terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Problematizar a Sociedade

Problematizar a Sociedade por Vitorino Magalhães Godinho


Problematizar a Sociedade é um livro de Sociologia, em que Vitorino Magalhães Godinho nos dá uma panorâmica dos problemas que se devem colocar a quem quer perceber a sociedade em que vive. Uma reflexão exemplificada sobre as teorias, as metodologias, as investigações.

Uma defesa inteligente da interdisciplinaridade nas ciências sociais. Uma recusa das ciências sociais como sistema fechado. “Na ciência como sistema fechado, os factos que relevam do seu campo explicam-se por factos igualmente desse campo. Os factos económicos são função de factos económicos, os factos políticos, de factos políticos”. Ora todos percebemos como fatores económicos podem determinar a evolução política e vice-versa.

Interrogações que se põem sobre o mundo em que vivemos em pleno ano de 2011. “A crise de 2007-2011,que corre o risco de prolongar-se, veio baralhar os desenhos da sociedade global, e ficamos na incerteza do que virá a ser a sua estruturação. Por agora a única certeza é o agravamento das desigualdades…”.

Problematizar é formular hipóteses de forma interrogativa”. Este livro ajuda-nos a constituir as questões e a procurar as respostas.

Um legado póstumo, publicado no ano em que Vitorino Magalhães Godinho morreu.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Catch-22

Catch-22 por Joseph Heller


Ave Caesar, morituri te salutant

A guerra pelos olhos atónitos dos seus intervenientes, os militares.

Romance autobiográfico de travo surrealista, em que o que parece absurdo é apenas a realidade vista através de uma lupa que simultaneamente a magnifica e isola.

Através de um humor aparentemente cínico e insensível o autor mostra-nos os horrores da guerra e a desumanização que induz nos que nela são envolvidos. Sem essa capa de hipocrisia a realidade descrita seria intolerável e, provavelmente, descartada como falsa.

A explicação pelo paradoxo que em vez de confundir nos esclarece e nos provoca o clique da compreensão.

Colaboração

Colaboração por Henry James


Três pequenos contos editados num mesmo livro. Em Colaboração dois homens muito diferentes, talhados para serem rivais, acabam por, mesmo em circunstâncias muito adversas, colaborar em prol da Arte. No segundo conto, Um Homem Leve, dois jovens adultos supostamente amigos evoluem para uma competição feroz pela herança de um idoso. Em O Pupilo temos a relação de dedicação e amizade entre um perceptor e o seu jovem e frágil aluno num contexto familiar assaz inquinado.

As relações interpessoais, díades ou tríades, analisadas com fino rendilhado, oferecendo ao leitor um relato pormenorizado da evolução psicológica dos personagens, desde as suas perceções da situação em que se encontram, aos desejos e objetivos que formulam, e às táticas a que recorrem para atingirem os seus desideratos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Portugal

Portugal . p&b

Portugal p.b.é um belo livro de fotografias tiradas no nosso país. Um retrato fiel e verdadeiro, que a objectiva não mente, do nosso país, da nossa sociedade.

Um retrato a preto e branco mas não maniqueísta, pelo contrário muito pluralista. Um auto-retrato a várias mentes.

A imagem que obtemos é nítida mas não muito lisonjeira e em franca dissonância com os sonhos modernistas espalhados na última década e que, de facto, não passaram de uma ilusão e de simples propaganda.

Vemos um país de paisagens naturais deslumbrantes, de sol meridional, ocupado por um povo pobre e envelhecido, vergado pelo trabalho braçal mantendo costumes arcaicos, vemos infra-estruturas gastas, casas degradadas e vemos também uma nesga de modernidade querendo romper.

E vemos também a alma melancólica, pisada, sofredora do português e sua forma suave e tranquila de ser e estar.


domingo, 13 de novembro de 2011

Jogos de Azar






Jogos de Azar por José Cardoso Pires


O Portugal profundo dos anos 40 desvendado sem piedade e sem maquilhagem. Um país pobre, rude, calcado pelas elites políticas e económicas, mostrado através de um conjunto de contos em que desfilam ante os nossos olhos surpresos, acustomados à coloração cor-de-rosa e romantica que de do passado nos dão as nossas televisões, vidas dramáticas, despedaçadas pelo infortúnio, pela incúria das autoridades, pelas carências economicas, sociais e morais.

Uma sociedade seca, dura, bárbara, longe da modernidade, em que se pode morrer sem assistência num acidente de trabalho, ser vendido por um punhado de escudos, ou violada sem protecção nem direitos. Estilhaça o mito dos brandos costumes, que na verdade não existem, e ilumina o verniz que esconde o lado áspero, violento e monstruoso do nosso país. O imprério da lei da selva antes mesmo do neo-liberalismo. Uma realidade assustadora, arrepiante para a qual estamos a retroceder a passos largos.

Um livro que nos interpela, desafia e revolta. Em suma, um grande livro.

Algés ao longo dos tempos

Algés ao longo dos tempos de Levy Nunes Gomes




Apontamentos desgarrados e sem fio condutor sobre a história, os monumentos, a vida e as principais instituições privadas e públicas da freguesia de Algés.

De inicio Algés era a denominação de um vasto reguengo, i.e. uma propriedade do Rei, que ia da Ribeira de Alcântara à Ribeira do Jamor que D. Afonso Henriques reservou para si após a conquista de Lisboa. Se o nosso primeiro Rei pôde ficar com a terra não conseguiu mudar a designação árabe, que ainda hoje se mantém. O termo Algés deriva da palavra al-geis, que significa “o giz”, minério existente na região.

Contém informação útil para quem queira conhecer melhor a Freguesia de Algés.

domingo, 6 de novembro de 2011

After-Shock


After-Shock por Robert B. Reich




Nas últimas três décadas a economia americana tem vindo a expandir-se a bom ritmo. Mas os benefícios desse crescimento foram praticamente todos apropriados pelos 10% dos americanos que estão no topo. O salário mediano estagnou durante este longo período.

E no entanto o consumo aumentou fortemente. A parte de leão do consumo foi feita pelos mais ricos - os 10% do topo consumiram mais de 40% do total do consumo!!

A classe média contudo também aumentou o seu consumo. E como o fizeram se o seu rendimento ficou estagnado? Recorrendo a três mecanismos de compensação. A entrada das mulheres no mercado de trabalho adicionou mais um ordenado aos rendimentos do casal e o recurso a mais horas de trabalho.

Quando os estes dois mecanismos se esgotaram (a maioria das mulheres já trabalha e já não é aos americanos trabalhar mais horas) a classe média recorreu ao crédito, dando como garantia as suas casas. Enquanto durou a bolha imobiliária foi possível obter empréstimos cada vez maiores com base na mesma casa que continuamente se valorizava e permitia ao proprietário aumentar o seu empréstimo. Com o rebentar da crise do crédito imobiliário (crise do subprime) este mecanismo de compensação também se esgotou.

Reich argumenta então que na ausência de possibilidade de consumo da classe média (que define como os 40% da população para cima e para baixo do rendimento mediano) a economia não pode recuperar. Como resolver então esta crise?

