segunda-feira, 6 de junho de 2016

Reflexos nuns Olhos de Oiro



Reflexos nuns Olhos de Oiro de Carson  McCullers

Um drama anunciado desde o primeiro já que na primeira pagina a autora escreve “Existe um forte no Sul onde há poucos anos se cometeu um crime. Foram estas as personagens da tragédia: dois oficiais, duas mulheres, um filipino e um cavalo”.

Em torno destas personagens McCullers estrutura uma história de ressentimento, cobardia, carreirismo militar, incompreensão, adultério e amor simples, contemplativo e incondicional.

E se a existência de um crime é conhecida desde o início só no final acabamos por saber que será o autor e quem assumirá o papel de vítima, porque o relato sempre contido numa simplicidade desarmante nos revela a complexidade da mente do ser humano nas suas múltiplas motivações, sentimentos, reações e circunstâncias.

A autora defende mesmo que agimos em função das circunstância e que raramente o fazemos sob influência do nosso próprio querer mais profundo, mas que esses momentos nos marcam e nos definem “Quatro vezes, na sua existência de vinte anos, agira ele deliberadamente, sem ser movido pela pressão das circunstâncias”.

Há uma multidão de temas focados com grande lucidez e profundidade ao longo do texto, desde as relações familiares “As tias inundavam-no de efusões sentimentais, e ele, não sabendo que fizesse de melhor, pagava-lhes na mesma moeda falsa”, à relação entre o tempo atmosférico e os acontecimentos, a função do desapego como pré condição de uma vida plena, “E, tendo assim renunciado á vida, o capitão, subitamente, recomeçou a viver”, da fúria descontrolada e raivosa “Atacara no mais aceso da fúria e ainda se lembrava do tom violento do sangue e do peso do corpo frouxo quando o levou através da mata; também se recordava do sol quente dessa tarde de Julho e do cheiro a pó e a morte”.

Sobre a natureza do pensamento escreve esta bela analogia “O pensamento é como uma tapeçaria ricamente tecida, cujas cores emanam dos sentidos e cujo desenho se elabora nas circunvalações do cérebro”. Razão e emoção, factos ordenados pela lógica.

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