A
ponte sobre o Drina de Ivo Andrić
Encravada
entre o rio Drina e o seu afluente Rzav fica a pequena cidade bósnia de Višegrad.
Na sua entrada mandou em 1577 o grão-vizir otomano de origem sérvia Mehmed Paxá
Sokolović (1506-1579) construir uma formidável ponte em alvenaria cuja secular história
nos narra de forma vivida e serena Ivo Andrić.
A
ponte, com o seu miradouro central, rapidamente se tornou um ponto de encontro
da população de Višegrad. Aí se juntaram pacificamente ao longo dos séculos
cristão ortodoxos e muçulmanos, as duas comunidades grandes comunidades locais,
acompanhados por alguns judeus sefarditas de língua espanhola que viviam na
cidade para fumar, beber, conversar ou simplesmente admirar a paisagem
envolvente.
No
tabuleiro da ponte se combinaram casamentos, se celebraram batizados, se
discutiu política, se divertiram os jovens, se passearam homens, se
transacionaram produtos agrícolas e marcharam soldados. A ponte, a cidade, os
Homens formaram um conjunto inseparável que resistiu à passagem do tempo, às
mudanças políticas, com a cidade a passar sucessivamente do Império Otomano
para o domínio do Império Austro-húngaro e depois para a Sérvia.
Se os austríacos
com a retirada turca ocuparam pacificamente a Bósnia não deixaram de ser vistos
como uma força invasora e estranha de religião, católica, diferente da
professada pelos habitantes locais.
Foi já
no decurso da I Grande Guerra, na frente que opunha a Sérvia ao Império austríaco
que estes últimos derrubaram os pilares centrais da ponte para impedir o avanço
dos seus inimigos. A grande ponte de pedra que resistira centenas de anos acabou
derrubada pela guerra.
Aí acaba
a saga de gerações de habitantes desta pequena cidade agrícola contada por Ivo Andrić
neste livro.
Naturalmente
que depois da II Guerra com a subida ao poder da Liga dos Comunistas Jugoslavos
encabeçados pelo croata Tito a ponte foi reconstruída, sendo classificada como
património da humanidade.
Ivo Andrić
serviu o seu país como membro da Assembleia Nacional da Jugoslávia e como Presidente
da União dos Escritores jugoslavos. Ganhou o Prémio Nobel da Literatura em
1961. Morreu em 1975. A ponte sobre o Drina é, muito justamente, considerada a
sua obra-prima.
Apesar
dos seus pais serem ambos croatas a sua obra foi proibida na Croácia sob o
regime pró europeu que se seguiu ao desmembramento da Jugoslávia e é
considerada como legado literário maior na Sérvia.
Sem dúvida um grande livro, talvez o melhor testemunho da justificação da classificação da ponte como património da humanidade.
ResponderEliminarNão sabia que a obra estava proibida na Croácia.