A resposta é simples e evidente. Redistribuir a riqueza entre os mais têm e os outros. Assim advoga uma reforma do imposto sobre o rendimento (todo o rendimento, independentemente da sua fonte seria à mesma taxa) que colecte os mais ricos e distribua dinheiro à classe média. Advoga também a introdução de um cheque escola regressivo (tanto maior quanto menor o rendimento da família) que permitisse aos americanos mais pobres colocar os filhos nas melhores escolas. Lista ainda outras medidas de redistribuição activa.

Reich defende que uma maior distribuição do rendimento seria benéfica quer para a classe média quer para os ricos, porque colocaria a economia numa rota de crescimento sustentado que a todos beneficiaria.

Por outro lado, identifica o risco de a indignação dos americanos da classe média cada vez mais empobrecidos num país cada vez mais rico, se materializar na eleição de radicais de direita para o Congresso e mesmo para a Presidência. Isso seria, na sua opinião, catastrófico. Uma redistribuição reporia a justiça social e o daria corpo ao famoso “sonho americano”.

Reich relembra que antes da grande depressão os Estados Unidos também tiveram uma distribuição de rendimento tão desigual como a actual e que esta foi uma das causas da crise (os americanos não podiam, por falta de recursos, consumir os bens produzidos e a economia parou). Por outro lado quando a distribuição de rendimento foi mais equilibrada, como no período que se seguiu à II Guerra Mundial, a economia cresceu a ritmos fortes no que foi conhecido como os Trinta anos gloriosos.

Excelente livro. Devia ser bem divulgado.

Robert B. Reich foi secretário do trabalho na administração Clinton e é professor na Universidade da Califórnia.

Sept Survivants





Sept Survivants por Luca Blengino com desenhos de Denys e cor de Delf






Um túnel vivo e sádico em que se entra mas de que não se sai facilmente. Sangue, violência e morte em doses massivas e sem justificação aparente. Uma moral aparente: para vencer um espírito maligno só um vilão ainda maior.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A questão Finkler

A Questão Finkler por Howard Jacobson

Uma auto-consciência aguda, crítica e irónica da situação judia é o ingrediente que humaniza este livro e torna a sua leitura simultaneamente divertida e intelectualmente estimulante.

Mas por baixo desta camada superficial de um verniz brilhante de auto-critica impiedosa revela-se uma defesa intransigente de Israel, do sionismo, da diabolização dos palestinos e o retrato dos gentios como seres destituídos de senso, desejosos de se tornarem judeus.

O livro é um toque a rebate para a unidade da disporá judaica. Subtilmente o autor defende que apesar da secularização, apesar das críticas superficiais e até ridículas a Israel de alguns judeus, apesar de alguns aspectos da religião, como a circuncisão, poderem ser descritos de uma forma cómica, no fundo os judeus serão sempre judeus e devem permanecer unidos face ao anti-semitismo crescente em todo o mundo, e que é importante manter e apoiar um Estado que possa em caso de necessidade servir de abrigo aos judeus dispersos pelo mundo.

Muitos aspectos do judaísmo são colocados à discussão, a visão crítica é apresentada, mas sempre sob uma tal luz, que a torna superficial e sem verdadeiro sentido, enquanto a visão tradicionalista que é num primeiro momento atacada acaba por, astutamente, surgir como profunda e mais adequada. A crítica mesmo que mordaz, mesmo que apresentada com simpatia, salientando a sua elegância intelectual e o seu evidente forte lado apelativo, mesmo que lógica esbarra desajeitadamente na solidez da tradição.

A luta dos palestinianos e os ataques anti-semitas são misturados e confundidos para que surjam como sinónimos na cabeça dos leitores. Mas o assassinato de palestinianos só aparece executado por um louco desesperado preste a ser despejado com a sua mulher e os seus numerosos filhos do seu colonato. Pela discrição que é feita, percebemos o seu acto tresloucado e por um momento como que nos esquecemos das vitimas inocentes e simpatizamos com ele. A mensagem está lá os palestinos são terroristas mas os excessos dos israelitas são fruto dos nervos em franja pela pressão que a resistência palestina.

O personagem Treslove, o protótipo do gentio, surge como um indivíduo irresponsável, destituído de engenho e arte, um morto vivo errante pela face da terra sem objectivo nem destino. Na sua melhor fase, quando se interroga sob o sentido da sua vida e está finalmente pronto, aos 49 anos, para assumir afirmativamente o seu destino o que escolhe é … tornar-se judeu. Uma verdadeira impossibilidade, uma vez que só pode ser judeu quem nasce de mãe judia.

Um livro inteligente, não panfletário mas claramente partidário. Uma mensagem de racismo e ódio sob uma capa de bonomia e auto-reflexão. Um exemplo de como a propaganda pode andar de mão dada com o bom gosto, com a erudição e com o sentido de humor mais requintado, em suma com a literatura.

domingo, 30 de outubro de 2011

Como nos livramos do Euro?




Como nos livramos do Euro? por Jean-Jacques Rosa

“Os eurocépticos tinham apontado claramente as desvantagens futuras de uma moeda única aplicada a economias diferentes. Triunfaram em toda a linha.” Assim começa esta obra do economista liberal francês Jean Jacques Rosa, um opositor de primeira hora ao projecto do Euro.

Segundo ao autor a crise que hoje vivemos deve-se, em grande medida ao Euro, que pelas suas baixas taxas de juro e pelo seu forte valor se transformou “uma terrível máquina de pedir emprestado”.

Acusa o Euro de estar somente ao serviço do modelo alemão e de não ser útil para as restantes economias. De facto a Alemanha parece ser dos poucos países que manteve a sua competitividade no interior de um Euro forte. Isto porque “a moeda forte reduz o preço de produtos intermédios que são utilizados na produção final de bens. É sobretudo o que acontece no «modelo alemão», que consiste em importar, nomeadamente da Europa Central e de Leste, componentes já elaborados os quais são depois integrados nos bens produzidos na própria Alemanha antes de serem exportados, seja para países terceiros, seja para países da zona Euro”.

Para outros países com modelos económicos diferentes o Euro forte é uma fonte de perca de competitividade assustadora.

Mas se é assim tão mau porque foi para a frente tal projecto de unificação monetária. Jean-Jacques identifica os grandes beneficiados do Euro: “Do ponto de vista económico, a resposta é muito simples: são os grandes utilizadores dos empréstimos quem beneficia de uma moeda única e forte, visto que as dívidas expressas numa tal moeda são muito procuradas pelos investidores por ser muito seguro o seu reembolso e porque o seu largo mercado lhes assegura uma grande liquidez”.

E quem são esses grandes utilizadores de empréstimos? “Os principais devedores são conhecidos: os Estados, os «novos bancos», que reinventaram os seus negócios nos anos 80, e as grandes empresas”.

Assim propõe este economista a França deve preparar-se para defender uma desvalorização do Euro e quando este tiver suficientemente baixo abandonar a moeda única, fazendo-o a paridade (1 Franco=1 Euro). E deve fazê-lo logo porque “não se poderá esperar muito tempo, porque o maior risco seria a saída da zona euro por parte dos países do Sul antes da nossa saída: nesse caso, o valor do Euro respeitante à zona Norte da Europa subiria em relação ao dólar e a saída da França seria muito mais dolorosa”.

