Reflexos nuns Olhos de Oiro de Carson McCullers
Um drama anunciado desde o primeiro já que na
primeira pagina a autora escreve “Existe
um forte no Sul onde há poucos anos se cometeu um crime. Foram estas as
personagens da tragédia: dois oficiais, duas mulheres, um filipino e um cavalo”.
Em torno destas personagens McCullers estrutura
uma história de ressentimento, cobardia, carreirismo militar, incompreensão, adultério
e amor simples, contemplativo e incondicional.
E se a existência de um crime é conhecida
desde o início só no final acabamos por saber que será o autor e quem assumirá
o papel de vítima, porque o relato sempre contido numa simplicidade desarmante
nos revela a complexidade da mente do ser humano nas suas múltiplas motivações,
sentimentos, reações e circunstâncias.
A autora defende mesmo que agimos em função
das circunstância e que raramente o fazemos sob influência do nosso próprio
querer mais profundo, mas que esses momentos nos marcam e nos definem “Quatro vezes, na sua existência de vinte
anos, agira ele deliberadamente, sem ser movido pela pressão das circunstâncias”.
Há uma multidão de temas focados com grande
lucidez e profundidade ao longo do texto, desde as relações familiares “As tias inundavam-no de efusões
sentimentais, e ele, não sabendo que fizesse de melhor, pagava-lhes na mesma
moeda falsa”, à relação entre o tempo atmosférico e os acontecimentos, a
função do desapego como pré condição de uma vida plena, “E, tendo assim renunciado á vida, o capitão, subitamente, recomeçou a
viver”, da fúria descontrolada e raivosa “Atacara no mais aceso da fúria e ainda se lembrava do tom violento do
sangue e do peso do corpo frouxo quando o levou através da mata; também se
recordava do sol quente dessa tarde de Julho e do cheiro a pó e a morte”.
Sobre a natureza do pensamento escreve esta
bela analogia “O pensamento é como uma
tapeçaria ricamente tecida, cujas cores emanam dos sentidos e cujo desenho se
elabora nas circunvalações do cérebro”. Razão e emoção, factos ordenados
pela lógica.
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