Mataram
a Cotovia de Harper Lee
Um advogado de província de uma pequena e
pacata vila americana do período pós guerra, viúvo, educa só com uma velha
criada negra os dois filhos pequenos. A forma como o faz é admirável com uma
presença constante mas discreta, dando-lhes espaço para o erro, a orientação moral
para decidirem pela sua cabeça e protegendo-os sempre que seguem contra a
opinião dominante de vizinhos, professores ou familiares.
Atticus é o pai que queremos ser quando somos
novos ou gostaríamos de ter sido quando mais velhos. Inteligente, culto, educado,
forte, firme e contido. Não um super-herói cheio de si, apenas um homem decente
e tranquilamente corajoso.
Mas a educação das crianças e a serena firmeza
do pai são postas à prova quando ele é nomeado defensor de um homem que pela
cor da pele está condenado antes mesmo de se poder defender em tribunal.
O racismo profundo de uma América rural e
cristã explode com toda a força do preconceito, injustificado mas fortemente
enraizado nas mentes, gerando os mais violentos e boçais comportamentos.
Quando tudo está terminado e lembrando o
episódio de uma tentativa de linchamento do réu, Atticus explica ao filho “O júri que condenou o Tom era composto por
doze homens razoáveis, mas viste que houve algo que se interpôs entre eles e a
razão. E viste a mesma coisa naquela noite em frente à prisão. Quando eles se
foram embora, não foi por serem homens razoáveis, mas sim porque nós estávamos
lá”.
Essa é a grande lição para todos nós. A nossa
mais profunda obrigação moral é estar lá, impedir os homens razoáveis de cometer
os seus crimes de ódio. Estar simplesmente lá, não desertar ou nem acobardar-se,
entrepondo-nos resolutamente entre os assassinos e as vítimas,
impossibilitando-os de agir criminosamente.
E claro está não deixar que nada se
interponha entre nós e a razão, expulsando dos nossos corações a semente
envenenada do preconceito e do racismo, que hoje desponta de novo na Europa em
crise.
Um livro que é de leitura obrigatória em
muitas nas escolas dos EUA, que vendeu milhões de cópias e que todos deviam
ler. Um sucesso merecido. Excepcional.
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