Um livro polémico mas muito interessante. A tradução deixa a desejar mas não adultera o sentido do que é dito.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um crime quase perfeito




Um crime quase perfeito por John Le Carré

Um das primeiras obras de Jonh Le Carré publicada em 1962 e que precedeu o primeiro livro de espionagem o êxito que foi e é "O Espião que veio do Frio".

Um policial em que a figura central Smiley é um antigo espião com carreira durante a II Guerra Mundial. Trata-se um um crime anúnciado em que a vítima sabe que vai ser morta mas suspeita da pessoa errada.

O livro entreabre-nos a porta para o mundo selecto e elitista dos colégios particulares ingleses, onde chumbar num exame pode ter consequências desastrosas para a vida de um jovem.

Não sendo dos melhores livros de John le Carré, é leitura fácil e agradável.

sábado, 15 de outubro de 2011

Os Portugueses

Os Portugueses por Barry Hatton


Barry Hatton vive em Portugal, conhece o país e as suas idiossincrasias. A descrição que faz dos portugueses tem muito de verdade e qualquer pessoa que goste de sondar a nossa alma colectiva com certeza concordaria com muito do que escreve. Por outro lado, Hatton revela uma simpatia sincera pelo país e com um estilo bem-humorado e simpático consegue dizer verdades duras sem ofender.

A imagem que nos oferece é a tradicional de um povo pacífico de revoltados, de um povo colonizado pela sua própria elite, um povo decadente e sem perspectivas, um povo passivo, sem iniciativa, e incapaz de lutar pelos seus direitos, mas simultaneamente um povo extremamente acolhedor, bondoso, capaz de nas condições mais extremas, gozar a vida, apreciar os prazeres simples da cozinha, da natureza, da praia e do lazer. È a descrição tradicional, mil vezes repetida, que as elites do Norte têm dos países do Sul.

Mas essa visão contém muitos erros de etnocentrismo. Um dos mitos mais arraigados é o de que os povos do Sul trabalham menos, porque são mais preguiçosos. Hatton conta-nos o choque que foi para os britânicos quando viram que os inspectores da Polícia encarregues do caso Maddie estavam a almoçar! De facto povos do Norte e do Sul têm uma organização horária muito diferente, por causa do mais reduzido período de luz solar que têm, nomeadamente no Inverno.


Os povos do Sul trabalham indiscutivelmente mais horas, fenómeno estatisticamente comprovado, mas fazem-no ao longo de dois períodos distinto separados por uma refeição que tende a ser a principal do dia. Os nórdicos têm no pequeno-almoço uma refeição muito mais reforçada e, consequentemente, a pausa do almoço tende a ser muito menor ou, em alguns casos, inexistente. Em contrapartida a hora de saída dos empregos é muito mais cedo. Na Holanda, por exemplo a hora de jantar normal é às 18 horas. A essa hora muitos portugueses ainda estão a trabalhar. Confundir diferentes organizações do horário diário com preguiça é um erro grosseiro que qualquer bom observador consegue evitar. Não é o caso de Barry Hatton que reproduz as banalidades do costume.

Apesar de tudo vale a pena ler.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Bursts

Bursts por Albert-Lászlo Barabási





Um livro interessante em que Albert-László Barabási procura, com exemplos concretos e simples, demonstrar que o comportamento humano é previsível. Conhecida a actividade passada de uma dada pessoa é possível prever, com um elevado grau de certeza, a sua localização e a sua actividade nos próximos dias, semanas ou meses. Conhecer o passado é antecipar o futuro.

Barabási demonstra que duas verdades dadas por adquiridas pela opinião dominante no mundo das ciências sociais não passam de mitos. A primeira é a tese de Karl Popper de que é impossível antecipar a actividade humana, isto é que o agir e devir do ser humano e da sua sociedade são imprevisíveis e a segunda é a tese de que a famosa curva de sino própria dos fenómenos aleatórios se aplica sempre ao comportamento social e individual.

De facto se tivermos dados suficientes, como a tecnologia actual já permite recolher, e que as empresas de telecomunicações, de serviços de GPS, e outras já dispõem, podemos modelar o comportamento das pessoas e prever com um grau muito elevado de precisão os seus passos futuros.

Sendo o ser humano um animal de hábitos isto não surpreende. Sabendo onde mora e onde trabalha consigo prever com muita segurança onde é que estará qualquer pessoa durante boa parte do dia (naturalmente em casa ou no trabalho), se souber onde costuma fazer compras e o tipo de lazer de que gosta ainda mais consigo prever. Sem qualquer magia. Sem que qualquer processo aleatório se imiscua nesta previsão. Extraordinária e contra intuitiva era a premissa dominante de aleatoriedade do comportamento humano. Cada vez estou mais convencido que a aleatoriedade, em ciências sociais, desempenha o papel da religião e esconde áreas de ignorância com falsas certezas.

Barabási mostra também que a actividade humana é regida por prioridades. Como temos um tempo limitado (o dia tem 24 horas) e não conseguimos fazer tudo em simultâneo atribuímos, consciente ou inconscientemente, prioridades ao que queremos fazer. Assim a actividade humana relativa a qualquer tema caracteriza-se por irrupções (Bursts) e por períodos de acalmia. Respondo aos e-mails recebidos e depois concentro-me noutra coisa e só passado horas é que volto aos e-mails. Estas irrupções podem ser descritas por uma função de potenciação – que usualmente é descrita pela seguinte fórmula: 〖f (cx)= a (cx)〗^k.

Hábitos e prioridades eis as chaves do comportamento humano.

Num futuro não muito longínquo será possível antever com precisão o desenrolar da vida futura de cada pessoa.

É de um território novo e, talvez por isso, perturbador. Apesar de estar preso ao hábito como qualquer outra pessoa gosto de sentir que sou livre de dar o rumo que pretendo à minha vida e não estou certo que gostaria de conhecer antecipadamente o meu futuro. Estou, porém, certo que se outros o pudessem fazer então eu também exigiria ter acesso a essa informação.

domingo, 18 de setembro de 2011

Ema


Ema por Jane Austen


Uma rapariga rica, no campo da aristocrática Inglaterra na época georgiana. Uma sociedade rigidamente hierarquizada, em que os casamento se processam no interior de cada estrato social por mais laminar que este seja.

Bem intencionada, mas insensata Ema pretende fazer de casamenteira, incentivando e aproximado possíveis pares mas os matrimónios finais não serão os que ingenuamente imagina e planeia.

Uma comédia de maneiras e enganos que na pena de Jane Austen é simultaneamente uma elegante e suave análise psicológica das personagem e sociologica do meio em que se movem.

domingo, 11 de setembro de 2011

A Morte

A Morte por Maria Filomena Mónica


Uma defesa pouco alicerçada da eutanásia ou morte assistida. O estilo de Maria Filomena Mónica (MFM) é sempre fluído, claro e agradável mesmo quando fala de temas difíceis, o que faz com frontalidade e elevação. No entanto existem muitas questões fulcrais que ficam sem resposta, e os argumentos a favor restringem-se ao encurtar um sofrimento prolongado e à manutenção da dignidade do indivíduo que seria posta em causa pela demência associada à velhice.

