sexta-feira, 25 de setembro de 2015

As Luzes de Leonor



As Luzes de Leonor de Maria Teresa Horta

Um livro que dá pena, pela pobreza de ideias, pela limitação do enredo, pela dificuldade em avançar, pelas repetições constantes, pelo uso a esmo de um mesmo vocabulário fazendo sempre apelo às mesmas palavras e que, contudo, tem mais de mil páginas. Pobre leitor, submetido, ainda que voluntariamente, a tal tortura.

E no entanto a vida de Leonor de Almeida tem tudo para que dela se possa extrair, com talento, um romance. Descendente dos Távoras passa 18 anos recolhida num convento espiando um crime que não cometera, reabilitada torna-se próxima da Rainha D. Maria I que apadrinha o seu casamento com o Conde de Oyenhausen-Groewenbourg. Está em França quando se dá a Revolução Francesa, enviúva, vive as guerras napoleónicas, estabelece-se em Inglaterra com o general francês seu amante Henry Forestier, regressa a Portugal em 1809 mas é expulsa só podendo voltar ao país em 1813. Mulher de letras e múltiplos talentos, foi uma aventureira aristocrática.

Maria Teresa Horta, personalidade forte nas letras portuguesas, recebeu um prémio literário por esta obra, o que diz muito sobre o panorama literário português.

A autora é descendente de Leonor de Almeida e por coincidência omite a fase mais polémica da vida dos Alorna, a integração do irmão no exército napoleónico e a vida da biografada com o general francês que se suspeita tenha assassinado.

Não aconselho de todo.

Educação Europeia



Educação Europeia por Romain Gary


A Alemanha resolve dar uma lição à Europa, invadindo, destruindo, matando, sempre com uma grande eficiência e profissionalismo.

Nas florestas da Polónia, perto da Lituânia, pequenos grupos de patriotas polacos resistem à fome, ao frio e à ocupação alemã, vertendo o seu sangue por um futuro melhor.

Na sua luta desesperada todas as suas esperanças se concentram em Estalinegrado (hoje Volgogrado) onde “No Volga, em Estalinegrado, há homens a combater por nós”.

Mas sobre que educação deram os alemães à Europa, os vários personagens divergem, Tadec Chmura “tinha razão. Essa educação de que falava com tanta ironia, recebemo-la quando eles fuzilam o nosso pai, ou quando tu própria matas alguém em nome de algo importante, ou quando morres de fome, ou quando arrasas uma cidade”.

Um livro interessante e que ganha nova actualidade quando a Alemanha de novo está a ensinar a Europa não com tanques mas com a sua estratégia económica da austeridade que tem vindo a atirar milhões para a pobreza, a fome e o desespero.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A Nuvem de Smog e A Formiga Argentina

A Nuvem de Smog e A Formiga Argentina por Italo Calvino



Dois interessantes contos do autor italiano, nascido em Cuba, escritos na década de 50 do século XX.

Em A Nuvem de Smog a industria com as suas emissões gasosas, densas, venenosas e mortais, empesta o ar puro e transparente tornando-o numa mistela cinzenta e opaca que depois se deposita nas paredes das casas, nos móveis, nos papeis e nas roupas tudo cobrindo de pó e que se infiltra na profundamente na alma provocando um alheamento, uma tristeza, uma visão angustiada da vida.

Num mundo assim onde pode residir a esperança e a redenção? Naturalmente naqueles que ousam imaginar, planear e construir uma alternativa diferente à triste e parda sociedade em que vivem.

A Formiga Argentina conta-nos o desapontamento, a revolta e a frustração de um casal que se instala, sonhando com um recomeço auspicioso, numa localidade infestada de formigas que tudo arrastam, destroem e devoram numa infindável e permanente luta vitoriosa contra os variados métodos de extermínio que os desesperados habitantes locais intentam.
    
Ambos os contos, criam uma atmosfera de chumbo que cerca e aniquila as pessoas submetendo-as a um desconforto físico e psicológico permanente de que parecem não conseguir libertar-se.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O Dinheiro



O Dinheiro por Mário Coutinho dos Santos


O mais recente ensaio publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos tem por título Dinheiro e por autor Mário Coutinho dos Santos, um professor convidado de Economia da Universidade Católica de Lisboa.

De forma muito acessível e muito simplificada, mas nem sempre inteligível e por vezes repetitiva, o autor procura explicar-nos o que é o dinheiro, como surgiu e evoluiu, quais as suas principais funções e características.

Ao nível das teorias sobre a importância do dinheiro na economia o autor só refere, com algum detalhe, a de Irving Fisher mais tarde desenvolvida por Milton Friedman, mas deixa de fora todo um largo e diversificado conjunto de teorias económicas sobre o papel da moeda e sobre a sua interacção com a produção de bens e serviços.

Fica-nos a sensação que o tema poderia ser muito mais explanado e aprofundado sem que se perdesse a clareza e a concisão essenciais em trabalhos, como este, dirigidos ao grande público.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A Queda



A Queda por Albert Camus

Um voo vertiginoso ao âmago da consciência do pequeno burguês intelectual bem pensante, bom samaritano, pleno de auto-confiança no agir profissional e no estar em sociedade, bem sucedido no trabalho e junto das mulheres, jubiloso com a sua imagem pública e com a opinião dos outros.

Este voo contudo depressa se transforma em queda desamparada quando o personagem, depois de alguns episódios em que a sua coragem e rectidão moral foram testados, se confronta com a sua verdadeira dimensão humana. Revela-se aos seus próprios olhos a hipocrisia, o falso moralismo, a indiferença com que olha os outros, o falso amor que promete às amantes, o egoísmo tremendo da sua existência. Sente então com toda a força da evidência o peso intolerável julgamento dos outros a quem sente ter de revelar a sua real natureza.

Livro do pós-guerra, editado em 1956, está escrito em estilo confessional num longo, mas vivo e sentido, monologo em que o personagem, um juiz-penitente (“lamento sem absolver, compreendo sem perdoar e sobretudo, ah sei que me adoram”), conta a sua vida, o seu tombo e o método que inventou para suportar a vida.