quarta-feira, 17 de outubro de 2018

150 anos de Arte Moderna num piscar de olhos

150 anos de Arte Moderna num piscar de olhos por Will Gompertz

Escrita de uma forma atrativa, cheia de deliciosos episódios romanceados que nos fazem perceber de um ápice o argumento do autor, bem organizada, estruturada e ilustrada esta História da Arte é na verdade bastante incompleta, eurocêntrica e discriminatória afastando movimentos, pintores e escultores por razões ideológicas e políticas e raciais.

Muitos importantes artistas, como Marc Chagal, Alexander Calder ou Servando Cabrera Moreno são pura e simplesmente ignorados e movimentos relevantes como o realismo socialista, o hiper-realismo, o neorrealismo, ou movimento COBRA não são referidos.

Nem um só pintor Negro mencionado toda uma extensa lista de artista negros injustamente relegada ao esquecimento. Um esquecimento muito estranho num especialista como Gompertz.

Toda uma rica tradição de artística da Ásia, da América do Sul e de África é silenciada comprovando uma agenda assente num exclusivismo eurocêntrico de cariz obviamente político.

A China é retratada como uma ditadura e o único artista chinês referido é um opositor ao governo chinês que se auto exilou nos Estados Unidos de onde difama o seu próprio país e cuja obra mais conhecida é constituída por uma série de fotografias suas a destruir uma jarra chinesa com milhares de anos intitulada "Deixando Cair um Vaso da Dinastia Han". Se a peça fosse americana estaria na cadeia. Apesar de todas estas tropelias o Governo chinês contratou-o para a construção do famoso estádio olímpico do Ninho de Ave. Eis como atua a pseudo-ditadura chinesa!

As escolhas políticas de Gomperrz são claras e sobrepõem-se sempre ao julgamento artístico e estético ao longo de toda esta obra.

No entanto não deixa de reconhecer o profundo distanciamento da Arte contemporânea ocidental da sociedade em que se insere “Os artistas mais famosos têm feito vista grossa às grandes mudanças ocorridas na sociedade nos últimos 25 anos. Têm criticado pouco esta era capitalista de «o vencedor fica com tudo», em que a fama e a fortuna estão em primeiro lugar, e quase não mencionam os efeitos da globalização e dos média digitais. O mesmo se passa em relação às questões ambientais, à corrupção política e nos média, ao terrorismo, ao fundamentalismo religioso, à desintegração da vida rural, às divisões alarmantes na sociedade à medida que os ricos se tornam mais ricos e os pobres mais pobres, e à ganância e desumanidade dos banqueiros: se tomarmos como fonte de informação a arte contemporânea que é exposta em museus, é como se nada disto tivesse acontecido”.

Portugal também não merece uma única linha ou nota de rodapé neste percurso de 150 anos.

Tudo isto é lamentável na medida em que o autor mostra uma invulgar capacidade de comunicação, explicando e divulgando as obras selecionadas com evidente mestria.

Will Gompertz foi administrador da Tate Media uma das principais instituições privadas de arte do Reino Unidos apesar de fortemente financiada pelo Estado. A designação Tate refere-se ao nome do milionário inglês Henry Tate (1819-1899) que fez a sua fortuna no negócio do açúcar, um negócio que na época dependia da plantação de cana-de-açúcar que era feita com recurso a pessoas escravizadas nas colónias britânicas. Grande colecionador doou parte da sua vasta coleção de arte para a criação de um Museu.

Vale a pena ler se tivermos em mente as graves limitações desta obra e não a tomarmos como bíblia completa das grandes linhas de desenvolvimento da Arte no mundo.

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