No caso da demência MFM vai ao ponto de defender que poderiam ser terceiros (médicos, família ou magistrados) a decidir pelo indivíduo, visto este estar num estado que lhe não permite pensar por si próprio. Não encontro diferenças substanciais entre esta situação e a repugnante eutanásia activa praticada sobre doentes mentais pelo regime nazi. Ambas declaram que seres humanos com deficiência mental não são dignos de viver e consequentemente, e para seu bem, devem ser mortos. Não se trata a meu ver de suicídio assistido mas de assassinato puro e duro.

Por outro lado se o sofrimento é grande podem e devem encontrar-se formas de o eliminar ou reduzir, mas nunca encurtar a vida do doente, nem mesmo a seu pedido.

Existem situações limite, pessoas em vida vegetativas ligadas a máquinas durante anos, que merecem reflexão cuidada. Por vezes indivíduos em coma profundo por vários anos acordam e retomam a sua vida normal. Na maioria das vezes, infelizmente, isso não acontece e a morte sobrevém. Não existem ainda meios de saber antecipadamente quem tem hipóteses de recuperar e quem não têm. A fraca percentagem de recuperação justifica a negação do tratamento? Não será a tentativa de tratamento mesmo em casos desesperados que leva à descoberta de remédios eficientes? Veja-se o caso da SIDA que começou como doença fulminante e hoje é uma doença crónica. Se os doentes em vez de tratados fossem abandonados nunca se teriam dado passos em direcção à cura.

Pelo meu lado tendo a pensar que enquanto há vida há esperança e a ser contra a eutanásia, principalmente aquela que é decidida por terceiros.

Num ponto estou totalmente de acordo com MFM: a ausência de debate em Portugal é preocupante e indicia que, sem regras e princípios claros, sem órgãos de fiscalização, sem sanções explícitas e aplicadas, cada profissional de saúde decidirá por si e, consequentemente, existirão múltiplas práticas nos hospitais incluindo a da eutanásia sem que ninguém verdadeiramente se importe. O indivíduo fica assim à mercê do arbítrio total, o que é, claramente, a pior situação possível em caso de vida ou morte em que a pessoa está normalmente vulnerável e em situação de dependência.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Et Mourrir


Et mourrir por Jean van Hamme

Veneza é o cenário para mais uma interessante aventura de Largo Winch. Para salvar a sua cidade há quem esteja disposto a tudo, mesmo a sacrificar os seus filhos.

Tribos

Tribos por Seth Godin

Seth Godim é um guru do marketing moderno. Neste livro abre-nos um conjunto de novas pistas e perspectivas sobe a estratégia de relacionamento das empresas com a sociedade actual em que as pessoas se organizam em autênticas tribos urbanas.

As tribos são os novos espaços de socialização e de pertença para milhões de pessoas. Seth Godim define tribo como “um grupo de pessoas ligadas entre si, ligadas a um líder e ligadas a uma ideia:” As novas tecnologias permitem a cada pessoa pertencer a várias tribos em simultaneo.

Para continuar a ter significado na vida dos seus clientes as empresas e marcas têm de se adaptar à era das tribos em que vivemos. O marketing hoje “é partilhar com a tribo e proporcionar produtos e serviços com histórias que se propagam”.


As empresas devem aspirar a liderar as suas tribos, internas e externas, mas essa liderança passa agora por líderes heterodoxos, carismáticos, capazes de galvanizar os seus seguidores, transformando-os em militantes de uma causa. Estes lideres inspiradores opõem-se aos gestores – “Em tempos instáveis, o crescimento vem de líderes que criam a mudança e envolvem a organização e não de gestores que pressionam os empregados a fazer mais por menos”.

A economia das pensões

A economia das pensões por Maria Clara Murteira



Um livro a ler com atenção. A chave do problema da sustentabilidade das pensões reduz-se a um problema de repartição: da riqueza gerada anualmente pela sociedade quem fica com quê. Que parte reservar para os activos e que parte reservar para os idosos. Trata-se pois de uma questão essencialmente política e não técnica.

O debate entre o sistema de repartição e o de capitalização é, no essencial, estéril. Se nada se produzir, nada poderá ser repartido quer num sistema quer noutro. Tendo sido criada alguma riqueza esta poderá sempre ser repartida tanto através de um método quer pelo outro.

A questão do rácio entre activos e pensionistas também é estéril. Imaginemos que uma sociedade de 10 pessoas, em que 7 são activos e 3 reformados, produz 100 e distibui 85 aos que trabalham e 15 aos pensionistas (pensão de 5 a cada um). Se a proporção entre activos e pensinistas se alterar, por exemplo para 4 activos e 6 pensionistas, desde que a produção se mantenha nos 100 e as pensões individuais se mantenham (as pensões passam a ser um total de 6 X 5 = 30), então os rendimentos de cada activo (100 – 30 = 70) será muito maior: 17,5 por activo (70 / 4 = 17,5) contra 12,1 (85 / 7 = 12,1) na situação anterior. Para que isto aconteça é preciso aumentar a produtividade. Esta é a verdadeira salvaguarda das pensões.





domingo, 24 de julho de 2011

Marketing Ombro a Ombra






Marketing Ombro a Ombro por João Pinto e Castro






Habitamos no que alguns chamam era “pós-moderna”. Para Pinto e Castro “Vivemos em sociedades cépticas, ignorantes do passado, desconfiadas do presente e descrentes no futuro”. Neste ambiente que nada oferece, as pessoas sentem uma grande necessidade de fazer sentido da sua vida, do seu trabalho, do seu consumo. Daí que as marcas sejam “instadas a investir cada vez mais no domínio simbólico para dar resposta à fome de sentido manifestada pelos clientes”.

Face à atomização das sociedades ocidentais as pessoas têm-se agregado em novas tribos de pertença múltipla a que se adere e de que se sai livremente, e que se fundam num “conjunto de crenças e valores partilhados, mas também por instituições, canais de comunicação, sinais de identidade e rituais”. Estas tribos/ comunidades ajudam os membros a fazer sentido do mundo actual.

Hoje a partilha, a criação cooperativa, a agregação de conteúdos e mesmo a socialização em redes dão ao consumidor “conectado e activo” um maior poder.

Cabe ao marketing canalizar esse poder numa direcção mutuamente benéfica, não esquecendo que os produtos são meros instrumentos ao serviço de uma estratégia do consumidor (“um candeeiro tem de se enquadrar numa ideia de decoração de um espaço; um automóvel … de um estilo de vida e de trabalho”). O produto tem de fazer sentido na estratégia do consumidor. O Marketing deve reflectir sobre “Qual é essa estratégia e que papel desempenha nela a nossa oferta de valor?”. Esse papel consubstancia-se na Ideia-Projecto da marca para cada segmento de clientes - e a digitalização reduz muito “os custos de diversificação e personalização da oferta”.

Compete à empresa criar Ideias-Projecto, que “mobilizem os desejos básicos, as estratégias e a generosidade dos consumidores”. A comunicação das Ideias-Projecto deve “estruturar-se em torno de Mitos Fundadores, Lendas e Narrativas e Ícones”.

