segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Belos e Malditos

Belos e Malditos por F. Scott Fitzgerald



Anthony acredita que a vida não tem sentido e que nenhum esforço pode levar a bom fim, toda a ação um esforço inútil que se esvai sem que daí advenha nada de positivo nem para o próprio nem para os outros. Não tem ilusões sobre a vida, e como nada o motiva – tudo é vão e fútil - preenche os seus dias com atividades do espírito e de lazer.

Conhece Glória, a mais bonita rapariga da cidade, uma verdadeira encarnação da Beleza, apaixonam-se e casam.

A vida ociosa aprovada e aclamada quando subsidiada por dinheiro familiar passa a ser reprovada socialmente quando o dinheiro começa a escassear. Todos lhe exigem que siga literalmente o preceito bíblico “ganharás o pão com o suor do teu rosto”. Desertado pelos amigos, criticado pela mulher, procura manter o seu estilo de vida mas cai no alcoolismo. Um golpe de sorte inesperado transforma-o num homem verdadeiramente rico e pronto a regressar à sua vida boémia.

Um livro repleto de pistas para reflexão sobre inúmeros temas, uns mais profundos como o sentido da vida e a aparente contradição entre o espírito e o trabalho, outros mais prosaicos como a necessidade de objetivos na vida e o papel do dinheiro na forma como as pessoas são julgadas socialmente e ainda sobre temas de atualidade de então, claramente datados mas que ajudam a compreender a sociedade dos anos 10 do século XX na América, como a questão da Lei Seca e a do moralismo militante.

O livro espelha a vida do próprio autor, um alcoólico, casado com uma beldade inteligente e abastada, que se dedicou por inteiro à boémia e à escrita. Morreu jovem mas deixou uma obra de vulto. Ele podia não o acreditar mas a sua obra não foi de maneira nenhuma frívola e sem valor.

sábado, 19 de janeiro de 2013

A Trégua


A Trégua por Primo Levi

As aventuras, os incidentes e as peripécias de um longo, atribulado mas feliz regresso a casa de um judeu italiano, o próprio Primo Levi, sobrevivente dos campos da morte de Auschwitz libertado pelo Exército Vermelho.

Uma viagem errática seguindo um percurso sinuoso, através de uma Europa devastada pela ocupação alemã, destruída pelos combates, sangrada da sua juventude imolada na guerra, faminta pela paralisação da economia, carente de quase tudo, o comboio de repatriamento avança lentamente com frequentes paragens mais ou menos prolongadas.

Pulsa aqui uma vida indómita, jubilosa e agradecida, cheia de vontade, depois de tanto sofrimento e morte, de se reerguer, recomeçar e de se celebrar. A força leal, ingénua e magnânima dos russos e a sua monumental desorganização, o espírito livre e solidário dos italianos e a sua capacidade de transformar dificuldades em oportunidades, as habilidades comerciais dos gregos, materializam-se em personagens reais e cheias de vida.

Quando passam pela Alemanha e pela Áustria, agora ocupadas pelas forças aliadas, nenhum dos sobreviventes de Auschwitz mostra qualquer ressentimento ou tenta qualquer tipo de vingança sobre as populações germânicas. O que Primo Levi sente é uma vontade enorme de lhes contar as atrocidades cometidas pelos seus compatriotas e uma solidariedade para com os alemães em sofrimento dizendo que muitas vezes acabam os justos por pagar pelos pecadores.

Um grande livro. Vida e Literatura.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cosmopolis

Cosmopolis por Don DeLillo

Naquele que seria o seu último dia Eric Packer quis cortar o cabelo no seu barbeiro habitual o que o obrigou a atravessar Manhattan num dia particularmente aziago em que o iene não parou, contra as suas melhores previsões, de se valorizar, o Presidente norte-americano visitou a cidade bloqueando por razões de segurança o trânsito, em que uma concorrida e agitada manifestação contra o sistema capitalista descamba em confrontos com a Polícia e em que se realizou o funeral, de novo lançando o caos no tráfego automóvel, de um famoso cantor rapper.

 Na sua sumptuosa limusina, forrada a mármore de Carrara, isolada com cortiça, cheia de écrans e computadores, Packer vive um dia intenso de experiências físicas, emocionais e intelectuais.

Uma ilustração do ditado “quem com ferro mata, com ferro morre”, o livro conta-nos a história de um jovem milionário da alta finança que acaba arruinado pelo mercado e morto por um empregado que despediu. A multifacetada, vertiginosa e perigosa vida contemporânea, a atracção pelo abismo, o vazio da relação de um rico com o dinheiro, com o luxo e com o poder, o casamento de conveniência, a importância do fortuito, do inesperado, do assimétrico, a relação do ser humano com o tempo, o passado que depressa se escoa rumo ao nada e o futuro cada vez mais antecipado e previsível (pelo menos assim se pensava na área financeira) incorporado no presente, são temas de reflexão deste romance surpreendente e intenso.

Imprescindível.