Dez mil guitarras por Catherine Clément
Catherine Clément, nascida em 1939, é uma conhecida
romancista e filosofa francesa que se tem interessado pela história do nosso
país sobre o qual escreveu em diversos momentos.
Dez mil guitarras foi publicado em França em
2010 e obteve críticas dúbias que não impediram que lhe fosse atribuído o Prix
Historia para romances históricos desse ano.
Ao longo do livro seguimos histórias
paralelas todas ligadas direta ou indiretamente ao rinoceronte que os
portugueses trouxeram da Índia e que pertenceu sucessivamente a Dom Sebastião,
a Filipe II, a Rodolfo II de Habsburgo e à ilustrada e extraordinária Rainha Cristina
da Suécia antes de se estabelecer definitivamente num museu austríaco.
Sobre Dom Sebastião avança com ideias delirantes
e inverosímeis como a da sua sobrevivência à batalha de Alcácer Quibir e a da
sua permanência em Marrocos casado com a filha do sultão deposto Abu Abdallah
Mohammed II.
A obra tem o condão de nos relembrar do erro
estratégico de Dom Sebastião ao pretender intervir numa crise dinástica
marroquina, colocando-se ao lado de Abu Abdallah Mohammed II contra o tio deste
o famoso Abd al-Malik que se tinha apoderado do trono. Longe das fantasias de
que Dom Sebastião pretendia conquistar Marrocos a verdade histórica é que
apenas pretendia ajudar Mohammed II a reconquistar o trono.
Um livro bem escrito que peca, contudo, pelo delírio
do destino de Dom Sebastião que preenche o relato e o torna difícil de
perceber. Um Rei português, orgulhoso, católico fervoroso, dirigente de um dos países
mais avançados da época, transformado num simples curandeiro de beira de
estrada é tão improvável e de certa forma humilhante que se torna penoso ler
essas passagens.
Perpassa na obra um certo racismo
antiportuguês tão característico de uma certa elite intelectual francesa.