O novo Marketing Ombro a Ombro, que “rompe com o Marketing intrusivo, que consiste na intromissão não autorizada … das marcas na vida do cidadão”, assenta em três pilares: escuta, relacionamento e envolvimento. Escuta o que se diz da marca nas comunidades online. Estabelece um relacionamento com os clientes de maior valor e com os que podem influenciar outros. Gera neste grupo um envolvimento profundo com a marca.
Para estabelecer relacionamento há duas vias: a infiltração juntando-se a comunidades existentes e a mobilização agregadora criando novas comunidades.

Um livro com o qual se aprende muito. Um excelente livro.

Shadow

Shadow por Philippe Francq e Jean van Hamme


Jean van Hamme tem-se afirmado com um dos mais inspirados continuadores da escola de Banda desenhada belga que teve em Hergé e em Edgar Pierre Jacobs os seus máximos expoentes.

Esta aventura, a décima segunda da série Largo Winch, o herói milionário, transporta-nos para o universo dos meios de comunicação social e do entretenimento. Um mundo cão, em que patrões sem escrúpulos tudo fazem para eliminar os rivais e ganhar dinheiro. A concorrência no seu mais puro estado selvagem.

Mas apesar da imaginativa e bem urdida trama desta história e do duro e impiedoso cenário imaginário que descreve, este parece hoje um idílico paraíso quando se descobrem as maquinações do poderoso e bem real grupo económico do australiano Murdoch.

domingo, 17 de julho de 2011

vovô tsongonhana


vovô tsongonhana por Augusto Carlos

A história do vovô tsongonhana e do seu neto adoptivo corre fluida, despretensiosa e linear como era certamente intenção do autor.

A narrativa é fortemente moralista, procurando passar uma filosofia de vida assente no amor ao próximo a na coabitação pacífica e equilibrada com a Natureza. Muitas opiniões sobre a sociedade actual são aqui explicadas em palavras simples e directas, abeirando-se, por vezes perigosamente, do panfletário que, contudo, consegue evitar por “uma unha negra”.

Nalguns momentos o discurso de Moisés soa a falso, porque demasiado elaborado e ocidentalizado para um camponês moçambicano.

Um livro interessante que vale a pena ler. Excelente para ser lido em grupos de leitura juvenis, porque tem muitas ideias que podem ser usadas para uma discussão proveitosa, educativa e crítica.

A Paz Insuportável


A Paz Insuportável por John Le Carré


A história do brigadeiro suíço Jean-Louis Jeanmaire, o espião que durante mais de uma década passou informação secreta aos seus contactos soviéticos.

John le Carré procura compreender o carácter do personagem e explicar as motivações profundas deste aprumado militar sinceramente anti-comunista.

Na vida real Jeanmaire foi condenado a 18 anos de cadeia, dos quais cumpriu doze, num julgamento em que não teve muitas oportunidades para se defender, e em que a interferência do poder político foi constante.

John le Carré simpatiza com o personagem que vê como um ingénuo, incapaz de se defender ou de mentir convincentemente. Mas é também benévolo para com os serviços secretos soviéticos que nunca procuraram explorar esta fonte, nem dela exigir o que não podia dar.

Um livro destoante na extensa criação deste autor de excelentes romances de espionagem. Não num sentido negativo, mas apenas porque se não insere facilmente no conjunto da obra.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Os Manuscritos de Jeffrey Aspern

Os Manuscritos de Jeffrey Aspern por Henry James



Um pequeno romance construído sobre uma relação triangular entre o narrador obcecado por uns desconhecidos manuscritos de um famoso poeta, uma velha senhora à beira da morte e detentora dos documentos e a sobrinha desta.

A trama tem como pano de fundo Veneza, mas poderia passar-se em muitos outros lugares decadentes e perdidos no tempo. A cidade é um cenário onde se passa a acção e uma metáfora para a velha Juliana, que se agarra à vida através de memórias de um passado glorioso.

Juliana quer preservar a sua vida privada e a do seu amado escritor e o narrador quer, a todo o custo, apoderar-se dos escritos para os dar a conhecer a toda a Humanidade. Que valores devem prevalecer? O direito à privacidade ou o direito a conhecer a vida e os textos, mesmo que íntimos, de uma figura cimeira da literatura? Um dilema moral de difícil resolução.

É a sobrinha, ingénua solteirona de meia-idade, que, por morte de sua tia, fica com a difícil tarefa de dirimir este conflito de interesses. Ela balança entre os dois valores, mas depois de ler os documentos acaba por decidir mantê-los em segredo para sempre.

Henry James com esta engenhosa resolução parece dizer-nos que a resposta para o dilema exposto só pode ser obtida casuisticamente, em face das circunstâncias concretas e do teor dos assuntos a revelar.

De facto só depois de examinar os papéis e de conhecer o seu conteúdo é que Miss Tina, inicialmente vaga e abstractamente favorável à sua divulgação, concluí que a melhor solução é não os tornar públicos. Simultaneamente entrega um pequeno, antigo e inédito retrato de Aspern, que nada choca com a privacidade, para conhecimento geral.


Excelente.

domingo, 3 de julho de 2011

The Story Factor


The Story Factor por Annette Simmons

O poder persuasivo das histórias bem escolhidas e bem contadas é imenso e bem maior do que muitos argumentos racionais apoiados em números bem alinhados. Porque as histórias transmitem mensagens ancoradas na emoção e na partilha de uma mesma experiência e visão do mundo.

Uma história pode alterar a forma como vemos uma situação, permitir dizer verdades duras de ouvir, criticar um superior sem ferir susceptibilidades, ultrapassar objecções, facilitar a aderência a um novo conceito. Contar histórias é um método testado e comprovado de influenciar os outros.

A autora aconselha a que todos nós tenhamos as nossas seis histórias básicas bem alinhadas: 1) Quem sou eu, 2) O que faço aqui, 3) A minha Visão, 4) Ensinando, 5) Valores em acção e 6) Sei em que é que estás a pensar.

Muitas histórias ilustrativas, muitos conselhos e alguma descrição técnica sobre a forma de contar histórias.

Um livro simultaneamente denso, prático e interessante.



terça-feira, 28 de junho de 2011

GENEALOGIA HERÁLDICA E CIÊNCIAS SOCIAIS

Genealogia herálidica e Ciências Sociais por Sousa Lara



Um livro desequilibrado, sem um fio condutor unificador e que erra entre vários tópicos sempre pela rama e sem profundidade. Tanto inclui uma análise da evolução da composição social em Portugal como o texto completo de uma proposta de projecto legislativo preparado pelo autor para regular a utilização dos símbolos das várias entidades oficiais.

Inclui, no entanto, algumas passagens lúcidas e bem interessantes sobre a sociedade portuguesa.






Anthem

Anthem por Ayn Rand


Um romance militante a favor do individualismo e contra o colectivismo. Um livro intelectualmente desonesto em que o colectivismo é pintado como o triunfo da mediocridade e o apagamento total da personalidade individual, bem patente no desaparecimento da palavra “Eu” e a sua substituição integral pelo vocábulo “Nós”.

Ayn Rand esquece que a sociedade mais individualista, no sentido que lhe dá, é a do camponês isolado, que levanta a sua casa com as suas próprias mãos, obtém da terra o seu sustento, e do artesanato os seus utensílios. Na sua miséria aflitiva e na sua ignorância e superstição este camponês é quase totalmente independente.

