domingo, 29 de maio de 2016

Nada do outro Mundo



Nada do Outro Mundo de Antonio Muñoz Molina

Uma dúzia de contos fantásticos contemporâneos, em que o fantástico se mistura com o quotidiano tornando-o mais insólito, improvável e surpreendente.

Em cada conto encontramos uma reflexão que vai para lá do tradicional conto fantástico que se esgota no irreal e no imaginário e no efeito surpreendente que só pode ser explicado com recurso a outra dimensão que não aquelas em que vivemos.

O professor apaixonado por uma aluna menor, a juventude de um escritor promissor, o pianista caprichoso, o escritor de policiais baratos, o actor que leva o seu papel a sério, o assassino confesso, o vendedor ambulante, são personagens profundas com forma e fundo que nos convencem e cativam.

O mundo em que estas personalidades se movem é complexo mas verossímil, a sua estrutura psicológica desenhada com minúcia, mas o que acontece passa, por vezes, para o domínio do fantástico.

E basta tão pouco, às vezes apenas uma mudança de olhar, de perspectiva, para que a realidade se transforme, ou se explique, de uma forma mais inquietante.

Antonio Muños Molina é um escritor espanhol consagrado vencedor de vários galardões literário entre eles o Prémio Príncipe das Astúrias um dos maiores distinções literárias do mundo.

sábado, 28 de maio de 2016

Agatha



Agatha de Marguerite Duras

Procurando fazer-nos crer, que inspirada na obra de Musil, Um Homem sem Qualidades, por explicitamente a convocar, esta peça de teatro glossa um dos grande temas da obra de Marguerite Duras: o incestuoso amor entre irmãos.

Agatha e o irmão partilham recordações e dolorosamente felizes de tempos de uma juventude não muito longínqua, passada à beira de água, com uma mãe sempre presente. Episódios fragmentados, sem sequência mas que juntos contam as suas histórias e o seu amor proibido.

A escrita de Durras, com as suas frases suspensas, através do subentendido, do não dito mas pressentido, revela-nos esta história triste, sempre num clima de uma terrível tensão civilizadamente contida entre as duas únicas personagens.

Magistral pelo seu minimalismo, pela atmosfera que cria, pelas emoções que desencadeia.

sábado, 21 de maio de 2016

A Construção de Estados

A Construção de Estados por Francis Fukuyama

Um país com um Estado fraco, incapaz de garantir a coesão social e o cumprimento das leis é um perigo para os seus cidadãos e uma ameaça para a comunidade internacional.

Inebriados pela vitória na guerra fria os Estados Unidos lançaram-se na senda de, através de instituições financeiras internacionais como o FMI e o Banco Mundial, obrigar os diversos países a reduzir o Estado.

Sendo que internamente não existia apoio, procura, para a implementação das reformas neoliberais favorecidas pelos EUA era necessário recorrer a outras formas “A primeira consiste nas várias condições ligadas ao ajustamento estrutural, programação e projetos de empréstimos de agências externas de auxílio, doadores ou emprestadores. A segunda é o exercício direto de poder político por parte de autoridades externas que reivindicam a soberania em Estados falhados, falidos ou ocupados”.

Veja-se como Portugal se encaixa das duas formas primeiro empurrado pela União Europeia para políticas de regressão social em contrapartida de apoio financeiro e depois despojado da sua soberania real que passou para as mãos de uma troika de instituições internacionais (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).

O resultado está a ser uma catástrofe global com cada vez mais países, Somália, Etiópia, Líbia, Mali, Afeganistão, Kosovo, entre outros, submergidos na mortal anarquia da ausência de estado. A educação desaparece, a saúde não é assegurada, a simples segurança da vida humana é precária, não existem leis para além da da selva.

É fácil destruir o Estado mas muito difícil se não impossível construi-lo de fora da para dentro.


Num momento em que na Europa, exatamente uma política financeira centralizada impõe uma destruição do aparelho de Estado em vários países como a Grécia, Portugal, a Espanha e muitos outros, escrito por um conservador, este é um livro oportuno e certeiro em muitos pontos.

É já um clássico da ciência política.