domingo, 20 de novembro de 2016

Mataram a Cotovia



Mataram a Cotovia de Harper Lee

Um advogado de província de uma pequena e pacata vila americana do período pós guerra, viúvo, educa só com uma velha criada negra os dois filhos pequenos. A forma como o faz é admirável com uma presença constante mas discreta, dando-lhes espaço para o erro, a orientação moral para decidirem pela sua cabeça e protegendo-os sempre que seguem contra a opinião dominante de vizinhos, professores ou familiares.

Atticus é o pai que queremos ser quando somos novos ou gostaríamos de ter sido quando mais velhos. Inteligente, culto, educado, forte, firme e contido. Não um super-herói cheio de si, apenas um homem decente e tranquilamente corajoso.

Mas a educação das crianças e a serena firmeza do pai são postas à prova quando ele é nomeado defensor de um homem que pela cor da pele está condenado antes mesmo de se poder defender em tribunal.

O racismo profundo de uma América rural e cristã explode com toda a força do preconceito, injustificado mas fortemente enraizado nas mentes, gerando os mais violentos e boçais comportamentos.

Quando tudo está terminado e lembrando o episódio de uma tentativa de linchamento do réu, Atticus explica ao filho “O júri que condenou o Tom era composto por doze homens razoáveis, mas viste que houve algo que se interpôs entre eles e a razão. E viste a mesma coisa naquela noite em frente à prisão. Quando eles se foram embora, não foi por serem homens razoáveis, mas sim porque nós estávamos lá”.

Essa é a grande lição para todos nós. A nossa mais profunda obrigação moral é estar lá, impedir os homens razoáveis de cometer os seus crimes de ódio. Estar simplesmente lá, não desertar ou nem acobardar-se, entrepondo-nos resolutamente entre os assassinos e as vítimas, impossibilitando-os de agir criminosamente.

E claro está não deixar que nada se interponha entre nós e a razão, expulsando dos nossos corações a semente envenenada do preconceito e do racismo, que hoje desponta de novo na Europa em crise.

Um livro que é de leitura obrigatória em muitas nas escolas dos EUA, que vendeu milhões de cópias e que todos deviam ler. Um sucesso merecido. Excepcional.

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