Na sociedade actual o colectivismo e a acção colectiva reinam. Para produzir um automóvel é preciso que literalmente centenas de milhares de pessoas dispersas em vários continentes se coordenem e concorram para um mesmo fim. A interdependência é total. Só colectivamente é possível produzir um automóvel, ou em maior escala um avião ou em menor um par de sapatos ou uma camisa. Com a crescente especialização e divisão do trabalho só colectivamente se pode assegurar uma vida decente. Todos dependem de todos. E no que seria paradoxal para Ayn Rand, mas que é perfeitamente lógico e expectável, é na sociedade moderna que o indivíduo mais consegue exprimir a sua individualidade e melhor pode contribuir com o seu génio e talento.

Curioso que na sociedade colectivista descrita por Rand não há crime, nem polícia, nem guerra, reinando por toda a Terra a Paz universal. E qual a principal preocupação do primeiro indivíduo que corta com essa sociedade e se instala por conta própria? Proteger-se. Arranjar armas.

Ayn Rand é um autor de culto entre as elites neo-liberais, mas a verdade é que a sua prosa escrita em estilo panfletário não tem a espessura necessária para ascender às esferas superiores da Literatura, nem esgrime os argumentos que lhe possam reservar um lugar entre os filósofos.

domingo, 26 de junho de 2011

Barings



Barings por Fernando Sobral e Paula Alexandra Cordeiro




Olhar o passado com os olhos do presente é um erro de principiante, que revela o amadorismo e a ausência de perspectiva científica adoptada pelos autores deste livro que analisa um tema que poderia revelar uma parte importante da história económica portuguesa dos séculos XIX e XX: a relação do Estado Português com a casa bancária Barings.

Para mais o texto é, em muitas passagens, confuso e impreciso o que mostra que os autores não perceberam nem o contexto, nem os objectivos das várias partes das operações que estão a descrever.

Apesar de tudo fica claro o papel incontornável do Barings a par com a concessão de monopólios (tabaco, diamantes, madeiras, fósforos) no financiamento externo de Portugal durante grande parte do século XIX.

domingo, 12 de junho de 2011

Whitman


Whitman por D. H. Lawrence

D.H. Lawrence começa com uma critica directa, violenta e repetida a Whitman por este ao querer indificar-se profundamente com os outros seres humanos acabar por diluir a sua personalidade num caldeirão indiferenciador. Em contrapartida propõe uma aproximação empática que permita perceber os outros e as suas razões mas que, em simultaneo, mantenha nitida a sepração entre o sujeito e os restantes, permitindo uma não identificação e mesmo uma crítica com as escolhas e opções feitas por terceiros.

Na segunda parte Lawrence declara a sua adesão à visão de Whitman de caminhar na “estrada larga” da vida, partilhando experiências sempre com um grande espirito de abertura, de curiosidade e de aceitação.

No fundo Lawrence diz-nos que devemos enfrentar a vida, caminhar com os nossos irmãos, compreendê-los, mas não cair no exagero de com todos nos identificarmos, dissolvendo desnecessaria e erradamente a nossa individualidade.

The Humbling



The Humbling por Philip Roth


Morrer na praia ou como a recaida é geralmente mais perigosa, dolorosa e mortal do que a doença inicial.

Um livro admiravelmente bem escrito em que a história fui sem quebras, inflexões ou pontos mortos.

A Praia




A Praia por Cesare Pavese






Começava a perceber que nada é mais inabitável do que um lugar onde já se foi feliz” (última página).

Há livros que pretendem ilustrar uma ideia, contar uma história simples que nos demonstre um conceito, nos explique uma reflexão, nos revele uma verdade.

Com uma paciência para o detalhe, com uma atenção para o aparentemente insignificante, Pavese narra-nos, na primeira pessoa, alguns episódios da relação de dois amigos e através destes a vida da classe média italiana da primeira metade do século XX, quando os carros eram ainda raros e nas aldeias se cantava às estrelas. Mas o objectivo de Pavese é claro. Demonstrar a frase com que termina o texto e que se reproduz acima.

domingo, 22 de maio de 2011

A Bolsa

A Bolsa por Max Weber





Max Weber analisa a Bolsa, identifica a sua função economica, descreve o seu mecanismo de funcionamento, enumera os vários tipos de operações bolsistas e elenca os diferentes intervenientes.

Um trabalho muito completo e exaustivo. Escrito numa linguagem acessivel mas sem diminuir o rigor e o carácter cientifico da obra.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Campanha de Montevideu - A ocupação portuguesa do Uruguai





Campanha de Montevideu - A ocupação portuguesa do Uruguai



por Silvino da Cruz Curado




A história da ocupação militar da Banda Oriental, actual Uruguai, por tropas portuguesas ao serviço de D. Joao VI. A presença colonial portuguesa iniciada em 1817 com a invasão chefiada pelo General Lecor perdurou até à independência do Brasil altura em que a maioria do exercito decidiu separar-se de Portugal e integrar-se no Império de D. Pedro.

O que despoletou a intervenção portuguesa foi a revolução artigista que congregou colonos e povos indígenas contra o domínio espanhol e contra a anexação pelas Provincias Unidas, futura Argentina. Essa revolução incorporou ideias e praticas de algum modo avançadas para a época local. Foi com o intuito declarado de afastar a “anarquia” artiguista que o monarca português ordenou o avanço militar. Artigas foi efectivamente derrotado e as suas tropas desbaratadas, embora alguns dos seus lideres se tenham integrado nas forças de ocupação.

Livro algo confuso em que a história não flui escorreita sendo contada em solavancos desnecessários.

domingo, 1 de maio de 2011

A Biblioteca




A Biblioteca por Zoran Živković





Um conjunto de seis contos que partilham entre si a temática da Biblioteca. Não biblioteca comum, com livros ordenados, casa do saber e da moral, mas bibliotecas estranhas e diferenciadas que se podem transformar em espaço e instrumento de tortura infernal ou num local mágico que permite o vislumbre rápido mas nítido da nossa vida passada e futura.

Os contos são heterogéneos e desequilibrados, com ideias brilhantes a par de outras baças e usadas. Particularmente paradigmático desta realidade é o conto Biblioteca Nocturna em que o autor recorre ao catálogo mais gasto da Literatura fantástica: a porta aberta quando devia estar fechada, o guarda-chuva que fica dentro da biblioteca e que autentica a vivência do personagem, mas que simultaneamente contêm uma reflexão filosófica interessante em torno da transcrição meticulosa e completa da vida humana.

Alguns contos aproximam-se do fantástico, outros da análise psicológica, num ou noutro podemos encontrar ecos longínquos do argentino Borges.

Vale a pena ler.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Manifesto dos Economistas Aterrados





Manifesto dos Economistas Aterrados - Crise e dívida na Europa


Um Manifesto oportuno e corajoso que ousa ir contra a corrente fazendo uma critica profunda do modelo neo-liberal europeu, rebatendo 10 falsas evidências que têm, nos últimos anos, sido repetidas até à exaustão mas que não passam a ser verdadeiras por terem o exclusivo do tempo de antenas das televisões e propondo 22 medidas para combater a crise e relançar o crescimento.

O Manifesto é francês e recolheu muitas assinaturas de importantes economistas daquele país.

