quinta-feira, 2 de junho de 2016

Balada do Café Triste



A Balada do Café Triste por Carson McCullers

A América profunda, rural, isolada, pobre, racista e ignorante descrita magistralmente em traços finos e límpidos através de uma história triste e melancólica de amor, traição e ódio.

Miss Amelia uma mulher forte e independente que “A única utilidade que via nos outros era o dinheiro”, vivia numa pequena aldeia pachorrenta em que “quando termina o turno da fábrica não há nada para fazer; quanto muito pode-se ir à estrada de Forks Falls para ouvir as conversas dos presos, de grilhetas nos tornozelos”.

É aqui, onde “O céu era da cor azul do lírio dos pântanos” e onde os corvos “voavam baixo, próximo dos campos, projetando na terra sombras rápidas e azuladas” e em que “os pessegueiros em flor assemelhavam-se a leves nuvens de Março” que vai nascer uma estranha amizade entre Miss Amelia e o seu primo corcunda que acaba por trazer uma nova vida à comunidade.

 Se bem que a história se passe sempre entre a comunidade cristão branca, o racismo é aflorado indiretamente mas de forma explicita “cortou em tiras o traje de membro do Ku-Klux-Klan para tapar as plantas do tabaco”, o mesmo se podendo dizer da pobreza e dos seus efeitos “A vida pode tornar-se numa luta desordenada apenas porque se tem de obter aquilo que é necessário para manter as pessoas vivas”.

Numa sociedade violenta, a vida é coisa pouco valorizada “Mas a vida humana não tem preço: é-nos dada de graça e levam-na sem pagar nada. Quanto vale? A julgar pelo que nos rodeia, por vezes o seu valor é pouco ou nenhum. Muitas vezes esforçamo-nos sem descanso e as coisas não melhoram, e depois surge a sensação de que não se vale nada”.

A solidão é um tema que perpassa todo o livro, toda a ação se passa numa aldeia isolada, com poucos habitantes, e em que embora todos se conheçam vivem numa grande solidão. Miss Amelia vê-se perante um dilema já que, muitas vezes, “é melhor receber o pior inimigo do que enfrentar o terror da solidão”.

Carson McCullers é uma escritora excecional que é imprescindível ler.

Sem comentários:

Enviar um comentário