quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Os quarenta e nove degraus

Os quarenta e nove degraus por Roberto Calasso

Um conjunto de onze pequenos ensaios de sabor serôdio e académico sobre autores contemporâneos, seguindo por trilhos a um tempo eruditos e intelectuais mas também por veredas ideológicas que o cegam e impedem a imparcialidade de julgamento.

O primeiro texto, sobre Roberto Bazlen, o escritor sem obra e que nada publicou em vida, é pretexto para reflexão sobre o “erguer-se sobre o vazio” que se constitui como tentativa vã de apagar a História e recusar a máxima de Newton “ergui-me aos ombros de gigantes”. Passamos depois para um ensaio sobre Adorno e a sua conceção de Arte como enigma. Temos em seguida um interessante comentário, o melhor do livro, sobre Karl Kraus e a opinião, cujo meio privilegiado de divulgação é a imprensa e “a sua figura principal: a frase feita”. “Uma opinião vale tanto como outra: como em qualquer lugar-comum, também neste se encara o abismo. Nessas poucas palavras está contida a fórmula paralisante da álgebra pós-histórica”.

Encontramos também artigos sobre Walter Benjamin e a que dá título ao livro, a quem critica “a viragem para o marxismo dos últimos anos”, Celine, o fascista criminoso, a quem elogia, Freud e a sua obra de fim de vida “O mal-estar da Civilização – “descobriu-se que o homem se torna neurótico porque é incapaz de suportar o peso da frustração que lhe é imposta pela sociedade” -, Brecht descrito como “escritor enigmático, rude, quase repelente e muitíssimo repelente”, Sthendal e as suas Memórias de um Turista, Simone Weil sobre quem renegando a análise de que “É costume distinguir dois períodos na brevíssima vida de Weil: um, de «compromisso social», até 1938, outro de «conversão mística”, até à morte” propõe considerar apenas um período o do misticismo.

Os últimos ensaios dedica-os, o primeiro, a Flaubert e a sua obra incompleta sobre a Estupidez denominada Bouvard e Pécuchet em que retoma o tema sobre a opinião, “A Estupidez é o sanguinário reino de papel da Opinião”, e o segundo, a Platão e à sua luta contra o mito como forma de conhecimento.

Roberto Calasso (n.1941), italiano, é um editor, escritor, critico e filosofo, com vasta obra centrada na literatura, no mito e na busca da identidade.

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