Os
quarenta e nove degraus por Roberto Calasso
Um
conjunto de onze pequenos ensaios de sabor serôdio e académico sobre autores contemporâneos,
seguindo por trilhos a um tempo eruditos e intelectuais mas também por veredas
ideológicas que o cegam e impedem a imparcialidade de julgamento.
O
primeiro texto, sobre Roberto Bazlen, o escritor sem obra e que nada publicou
em vida, é pretexto para reflexão sobre o “erguer-se sobre o vazio” que se
constitui como tentativa vã de apagar a História e recusar a máxima de Newton “ergui-me
aos ombros de gigantes”. Passamos depois para um ensaio sobre Adorno e a sua
conceção de Arte como enigma. Temos em seguida um interessante comentário, o
melhor do livro, sobre Karl Kraus e a opinião, cujo meio privilegiado de
divulgação é a imprensa e “a sua figura principal: a frase feita”. “Uma opinião
vale tanto como outra: como em qualquer lugar-comum, também neste se encara o
abismo. Nessas poucas palavras está contida a fórmula paralisante da álgebra pós-histórica”.
Encontramos
também artigos sobre Walter Benjamin e a que dá título ao livro, a quem critica
“a viragem para o marxismo dos últimos anos”, Celine, o fascista criminoso, a
quem elogia, Freud e a sua obra de fim de vida “O mal-estar da Civilização – “descobriu-se
que o homem se torna neurótico porque é incapaz de suportar o peso da
frustração que lhe é imposta pela sociedade” -, Brecht descrito como “escritor
enigmático, rude, quase repelente e muitíssimo repelente”, Sthendal e as suas
Memórias de um Turista, Simone Weil sobre quem renegando a análise de que “É
costume distinguir dois períodos na brevíssima vida de Weil: um, de «compromisso
social», até 1938, outro de «conversão mística”, até à morte” propõe considerar
apenas um período o do misticismo.
Os
últimos ensaios dedica-os, o primeiro, a Flaubert e a sua obra incompleta sobre
a Estupidez denominada Bouvard e Pécuchet em que retoma o tema sobre a opinião,
“A Estupidez é o sanguinário reino de papel da Opinião”, e o segundo, a Platão
e à sua luta contra o mito como forma de conhecimento.
Roberto Calasso (n.1941),
italiano, é um editor, escritor, critico e filosofo, com vasta obra centrada na
literatura, no mito e na busca da identidade.
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