quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Uivo e outros Poemas




Uivo por Allen Ginsberg

Editado em 1957 o livro de “Uivo e outros poemas” foi a primeira obra, e talvez a melhor, de Allen Ginsberg. Foi recebida com um misto de aclamação pelo seu grupo de amigos e de indignação pelos puristas académicos e pelos conservadores auto proclamados defensores dos bons costumes e da (falsa) moral pública. 

Este últimos intentaram uma acção judicial contra o editor e contra o autor, pedindo a interdição de venda do livro, por obscenidade. Centenas de exemplares foram confiscados ao sair da tipografia e o empregado de uma livraria que vendia o livro foi preso. O editor também foi preso. No final o Supremo Tribunal da Califórnia deu razão a Ginsberg e aos defensores da liberdade de expressão.

Uivo é um poema sobre a sua geração, sobre “as mentes mais brilhantes da minha geração” levadas ao desespero e à loucura por uma sociedade capitalista, dura, materialista, repressiva, despojada de valores humanos que nada tinha para lhes oferecer. Uma sociedade “cuja alma é electricidade e bancos” caminhando para a guerra nuclear, “cujo destino é uma nuvem de hidrogénio assexuado”. Uma sociedade que enlouquece e confina os a hospitais como o de Rockland. Um poema de versos longos e livres, que nos leva aos infernos da droga, da pobreza, da repressão, da loucura, do desespero, mas que é simultâneamente muito humano, sentido e vivido.

Dos restantes 9 poemas, insertos na edição da Relógio d’Água, realço “América” um texto violentamente crítico da sociedade norte-americana, em que o poeta se dirige ao seu país, “América eu dei-te tudo e agora não sou nada”, apresentando uma longa lista de pedidos utópicos, porque sobre causas passadas, “América liberta o Tom Mooney/ América salva os republicanos espanhóis / América o Sacco e o Vanzetti não podem morrer”, explicando a sua posição (“América eu tenho um fraco pelos movimentos operários do mundo / América eu fui comunista quando miúdo e não me arrependo) e as suas dores (Eu não suporto a minha própria mente) e acaba desmistificando a propaganda belicista contra a Rússia (“A Rússia quer comer-nos vivos. O poder da Rússia é de loucos. / Quer tirar-nos os nossos carros das nossas garagens. / As ganas dela de fisgar Chicago) perguntando “América isto é correcto?”. Esta paranóia parece que ainda não passou.

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