quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Doutor Glas

O Doutor Glas de Hjalmar Soderberg

O Doutor Glas é um jovem médico, sóbrio e sereno, com ideias firmes e bem estruturadas, com consultório na cidade e uma reputação impoluta na sociedade. Por detrás desta imagem, mas totalmente consistente com esta, é um frio assassino.

Seguimos em direto a escrita do seu diário nos breves dias que antecedem o assassinato a sangue frio e alguns dias que o seguem. Aí vemos como Glas reflete e decide sobre o ato que se prepara para cometar e como depois do facto reage e se adapta e reconcilia interiormente com a sua nova faceta de homicida.

Glas é uma alma sensível e melancólica. Apaixonado pelo Belo idealizado e intelectualizado, criado pela literatura, sublimado pela música, mas irreal, atraído pelo amor espiritual e platónico, abomina o carnal, o feio, o sujo, o doente, o decadente, coisas que associa ao sórdido, que desfeiam o mundo e que devem ser expurgadas e eliminadas. 

O médico é a favor do aborto, que contudo não pratica para não ir contra as convenções, da eutanásia que vê como uma forma de retirar do mundo dos vivos aqueles que estão doentes, e, pior ainda, a favor da eugenia praticada sobre pessoas com malformações ou atrasos mentais por razões materiais – é preferível sustentar um jovem e saudável operário do que uma criança deficiente escreve.

Naturalmente alguém com esta estrutura mental é um assassino em potência. Concretizar o ato apenas uma questão de oportunidade e circunstancia.

Um livro terrível primeiro pela apologia que faz de crimes terríveis como a eugenia, a eutanásia e o assassinato e por outro por misturar estes crimes com atos médicos legítimos como o aborto. Mas apesar de tudo uma obra que nos ajuda a perceber como um amor pelo Belo pode gerar um monstro.

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