Apesar de não concordar com algumas das medidas e com parte do diagnóstico, penso que se trata de obra importante para a compreensão da situação actual de Portugal.

Não resisto a transcrever uma pequena parte do ponto relativo à “Falsa evidência número 4 – A subida espectacular das dividas públicas é resultado do excesso de despesa”:

“ ... mas sim da quebra de receitas públicas, decorrente da debilidade do crescimento economico nesse periodo e da contra-revolução fiscal que a maioria dos governos levou a cabo nos últimos vinte e cinco anos. A longo prazo, a contra-revolução fiscal alimentou continuamente a dilatação da dívida, de recessão em recessão. Em França um recente estudo parlamentar situa em 100 mil milhões, em 2010, o custo das descidas de impostos aprovadas entre 2000 e 2010 ...”

Em França, mas em Portugal a situação é semelhante foi a diminuição dos impostos, através dos multiplos beneficios fiscais que contribuiu fortemente para o enorme deficit publico. Às vezes o senso comum (“demasiada despesa”) não é a análise correcta do problema (“abdicação de receita”).

Pode ser uma base de uma discussão alargada sobre como sair da crise.


domingo, 17 de abril de 2011

A volta no parafuso


A volta no parafuso por Henry James
A fronteira entre a razão e a irracionalidade é invisivel e flutuante. Confiar pode ser uma decisão racional, mas também pode não o ser.


Em quem devemos confiar? Na narradora, jovem perceptora educada e filha de um pastor protestante? Na governanta, velha empregada analfabeta? No menino, belo e fragil que acaba de ser expulso do colégio em que o tio o matriculou? Nos indicios que temos em frente dos olhos? No autor que se retira e apenas nos lê uma carta que ele próprio considera perturbadora?


E apesar de tudas as pistas, de todas as situações descritas, das variadas provas, preferimos confiar na personagem errada e só acordar para a realidade demasiado tarde, no último parafrafo. Esse é o mérito e a arte do autor.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Nunca me deixes

Nunca me deixes por Kazuo Ishiguro
Um livro que merece um Nobel.

O destino, mesmo quando traçado pelos outros, pode ser absorvido como um um dever, como a sina de um condenado, como inescapável forma de vida. E quando o destino é a morte muito cedo anunciada o impacto pode ser devastador. Perdidas as ilusões, o condenado fica preso em si mesmo, paralizado encarando o desconhecido e a dor que se aproxima.

E esse abismo, esse medo, essa revolta, tem de ser enfrentado na mais completa solidão do ser em face da sua morte, e não pode, sem perda da dignidade, ser parilhado com os outros, nem mesmo com os que mais nos são queridos. Por isso é uma invisivel, indizivel, mas omnipresente realidade.

Mas neste pesadelo os sentimentos do amor e da amisade, com as suas contrariedades e jubilos, florescem entre jovens que desabrocham para logo serem ceifados pelo egoismo alheio.


A doce melancolia das ternas recordações de uma jovem mulher, não escodem o horror de um mundo sem alma que persegue seres humanos delicados e talentosos. Um mundo que pode vir a ser o nosso ou o dos nossos filhos.

A Boa Vida

A Boa Vida por Jay McInerney

A vida moderna da classe média-alta nova-iorquina no pós 11 de Setembro, quando os escombros ainda estavam quentes e fumegantes e a zona de impacto repleta de cadáveres despedaçados, como palco de uma reflexão sobre o casamento e a infidelidade.


Apesar do desafogo material bem patente na moda das três casas, das facilidades tecnológicas que permitem ultrapassar a infertilidade, os problemas matrimoniais permanecem os mesmos que poderiam ser descritos no Portugal de ontem. O que mantêm o casal unido, será esta a palavra certa?, não é o amor, mas sim os filhos, as conveniências, as rotinas de organização da vida, a falta de coragem e arrojo para as quebrar e as considerações patrimoniais. Assim se explica que após várias infidelidades mútuas os dois casais centrais do livro, mas também os constituídos por personagens secundárias, se mantenham juntos e, aparentemente, felizes.


Este é um livro com moral, aqui o autor não se limita a colocar-nos perante a realidade. Ao mesmo tempo que tenta ser neutro, procurando dar-nos a ver as situações pelos olhos dos vários personagens, reflecte e conclui, de forma independente, sobre o que descreve.


A moral da história surge assim nítida e clara: a infidelidade faz parte do casamento e não deve ser causa da sua dissolução. Jay diz-nos que é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo embora de forma diferente, uma com uma paixão ardente, outra de forma tranquila e plácida e que nada melhor que a própria infidelidade para melhor perceber e perdoar a traição do cônjuge.


Um livro na direcção errada, com uma moral muito duvidosa.

domingo, 13 de março de 2011

Indignai-vos




Indignai-vos por Stéphane Hessel



Uma lição de vida, de constância de princípios de compromisso com os outros. Um acordar de consiciencias, uma interpelação às consciências e à acção.


Todos os jovens o deviam ler.

domingo, 6 de março de 2011

O Capote


O Capote por Nikolai Gógol




A tragédia do copista que investiu toda as suas economias num capote. Mas Akaky Akakievich investiu mais do que dinheiro, empenhou a sua vida e os seus sonhos adormecidos. Mas para alguem da sua condição, um simples funcionário de categoria inferior, mesmo essas pequenas aspirações – à vida, à dignidade – estão vedadas.

Um livro sombrio e cheio de desalento sobre como os sonhos dos pobres lhes podem ser fatais.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O soriso ao pé das escadas

O Sorriso ao pé das Escadas por Henry Miller


Um homem que se perde e reencontra e se perde de novo para por uma última vez se reencontrar.

Uma curta novela sobre o como é fácil afastar-nos do nosso verdadeiro caminho mas em simultâneo como é difícil deixarmos de ser quem somos. É desta tensão que a vida é feita, é neste terrível confronto que se joga a felicidade humana, é neste terreno de luta que os sonhos se realizam ou estilhaçam.

O palhaço do circo surge aos nossos olhos quase como um ser providencial cuja missão é trazer a alegria ao mundo, não o riso fácil e passageiro da pantomima e da graça ligeira, mas a Alegria profunda e persistente próxima da contemplação. Mas apesar de tudo o seu drama é o nosso drama, a sua procura a nossa procura.

Uma história de contornos oníricos, em que o palhaço se move muitas vezes como um sonâmbulo que vivendo do seu próprio interior se desliga do mundo à sua volta, o que, no final, se torna fatal.

Louis la Guigne


Louis la Guigne por Giroud e Dethorey
Cinco aventuras de Louis la Guigne reunidas neste primeiro tomo da edição dos integrais desta série.
A acção decorre entre as duas guerras e em cenários tão variados como a Paris, Veneza, Berlim. Vive-se o clima da ascenção da direita fascista e a resistência da esquerda popular. No último episódio Louis apesar de operário e comprometido com a causa da liberdade acaba por impedir um atentado contra Mussolini.

As Farpas na República



As Farpas na República por Ramalho Ortigão



A mesma critica mordaz, trocista e acutilante, bem-humorada mas demolidora, irónica mas cirúrgica, leve mas directa ao alvo, com que fustigou o rotativismo monárquico aqui utilizada de forma soberba para expor os defeitos da novel República.

