sábado, 9 de dezembro de 2017

História do Novo Nome

História do Novo Nome de Elena Ferrante

O segundo livro da quadrilogia da misteriosa escritora italiana Elena Ferrante conta-nos as aventuras e desventuras de duas amigas nascidas e criadas num bairro pobre de Nápoles.

Numa Itália dos anos sessenta, o destino das duas amigas parece bifurcar-se, com a ascensão pelo estudo de uma, com o fracasso do casamento da outra.

No seu estilo arrastado, descritivo, parando a miude para dissecar minuciosamente sentimentos e situações, Ferrante mostra-nos um país regionalmente assimétrico, Nápoles repleta de bairros pobres, Piza como cidade de estudantes, Milão como a cidade do intelecto e da afluência económica.

Dos amigos de infância das duas cada um segue um caminho diferente, a emigração para a Alemanha, a fábrica, o comércio, o jornalismo, reproduzindo sonambulamente os passos dos seus pais. A presença constante, próxima e ameaçadora da máfia napolitana, com o seu dinheiro e os seus músculos.

As raparigas os seus namorados, casamentos infelizes, desamores, num tempo em que o divórcio era proibido, em que se casava ainda adolescente, em que a violência doméstica imperava, em que a resistência e a modernização de costumes se fazia sob a égide do Partido Comunista.

A amiga genial, com a sua inteligência viva, com a determinação que sempre põe em tudo o que faz, com sua a capacidade empreendedora, liberta-se de um casamento infeliz, mas é abandonada pelo amante e, depois de um período de um certo desafogo económico, acaba numa fábrica de salsichas, onde o assédio sexual é a norma e a exploração económica a regra e a falta de condições se salubridade laboral o padrão.

A marcada diferença de classes é assinalada pela vergonha de não se conhecer a etiqueta, pela forma de vestir, pelo domínio do italiano, pelo sotaque regional, pelas maneiras em sociedade e à mesa pela ignorância do uso dos vários talheres.

A marca de origem não se apaga facilmente mesmo naqueles que pelo seu talento e esforço se erguem para além do que o seu nascimento lhes reservou. Fortes travões invisíveis que não são fáceis de ultrapassar.

O papel da mulher na sociedade italiana de então marcada pela subalternidade, pela desigualdade, pela permissividade com que encarados os abusos sexuais, surge das páginas deste livro como que saída da Idade Média ainda que de um tempo em que muitos dos seus leitores já eram nascidos.

Finalmente fica o interesse de seguir a história destas duas amigas e da sua singular rivalidade.

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