150 anos de Arte Moderna num piscar de
olhos por Will Gompertz
Escrita de uma forma atrativa, cheia de deliciosos
episódios romanceados que nos fazem perceber de um ápice o argumento do autor, bem
organizada, estruturada e ilustrada esta História da Arte é na verdade bastante
incompleta, eurocêntrica e discriminatória afastando movimentos, pintores e
escultores por razões ideológicas e políticas e raciais.
Muitos importantes artistas, como Marc Chagal,
Alexander Calder ou Servando Cabrera Moreno são pura e simplesmente ignorados e
movimentos relevantes como o realismo socialista, o hiper-realismo, o neorrealismo,
ou movimento COBRA não são referidos.
Nem um só pintor Negro mencionado toda uma
extensa lista de artista negros injustamente relegada ao esquecimento. Um esquecimento muito
estranho num especialista como Gompertz.
Toda uma rica tradição de artística da Ásia, da
América do Sul e de África é silenciada comprovando uma agenda assente num
exclusivismo eurocêntrico de cariz obviamente político.
A China é retratada como uma ditadura e o
único artista chinês referido é um opositor ao governo chinês que se auto exilou
nos Estados Unidos de onde difama o seu próprio país e cuja obra mais conhecida
é constituída por uma série de fotografias suas a destruir uma jarra chinesa
com milhares de anos intitulada "Deixando Cair um Vaso da Dinastia Han". Se a
peça fosse americana estaria na cadeia. Apesar de todas estas tropelias o
Governo chinês contratou-o para a construção do famoso estádio olímpico do Ninho
de Ave. Eis como atua a pseudo-ditadura chinesa!
As escolhas políticas de Gomperrz são claras
e sobrepõem-se sempre ao julgamento artístico e estético ao longo de toda esta obra.
No entanto não deixa de reconhecer o profundo
distanciamento da Arte contemporânea ocidental da sociedade em que se insere “Os artistas mais famosos têm feito vista
grossa às grandes mudanças ocorridas na sociedade nos últimos 25 anos. Têm
criticado pouco esta era capitalista de «o vencedor fica com tudo», em que a
fama e a fortuna estão em primeiro lugar, e quase não mencionam os efeitos da
globalização e dos média digitais. O mesmo se passa em relação às questões
ambientais, à corrupção política e nos média, ao terrorismo, ao fundamentalismo
religioso, à desintegração da vida rural, às divisões alarmantes na sociedade à
medida que os ricos se tornam mais ricos e os pobres mais pobres, e à ganância
e desumanidade dos banqueiros: se tomarmos como fonte de informação a arte
contemporânea que é exposta em museus, é como se nada disto tivesse acontecido”.
Portugal também não merece uma única linha ou
nota de rodapé neste percurso de 150 anos.
Tudo isto é lamentável na medida em que o
autor mostra uma invulgar capacidade de comunicação, explicando e divulgando as
obras selecionadas com evidente mestria.
Will Gompertz foi administrador da Tate Media
uma das principais instituições privadas de arte do Reino Unidos apesar de
fortemente financiada pelo Estado. A designação Tate refere-se ao nome do milionário
inglês Henry Tate (1819-1899) que fez a sua fortuna no negócio do açúcar, um
negócio que na época dependia da plantação de cana-de-açúcar que era feita com
recurso a pessoas escravizadas nas colónias britânicas. Grande colecionador doou
parte da sua vasta coleção de arte para a criação de um Museu.
Vale a pena ler se tivermos em mente as
graves limitações desta obra e não a tomarmos como bíblia completa das grandes
linhas de desenvolvimento da Arte no mundo.
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