quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Vinte anos e um dia



Vinte anos e um dia de Jorge Semprún

Um fastidioso e repetitivo romance erótico-político de cariz autobiográfico que se desenrola na Espanha dos anos cinquenta, quando sob a sangrenta ditadura franquista alguns estudantes e intelectuais procuram resistir clandestinamente.

Um quadro da pintora barroca italiana Artemisia Gentileschi com a decapitação do general assírio Holofernes pela traiçoeira judia Judite tema que foi glosado por tantos pintores como Lucas Cranach, Caravaggio, Goya, entre outros e um artigo de Samprún Gurrea na revista Cruz y Raya, a publicação cultural dos católicos progressistas espanhóis, são mencionados obsessivamente ao longo de toda a narrativa.  

O personagem central do livro, aquele em roda do qual tudo gira, é Francisco Sanchez o pseudónimo usado na época pelo autor, Jorge Semprúm, então membro do Comité Central do PCE, partido de que viria a ser expulso em meados nos anos sessenta.

O seu pai Semprún Gurrea, jurista e político da República, é mencionado amiúde e outros personagens ostentam nomes de familiares seus como os Maura, um seu avô Maura foi repetidamente primeiro-ministro no tempo da Monarquia, os Pomba e outros a quem coloca em situações de grande ambiguidade moral, é sugerido o incesto e a traição.

Vindo de uma família da alta burguesia citadina Jorge Semprún foi educado em França, pertenceu à resistência francesa na II Guerra, foi preso e levado para o campo de concentração. Após a guerra aproxima-se do PCE, de que foi militante durante cerca de uma década. Expulso volta a Espanha, tendo mais tarde desempenhado funções de Ministro da Cultura num governo do PSOE. Morreu em 2011.

Este romance escrito em 2003, quando Semprún já contava 80 anos, reflete uma visão a um tempo nostálgica do seu passado, a que atribui um estatuto misterioso e heróico, e reprovadora do PCE e da sua política e métodos, o que contribui para um certo desacerto no tom do livro ao pretender glorificar o agente de algo que se critica.

Semprún ganhou algum estatuto como escritor mais graças a sua passagem pelo Ministério da Cultura do que pela valia literária da generalidade da sua obra.

Sem comentários:

Enviar um comentário