domingo, 13 de fevereiro de 2011

O Deus das Moscas

O Deus das Moscas por William Golding
Uma alegoria ao nascimento pecaminoso da civilização humana.

Um grupo de crianças sobrevive numa ilha deserta, plena de árvores de fruto e de água potável que asseguram a sobrevivência. Desde o inicio se assiste a uma luta, que rapidamente se transformará num confronto de “vida ou de morte” entre dois tipos de sociedade, protagonizados por dois rapazes.

De um lado um projecto de sociedade organizada, hierarquizada, capaz de controlar e proteger os seus elementos e de lhes fornecer alimento de qualidade superior (carne), de outro uma tentativa de estabelecer uma sociedade de caracter anarquista assente na igualdade dos seus membros, organizada em assembleias deliberativas mas em que as decisões apenas são implementadas voluntariamente e cada membro faz literalmente apenas o que a sua consciência lhe dita.

Inicialmente as crianças preferem o segundo tipo de sociedade que permite uma maior liberdade. Infelizmente a experiência é mal sucedida, crianças desaparecem, o fogo apaga-se, as cabanas são construídas apenas por alguns, a lixeira instala-se e o medo irrompe. Impõe-se então um segundo tipo de sociedade organizada, com estrutura piramidal, dotada de meios, muito violentos e sádicos, de coerção para disciplinar os elementos prevaricadores,

Este segundo tipo de sociedade, primeiro passo para a civilização, nasce marcada por um pecado original terrível – a exploração dos medos primitivos, a prática da violência e do assassinato. Impossivel não ver aqui uma alegoria ao comunismo primitivo depois substituido pelas primeiras formas de civilização humana, recheada de nostalgia e simpatia pelo primeiro estado, talvez o mais natural, do ser humano.

É impossível não simpatizar com Rafael líder natural que se impõe pelo bom senso e pela palavra e desprezar Jack pela sua sede poder, pela violência das suas acções, pela malvadez que lhe corrói o espirito. Mas é também impossível não ver o grau de ineficácia da sociedade desregulada e o passo em frente na organização social que a tribo representa em relação à simples coexistência.

O livro fornece ainda ilustração: i) das teorias das classes políticas que defendem que em todas as sociedades são as minorias organizadas que prevalecem sobre as maiorias desorganizadas impondo-lhes o seu domínio e ii) das formas como os símbolos e os mitos são criados e manipulados para legitimar o Poder.
Muito poderoso, deu um Prémio Nobel ao autor.

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