O Deserto dos Tártaros por Dino Buzzati
Um jovem tenente é enviado para uma
velha fortaleza fronteiriça na remota confluência de uma montanha inóspita e de
um extenso deserto terroso, pedregoso, e inabitado. Aí vai, por decisão
própria, consumir toda a sua vida primeiro na vã expectativa de um feito militar
glorioso, depois numa desistência indolente e apática mas não infeliz.
A rotina instala-se, os dias voam,
o isolamento torna o ambiente fechado mas acolhedor. Os habitantes da fortaleza
formam uma espécie de confraria frouxa mas irmanada numa vaga e cada vez mais
esbatida e clandestina esperança. E quando a fé do tenente, agora já major, se
esvai e a resignação de uma vida desperdiçada, triturada na inação, se instala
o destino prega-lhe uma última, irónica e dolorosa partida.
Uma reflexão sobre os grandes temas
da Vida Humana. Os efeitos do tempo e da distância, a juventude dando lugar ao envelhecimento,
a esperança a transformar-se em aceitação, a proximidade que se transmuta em
estranheza, o amor em amizade, a amizade em vago conhecimento. Tudo se passando
impercetivelmente, tranquilamente, sem esforço, sem nos darmos conta até ser
tarde de mais, até ser impossível fazer reverter a situação. O tempo que passa,
cada vez mais veloz, e tudo consome, tudo arrasa e que, invariavelmente, nos
arrasta numa única e tenebrosa direção.
A fortaleza como metáfora das aparentemente
atraentes ou inócuas, mas extremamente perigosas,
armadilhas que a existência nos estende. A rotina que aprisiona docemente, a
esperança que justifica a procrastinação, o isolamento que afasta
impercetivelmente, a inércia que nos amarra, a inação que nos seduz, são ardis
que temos de evitar para viver a nossa vida em pleno e para que, ao olhar para
trás, não deparemos horrorizados com um deserto árido e seco.
O será a vida, com o tempo sempre a
passar, ela mesma uma grande e terrível armadilha.
Um livro excecional.
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