terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Onda Septimus

A Onda Septimus por Jean Dufaux, Antoine Aubin e Étienne Schréder

A continuação da celebre Marca Amarela mas sem a frescura e sem o estilo e o encanto de Edgar Pierre Jacobs.

Todos os anos pelo Natal sai um álbum das aventuras de Blake e Mortimer, mas a verdade é que a cópia, mesmo quando feita por autores credenciados e talentosos, nunca chega ao patamar do original.

Diga-se contudo que de todas as aventuras publicadas depois da morte do criador esta é porventura a que mais se aproxima da qualidade dos primeiros trabalhos de Jacobs.

sábado, 28 de dezembro de 2013

O Deserto dos Tártaros por Dino Buzzati

Um jovem tenente é enviado para uma velha fortaleza fronteiriça na remota confluência de uma montanha inóspita e de um extenso deserto terroso, pedregoso, e inabitado. Aí vai, por decisão própria, consumir toda a sua vida primeiro na vã expectativa de um feito militar glorioso, depois numa desistência indolente e apática mas não infeliz.

A rotina instala-se, os dias voam, o isolamento torna o ambiente fechado mas acolhedor. Os habitantes da fortaleza formam uma espécie de confraria frouxa mas irmanada numa vaga e cada vez mais esbatida e clandestina esperança. E quando a fé do tenente, agora já major, se esvai e a resignação de uma vida desperdiçada, triturada na inação, se instala o destino prega-lhe uma última, irónica e dolorosa partida.

Uma reflexão sobre os grandes temas da Vida Humana. Os efeitos do tempo e da distância, a juventude dando lugar ao envelhecimento, a esperança a transformar-se em aceitação, a proximidade que se transmuta em estranheza, o amor em amizade, a amizade em vago conhecimento. Tudo se passando impercetivelmente, tranquilamente, sem esforço, sem nos darmos conta até ser tarde de mais, até ser impossível fazer reverter a situação. O tempo que passa, cada vez mais veloz, e tudo consome, tudo arrasa e que, invariavelmente, nos arrasta numa única e tenebrosa direção.

A fortaleza como metáfora das aparentemente atraentes ou inócuas, mas extremamente  perigosas, armadilhas que a existência nos estende. A rotina que aprisiona docemente, a esperança que justifica a procrastinação, o isolamento que afasta impercetivelmente, a inércia que nos amarra, a inação que nos seduz, são ardis que temos de evitar para viver a nossa vida em pleno e para que, ao olhar para trás, não deparemos horrorizados com um deserto árido e seco. 

O será a vida, com o tempo sempre a passar, ela mesma uma grande e terrível armadilha.

Um livro excecional.

A vista de Castle Rock

A Vista de Castle Rock por Alice Munro


A saga familiar romanceada da autora é o foi condutor de uma série de histórias que se espraiam no tempo, do século XVII aos dias de hoje, e no espaço da emigração escocesa para a América do Norte.

As personagens pessoas comuns, agricultores pobres na sua Escócia natal, lançados na aventura da emigração, tornando-se pioneiros ocupando as vastas terras férteis do Canada, o ramo que ruma aos Estados Unidos não vinga e os sobreviventes juntam-se também aos familiares estabelecidos mais a Norte. Por muitas gerações vão manter a sua religião, a sua língua e sotaque, as suas tradições familiares. A família mantém-se unida vivendo perto uns dos outros.

Com o declínio da agricultura depois da segunda guerra mundial são obrigados a uma passagem para a indústria, como trabalhadores por conta de outra, conseguindo por fim que alguns façam estudos superiores e se fixem nos serviços, saindo do campo e migrando para a cidade.

As personagens surgem finamente esculpidas em toda a sua simplicidade e complexidade, com as suas obstinações e idiossincrasias, com as suas qualidades e defeitos, com a sua mentalidade camponesa educada na exigente fé protestante reformada.

Tão importantes quanto as pessoas surgem as paisagens que as albergam e abrigam. Cenários variados, selvagens, criados pela poderosa descida dos glaciares, depois domesticados pela ação do Homens que neles se instalam, erguendo as suas casas e plantando as árvores e as plantas que reconstroem a paisagem e a humanizam.

Alice Munro ganhou o prémio Nobel da Literatura em 2013. 

domingo, 8 de dezembro de 2013

8 Lições de História Económica

8 Lições de História Económica de Jean-Marc Daniel


Jean-Marc Daniel é um economista francês de tendência neoliberal. Neste livro defende, com recurso a episódios históricos descontextualizados,  as ideias desta escola, a recusa do deficit público,  a repulsa pela inflação, a defesa da austeridade e do monetarismo.

Dirige uma revista, a Sociétal, que se diz aberta a todas as ideias mas,  nas palavras do próprio Daniel, onde é proibido publicar artigos que defendam praticas económicas contrárias à “liberdade” como o proteccionismo. Quando a defesa da liberdade passa pela censura está tudo dito sobre a estatura, moral, política e científica, do pensamento deste respeitado economista francês.