No seu estilo inconfundível, com um domínio perfeito, completo e admirável da língua portuguesa, Ramalho Ortigão fustiga os novos governantes e as novas elites sociais.

Bibliotecário do Rei, Ramalho Ortigão, manteve-se sempre fiel à Casa de Bragança e a Monarquia.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Deus das Moscas

O Deus das Moscas por William Golding
Uma alegoria ao nascimento pecaminoso da civilização humana.

Um grupo de crianças sobrevive numa ilha deserta, plena de árvores de fruto e de água potável que asseguram a sobrevivência. Desde o inicio se assiste a uma luta, que rapidamente se transformará num confronto de “vida ou de morte” entre dois tipos de sociedade, protagonizados por dois rapazes.

De um lado um projecto de sociedade organizada, hierarquizada, capaz de controlar e proteger os seus elementos e de lhes fornecer alimento de qualidade superior (carne), de outro uma tentativa de estabelecer uma sociedade de caracter anarquista assente na igualdade dos seus membros, organizada em assembleias deliberativas mas em que as decisões apenas são implementadas voluntariamente e cada membro faz literalmente apenas o que a sua consciência lhe dita.

Inicialmente as crianças preferem o segundo tipo de sociedade que permite uma maior liberdade. Infelizmente a experiência é mal sucedida, crianças desaparecem, o fogo apaga-se, as cabanas são construídas apenas por alguns, a lixeira instala-se e o medo irrompe. Impõe-se então um segundo tipo de sociedade organizada, com estrutura piramidal, dotada de meios, muito violentos e sádicos, de coerção para disciplinar os elementos prevaricadores,

Este segundo tipo de sociedade, primeiro passo para a civilização, nasce marcada por um pecado original terrível – a exploração dos medos primitivos, a prática da violência e do assassinato. Impossivel não ver aqui uma alegoria ao comunismo primitivo depois substituido pelas primeiras formas de civilização humana, recheada de nostalgia e simpatia pelo primeiro estado, talvez o mais natural, do ser humano.

É impossível não simpatizar com Rafael líder natural que se impõe pelo bom senso e pela palavra e desprezar Jack pela sua sede poder, pela violência das suas acções, pela malvadez que lhe corrói o espirito. Mas é também impossível não ver o grau de ineficácia da sociedade desregulada e o passo em frente na organização social que a tribo representa em relação à simples coexistência.

O livro fornece ainda ilustração: i) das teorias das classes políticas que defendem que em todas as sociedades são as minorias organizadas que prevalecem sobre as maiorias desorganizadas impondo-lhes o seu domínio e ii) das formas como os símbolos e os mitos são criados e manipulados para legitimar o Poder.
Muito poderoso, deu um Prémio Nobel ao autor.

The Consequences of Modernity


The Consequences of Modernity por Anthony Giddens
A Confiança como elemento essencial da Modernidade. Afastando-se de Luhmann, Giddens introduz uma nova definição do coneito de Confiança e enquadra-a no processo de reembedding dos sistemas abstractos.
Um livro para Sociologos a que os leigos terão dificuldade a aceder.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Trust


Trust por Piotr Sztompka
O que é a Confiança? Que tipos de Confiança existem? De onde vem a Confiança? Que factores permitem desenvolver a Confiança? Para que serve a Confiança?
Piotr Sztompka, sociologo polaco responde de uma forma exaustiva e polémica a todas estas questões e avança com a sua própria teoria que ilustra com o caso da Polónia antes e depois da queda do regime comunista.
Um excelente compendio sobre este tema.

A insígnia vermelha da coragem



A insignia vermelha da coragem por Stephen Crane

No decurso de uma batalha Henry, um jovem camponês introspectivo, sofre uma mudança radical, as suas dúvidas e temores desaparecem, a sua precipitada fuga integrada e escondida, ademais com a sua actuação em combate reconhecida e elogiada ganha uma serenidade interior e uma maior auto-confiança própria de que quem foi testado e venceu.

O que Henry não percebe é que de um pacífico camponês foi transformado num guerreiro capaz de matar. Não percebe que essa não foi uma opção sua, mas fruto da substituição de valores que se operou e consolidou na sua mente.

No inicio da batalha os seus sólidos valores camponeses de amor ao próximo de auto-preservação de proximidade e união com a natureza estão em conflito com os novos valores militares (dever para com os colegas, coragem, matar sem remorso) ainda inculcados de fresco, mas já indelevelmente gravados no seu espírito. Assim perante o perigo iminente foge como faria qualquer camponês no seu lugar.

A visão dos mortos e da beleza e tranquilidade do cenário amarram-no aos seus valores campesinos o contacto com os feridos, perante quem se tem de justificar à luz de deveres militares, empurram-no para os novos valores. Por um longo momento hesita.

Uma providencial pancada na cabeça obriga-o a juntar-se aos seus camaradas de armas o que o leva finalmente à assumpção plena dos valores guerreiros. Operada esta substituição, o seu conflito interior extingue-se e está pronto para ser o herói do seu Regimento.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Conversas com Saramago


Conversas com Saramago por José Carlos Vasconcelos
Entrevistas conduzidas por José Carlos Vasconcelos a José Saramago 5 por ocasião do lançamento de livros - História do cerco de Lisboa, O evangelho segundo Jesus Cristo, Ensaio sobre a Lucidez, As intermitências da morte, As pequenas memórias - e uma de carácter geral. Abrange um periodo que começa em 1989 e se prolonga até 2006.
Saramago no seu melhor, directo, claro, defendendo ideias e ideais, clarificando episódios, propondo soluções. Sempre polémico, sempre fascinado pela religião, sempre crítico das injustiças da sociedade actual.
Um livro que ajuda a perceber o mundo em que se movia José Saramago.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Contos


Contos (Volume I) de Anton Tchékhov
Contos realistas, humanos e tristes. Mais do que uma história inverosimel, um enredo intrigante, uma trama complexa ou um final surpreendente, Tchekhov escolhe pequenos fragementos do quotidiano, minusculos retratos, mas singelos e ricos de detalhe, de situações, personagens e sentimentos.
Solidão angustiante, esperanças quebradas, tentações inescapáveis, amizades traídas o desconforto da pobreza, o frio do Inverno num país distante, afinal aqui tão perto.


A Linha da Beleza




A Linha da Beleza de Alan Hollinghurst



Um convidado ou um hospede é sempre um intruso, un estranho que nem o tempo nem a atenção e simpatia podem integrar plenamente no lar de acolhimento e em momentos de crise será sempre o bode expiatório conveniente e prontamente sacrificado sem pena nem remorsos.


Nick torna-se de forma que roça o intensional, de multiplas maneiras e para várias pessoas, um estranho. Aceita ir viver com uma família aristocrática sendo plebeu, esconde dos pais a sua homosexualidade, trai a sua relação amorosa com encontros anónimos, cala segredos que seria melhor desvendar. Mas mas também é positivavente um estranho na medida em que desconhece as regras, duras e selvagens, do mundo social em que se move. Confiantemente avança para o abismo. E cai.


Em pano de fundo a Inglaterra da era de Tatcher em que a classe possidente reganha o controlo total da economia e do poder político.