quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Se a Rua Beale falasse

Se a Rua Beale falasse por James Baldwin

Um livro duro e termo, de morte e vida, injustiça e sobrevivência, passado na América racista dos anos 60. Ao ler imaginamos facilmente que o jovem perseguido e encarcerado sem culpa poderia ser do Bairro da Jamaica, da Cova da Moura ou de qualquer bairro periférico de Lisboa, Loures, Seixal ou Oeiras, vítima da rotineira violência e perseguição policial.

O amor de Tish e Foony, dois jovens mal saídos da adolescência, enfrenta obstáculos gigantescos, armadilhas maldosamente urdidas, acusações infundadas, requisitos financeiros inalcançáveis.

Uma história comovente, que sem lamechismos nos leva às lágrimas, que nos toca no fundo da nossa alma, nos revolta e nos predispõe para olhar a realidade com olhos mais atentos e atuantes.

Uma obra-prima de um autor icónico.

Baseado no livro foi realizado por Barry Jenkins um filme homónimo que lançado em 2018 alcançou assinalável êxito nos Estados Unidos e pela Europa.

James Baldwin (1924-1987), romancista e dramaturgo negro norte-americano, ativista pelos direitos cívicos e pelos direitos dos homossexuais, viveu em França com estadias na Turquia e na Suíça. Entre as suas obras mais significativas encontram-se Giovanni’s Room, Notes of a Native Son e No name in the Street. Morreu em França de cancro do estômago.

Da sua vasta obra apenas um livro está editado no nosso país. Uma grave lacuna.


quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A coisa à volta do teu pescoço

A coisa à volta do teu pescoço de Chimamanda Ngozi Adichie

Um livro de contos contemporâneos da conhecida escritora nigeriana que nos falam da mulher negra, dos seus sonhos, da sua realidade, de uma sociedade tradicional invadida por uma cultura americanizada, de tradições que devem ser modernizadas e não descaracterizadas.

Cenários divididos entre a Nigéria e nos Estados Unidos. Entre personagens que vivem na sua terra natal ou que seguem a via do estrangeiro. Personagens quase sempre oriundas das classes mais altas, onde o dinheiro abunda, a educação no estrangeiro é regra, onde o contacto com as classes inferiores é escasso ou em situações dramáticas.

É no contacto de classes diferentes, de culturas diferentes, de mundos diferentes, o jovem privilegiado que vai para a cadeia, a jovem apanhada num motim de rua, a rapariga deixada pelo namorado que faz uma amizade com um emigrante, que Chimamanda se inspira para muitos destes seus contos. São encontros difíceis, sofridos, mas por vezes apaziguadores e redentores.

Uma sociedade violenta, dura, difícil, machista em que se trava uma dupla luta: contra a subjugação económica e social estrangeira por um lado, e contra a corrupção, o machismo, a repressão política interna por outro. Não se procura aqui esconder as dificuldades de um país como a Nigéria, um dos maiores e mais diversificados de África.

Chimamanda Ngozi Adichie (n. 1977) nasceu na Nigéria e estudou nos Estados Unidos. As suas obras têm obtido excelente receção pela crítica e vencido numerosos prémios literários.