winch, o herói milionário, transporta-nos para o universo dos meios de comunicação social e do entretenimento. Um mundo cão, em que patrões sem escrúpulos tudo fazem para eliminar os rivais e ganhar dinheiro. A concorrência no seu mais puro estado selvagem.

Mas apesar da imaginativa e bem urdida trama desta história e do duro e impiedoso cenário imaginário que descreve, este parece hoje um idílico paraíso quando se descobrem as maquinações do poderoso e bem real grupo económico do australiano Murdoch.

domingo, 17 de julho de 2011

vovô tsongonhana


vovô tsongonhana por Augusto Carlos

A história do vovô tsongonhana e do seu neto adoptivo corre fluida, despretensiosa e linear como era certamente intenção do autor.

A narrativa é fortemente moralista, procurando passar uma filosofia de vida assente no amor ao próximo a na coabitação pacífica e equilibrada com a Natureza. Muitas opiniões sobre a sociedade actual são aqui explicadas em palavras simples e directas, abeirando-se, por vezes perigosamente, do panfletário que, contudo, consegue evitar por “uma unha negra”.

Nalguns momentos o discurso de Moisés soa a falso, porque demasiado elaborado e ocidentalizado para um camponês moçambicano.

Um livro interessante que vale a pena ler. Excelente para ser lido em grupos de leitura juvenis, porque tem muitas ideias que podem ser usadas para uma discussão proveitosa, educativa e crítica.

A Paz Insuportável


A Paz Insuportável por John Le Carré


A história do brigadeiro suíço Jean-Louis Jeanmaire, o espião que durante mais de uma década passou informação secreta aos seus contactos soviéticos.

John le Carré procura compreender o carácter do personagem e explicar as motivações profundas deste aprumado militar sinceramente anti-comunista.

Na vida real Jeanmaire foi condenado a 18 anos de cadeia, dos quais cumpriu doze, num julgamento em que não teve muitas oportunidades para se defender, e em que a interferência do poder político foi constante.

John le Carré simpatiza com o personagem que vê como um ingénuo, incapaz de se defender ou de mentir convincentemente. Mas é também benévolo para com os serviços secretos soviéticos que nunca procuraram explorar esta fonte, nem dela exigir o que não podia dar.

Um livro destoante na extensa criação deste autor de excelentes romances de espionagem. Não num sentido negativo, mas apenas porque se não insere facilmente no conjunto da obra.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Os Manuscritos de Jeffrey Aspern

Os Manuscritos de Jeffrey Aspern por Henry James



Um pequeno romance construído sobre uma relação triangular entre o narrador obcecado por uns desconhecidos manuscritos de um famoso poeta, uma velha senhora à beira da morte e detentora dos documentos e a sobrinha desta.

A trama tem como pano de fundo Veneza, mas poderia passar-se em muitos outros lugares decadentes e perdidos no tempo. A cidade é um cenário onde se passa a acção e uma metáfora para a velha Juliana, que se agarra à vida através de memórias de um passado glorioso.

Juliana quer preservar a sua vida privada e a do seu amado escritor e o narrador quer, a todo o custo, apoderar-se dos escritos para os dar a conhecer a toda a Humanidade. Que valores devem prevalecer? O direito à privacidade ou o direito a conhecer a vida e os textos, mesmo que íntimos, de uma figura cimeira da literatura? Um dilema moral de difícil resolução.

É a sobrinha, ingénua solteirona de meia-idade, que, por morte de sua tia, fica com a difícil tarefa de dirimir este conflito de interesses. Ela balança entre os dois valores, mas depois de ler os documentos acaba por decidir mantê-los em segredo para sempre.

Henry James com esta engenhosa resolução parece dizer-nos que a resposta para o dilema exposto só pode ser obtida casuisticamente, em face das circunstâncias concretas e do teor dos assuntos a revelar.

De facto só depois de examinar os papéis e de conhecer o seu conteúdo é que Miss Tina, inicialmente vaga e abstractamente favorável à sua divulgação, concluí que a melhor solução é não os tornar públicos. Simultaneamente entrega um pequeno, antigo e inédito retrato de Aspern, que nada choca com a privacidade, para conhecimento geral.


Excelente.

domingo, 3 de julho de 2011

The Story Factor


The Story Factor por Annette Simmons

O poder persuasivo das histórias bem escolhidas e bem contadas é imenso e bem maior do que muitos argumentos racionais apoiados em números bem alinhados. Porque as histórias transmitem mensagens ancoradas na emoção e na partilha de uma mesma experiência e visão do mundo.

Uma história pode alterar a forma como vemos uma situação, permitir dizer verdades duras de ouvir, criticar um superior sem ferir susceptibilidades, ultrapassar objecções, facilitar a aderência a um novo conceito. Contar histórias é um método testado e comprovado de influenciar os outros.

A autora aconselha a que todos nós tenhamos as nossas seis histórias básicas bem alinhadas: 1) Quem sou eu, 2) O que faço aqui, 3) A minha Visão, 4) Ensinando, 5) Valores em acção e 6) Sei em que é que estás a pensar.

Muitas histórias ilustrativas, muitos conselhos e alguma descrição técnica sobre a forma de contar histórias.

Um livro simultaneamente denso, prático e interessante.