terça-feira, 28 de junho de 2011

Anthem

Anthem por Ayn Rand


Um romance militante a favor do individualismo e contra o colectivismo. Um livro intelectualmente desonesto em que o colectivismo é pintado como o triunfo da mediocridade e o apagamento total da personalidade individual, bem patente no desaparecimento da palavra “Eu” e a sua substituição integral pelo vocábulo “Nós”.

Ayn Rand esquece que a sociedade mais individualista, no sentido que lhe dá, é a do camponês isolado, que levanta a sua casa com as suas próprias mãos, obtém da terra o seu sustento, e do artesanato os seus utensílios. Na sua miséria aflitiva e na sua ignorância e superstição este camponês é quase totalmente independente.

Na sociedade actual o colectivismo e a acção colectiva reinam. Para produzir um automóvel é preciso que literalmente centenas de milhares de pessoas dispersas em vários continentes se coordenem e concorram para um mesmo fim. A interdependência é total. Só colectivamente é possível produzir um automóvel, ou em maior escala um avião ou em menor um par de sapatos ou uma camisa. Com a crescente especialização e divisão do trabalho só colectivamente se pode assegurar uma vida decente. Todos dependem de todos. E no que seria paradoxal para Ayn Rand, mas que é perfeitamente lógico e expectável, é na sociedade moderna que o indivíduo mais consegue exprimir a sua individualidade e melhor pode contribuir com o seu génio e talento.

Curioso que na sociedade colectivista descrita por Rand não há crime, nem polícia, nem guerra, reinando por toda a Terra a Paz universal. E qual a principal preocupação do primeiro indivíduo que corta com essa sociedade e se instala por conta própria? Proteger-se. Arranjar armas.

Ayn Rand é um autor de culto entre as elites neo-liberais, mas a verdade é que a sua prosa escrita em estilo panfletário não tem a espessura necessária para ascender às esferas superiores da Literatura, nem esgrime os argumentos que lhe possam reservar um lugar entre os filósofos.

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