terça-feira, 28 de novembro de 2017

O Bispo Negro


O Bispo Negro por Alexandre Herculano

Reúnem-se nesta edição dos Livros RTP dois contos de cariz histórico do escritor português oitocentista Alexandre Herculano: o Bispo Negro e Arras por Foro de Espanha.

O Bispo Negro relata-nos a reação de Don Afonso Henriques à tentativa de interferência do poderoso Bispo de Coimbra na sua política independentista. O nosso primeiro Rei não hesitou em afastar o clérigo e em seu lugar elevar à dignidade episcopal um prelado negro Çoleima, resistindo mesmo à intervenção de um Cardeal enviado pelo Papa para restaurar o anterior Dom Bernardo no seu antigo cargo.

Arras por foro de Espanha, mais controverso, apresenta-nos um Rei, D. Fernando, sob uma luz negativa de fraqueza e indecisão e com traços ainda mais carregados de ignomínia a sua mulher Dona Leonor Teles a quem acusa de adúltera e borregã. A parcialidade do autor é evidente quer pelos traços com que descreve a Rainha quer com que desenha a personalidade do Formoso soberano. Papel central representa o Povo de Lisboa, oposto ao casamento real, visto aqui como guardião da moral católica.

Na verdade D. Fernando foi um Rei enérgico que procurou expandir o território, tendo chegado a ser aclamado Rei em várias cidades galegas. Foi também ele que com a Lei das Sismarias reformou e modernizou o sistema agrário que vigorava até então. O envolvimento de Portugal na guerra de sucessão de Castela – D. Fernando era pretendente legitimo ao trono castelhano -

Completamente reabilitado surge o fidalgo Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de Dona Inês de Castro e fidalgo que integrou o exército espanhol que cercou e devastou Lisboa.

Recorrendo a frases longas de belo efeito, Alexandre Herculano sabe como ninguém criar atmosferas que nos transportam para a Idade Média e nos envolvem nos episódios históricos que romanceia com grande liberdade literária.

Em Arras por foro de Espanha encontramos belas descrições da Lisboa de então, a toponímia e a geografia da cidade que hoje é a nossa capital – “O Sol, que havia meia hora subira do Oriente, cingido da sua auréola da vermelhidão, no meio da atmosfera turva e acinzentada de um dia de Agosto, dava de chapa no rossio ou praça onde avultava o Mosteiro de São Domingos, rodeado de hortas e pomares, que verdejavam pelo vale da Mouraria, ao oriente, e pelo de Valverde ao norte”.

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