O Trabalho, Uma visão de mercado por
Mário Centeno
Mário Centeno, atual ministro das Finanças,
assume aqui a sua convicção de economista liberal e de adepto do mercado “O mercado, tal como a democracia para a
ciência política, é a melhor forma de organizar as economias modernas”.
Assim toda a análise do mercado de trabalho que desenvolve neste ensaio partem
desse pressuposto ideológico.
Partindo de uma análise do mercado de
trabalho português, caracterizado estruturalmente por uma profunda
precariedade, a mais alta da Europa, criada por uma segmentação artificial do
mercado introduzida pelo Partido Socialista com a criação dos contratos de
trabalho a prazo, por baixos níveis salariais e pela exclusão do seguro de
desemprego de um grande número de trabalhadores, Mário Centeno propõe cinco medida
simples para uma organização diferente do mercado de trabalho.
A precariedade traduz-se numa elevada rotação
dos trabalhadores que “não é ditada por
razões económicas” mas sim pelo facto de o mercado estar segmentado, devido
“a uma das mais flexíveis legislações de
contratos a prazo de toda a Europa”. Esta enorme rotação, “em 2011 os
fluxos trimestrais entre emprego e não-emprego (desemprego e inatividade)
estavam entre os maiores da área do Euro.
O facto de em
cada trimestre 7,1% do emprego assalariado transitar para o não emprego leva ao
desinvestimento no capital humano. As empresas não investem na formação de quem
pretendem despedir dentro de poucos meses “A
rotação de trabalhadores, que estão na empresa períodos muito curtos de tempo,
não permite que acumulem capital humano, o que se reflete negativamente na
produtividade da empresa”.
Sobre
o salário mínimo refere aquilo que é óbvio “a
teoria económica diz-nos que o salário mínimo pode ter impacto positivo no
emprego” ao contrário do que certos interesses propagam.
Os baixos salários contribuem para que a “desigualdade salarial em Portugal está entre
as mais elevadas (senão mesmo a mais elevada) da União Europeia”
A educação é chave para dotar as novas
gerações de maiores conhecimentos, mas “Não
conhecemos nenhum país que não subsidie a educação. Portugal assume
explicitamente o caminho oposto”.
O diagnóstico
que faz do mercado de trabalho identifica muitos dos reais problemas do país,
no entanto as soluções que propõe, algumas de índole liberal, são interessantes
embora muito controversas.
Entre as mais
interessantes estão a de que as contribuições para a Segurança Social deverão
ser mais altas nas empresas que mais despedem e menores nas que mais estabilidade
dão aos trabalhadores e a de acabar com os contratos a prazo.
Mário Centeno
tem, agora que é ministro, a oportunidade de implementar, de forma negociada
com os parceiros sociais, algumas das suas ideias. Vejamos se não se revela
mais um treinador de bancada, com boas ideias na teoria mas que quando as tem
de implementar falha redondamente.
Mais um bom
livro da coleção da Fundação Manuel dos Santos.
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