A Balada do Café Triste por Carson
McCullers
A América profunda, rural, isolada, pobre,
racista e ignorante descrita magistralmente em traços finos e límpidos através
de uma história triste e melancólica de amor, traição e ódio.
Miss Amelia uma mulher forte e independente
que “A única utilidade que via nos outros
era o dinheiro”, vivia numa pequena aldeia pachorrenta em que “quando termina o turno da fábrica não há
nada para fazer; quanto muito pode-se ir à estrada de Forks Falls para ouvir as
conversas dos presos, de grilhetas nos tornozelos”.
É aqui, onde “O céu era da cor azul do lírio dos pântanos” e onde os corvos “voavam baixo, próximo dos campos, projetando
na terra sombras rápidas e azuladas” e em que “os pessegueiros em flor assemelhavam-se a leves nuvens de Março” que
vai nascer uma estranha amizade entre Miss Amelia e o seu primo corcunda que
acaba por trazer uma nova vida à comunidade.
Se bem
que a história se passe sempre entre a comunidade cristão branca, o racismo é
aflorado indiretamente mas de forma explicita “cortou em tiras o traje de
membro do Ku-Klux-Klan para tapar as plantas do tabaco”, o mesmo se podendo
dizer da pobreza e dos seus efeitos “A
vida pode tornar-se numa luta desordenada apenas porque se tem de obter aquilo
que é necessário para manter as pessoas vivas”.
Numa sociedade violenta, a vida é coisa pouco
valorizada “Mas a vida humana não tem
preço: é-nos dada de graça e levam-na sem pagar nada. Quanto vale? A julgar
pelo que nos rodeia, por vezes o seu valor é pouco ou nenhum. Muitas vezes
esforçamo-nos sem descanso e as coisas não melhoram, e depois surge a sensação
de que não se vale nada”.
A solidão é um tema que perpassa todo o
livro, toda a ação se passa numa aldeia isolada, com poucos habitantes, e em
que embora todos se conheçam vivem numa grande solidão. Miss Amelia vê-se
perante um dilema já que, muitas vezes, “é
melhor receber o pior inimigo do que enfrentar o terror da solidão”.
Carson McCullers é uma escritora excecional
que é imprescindível ler.
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