sábado, 28 de dezembro de 2013

O Deserto dos Tártaros por Dino Buzzati

Um jovem tenente é enviado para uma velha fortaleza fronteiriça na remota confluência de uma montanha inóspita e de um extenso deserto terroso, pedregoso, e inabitado. Aí vai, por decisão própria, consumir toda a sua vida primeiro na vã expectativa de um feito militar glorioso, depois numa desistência indolente e apática mas não infeliz.

A rotina instala-se, os dias voam, o isolamento torna o ambiente fechado mas acolhedor. Os habitantes da fortaleza formam uma espécie de confraria frouxa mas irmanada numa vaga e cada vez mais esbatida e clandestina esperança. E quando a fé do tenente, agora já major, se esvai e a resignação de uma vida desperdiçada, triturada na inação, se instala o destino prega-lhe uma última, irónica e dolorosa partida.

Uma reflexão sobre os grandes temas da Vida Humana. Os efeitos do tempo e da distância, a juventude dando lugar ao envelhecimento, a esperança a transformar-se em aceitação, a proximidade que se transmuta em estranheza, o amor em amizade, a amizade em vago conhecimento. Tudo se passando impercetivelmente, tranquilamente, sem esforço, sem nos darmos conta até ser tarde de mais, até ser impossível fazer reverter a situação. O tempo que passa, cada vez mais veloz, e tudo consome, tudo arrasa e que, invariavelmente, nos arrasta numa única e tenebrosa direção.

A fortaleza como metáfora das aparentemente atraentes ou inócuas, mas extremamente  perigosas, armadilhas que a existência nos estende. A rotina que aprisiona docemente, a esperança que justifica a procrastinação, o isolamento que afasta impercetivelmente, a inércia que nos amarra, a inação que nos seduz, são ardis que temos de evitar para viver a nossa vida em pleno e para que, ao olhar para trás, não deparemos horrorizados com um deserto árido e seco. 

O será a vida, com o tempo sempre a passar, ela mesma uma grande e terrível armadilha.

Um livro excecional.

Sem comentários:

Enviar um comentário