quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A ponte sobre o Drina


A ponte sobre o Drina de Ivo Andrić

Encravada entre o rio Drina e o seu afluente Rzav fica a pequena cidade bósnia de Višegrad. Na sua entrada mandou em 1577 o grão-vizir otomano de origem sérvia Mehmed Paxá Sokolović (1506-1579) construir uma formidável ponte em alvenaria cuja secular história nos narra de forma vivida e serena Ivo Andrić.

A ponte, com o seu miradouro central, rapidamente se tornou um ponto de encontro da população de Višegrad. Aí se juntaram pacificamente ao longo dos séculos cristão ortodoxos e muçulmanos, as duas comunidades grandes comunidades locais, acompanhados por alguns judeus sefarditas de língua espanhola que viviam na cidade para fumar, beber, conversar ou simplesmente admirar a paisagem envolvente.

No tabuleiro da ponte se combinaram casamentos, se celebraram batizados, se discutiu política, se divertiram os jovens, se passearam homens, se transacionaram produtos agrícolas e marcharam soldados. A ponte, a cidade, os Homens formaram um conjunto inseparável que resistiu à passagem do tempo, às mudanças políticas, com a cidade a passar sucessivamente do Império Otomano para o domínio do Império Austro-húngaro e depois para a Sérvia.

Se os austríacos com a retirada turca ocuparam pacificamente a Bósnia não deixaram de ser vistos como uma força invasora e estranha de religião, católica, diferente da professada pelos habitantes locais.

Foi já no decurso da I Grande Guerra, na frente que opunha a Sérvia ao Império austríaco que estes últimos derrubaram os pilares centrais da ponte para impedir o avanço dos seus inimigos. A grande ponte de pedra que resistira centenas de anos acabou derrubada pela guerra.

Aí acaba a saga de gerações de habitantes desta pequena cidade agrícola contada por Ivo Andrić neste livro.

Naturalmente que depois da II Guerra com a subida ao poder da Liga dos Comunistas Jugoslavos encabeçados pelo croata Tito a ponte foi reconstruída, sendo classificada como património da humanidade.

Ivo Andrić serviu o seu país como membro da Assembleia Nacional da Jugoslávia e como Presidente da União dos Escritores jugoslavos. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1961. Morreu em 1975. A ponte sobre o Drina é, muito justamente, considerada a sua obra-prima.

Apesar dos seus pais serem ambos croatas a sua obra foi proibida na Croácia sob o regime pró europeu que se seguiu ao desmembramento da Jugoslávia e é considerada como legado literário maior na Sérvia.

1 comentário:

  1. Sem dúvida um grande livro, talvez o melhor testemunho da justificação da classificação da ponte como património da humanidade.
    Não sabia que a obra estava proibida na Croácia.

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