domingo, 17 de maio de 2009

O matricídio e outras histórias


Será possível que um ser humano odioso, um criminoso, uma pessoa que teria passado melhor o seu curto tempo de vida na cadeia do que em liberdade, possa ser simultaneamente um escritor de algum mérito? Aparentemente é. A capacidade de escrita parece ser independente da fibra moral. Mas obviamente que o caracter do autor acaba sempre por emergir sua obra.

Géza Csáth, neurologista, aproveitava a sua condição de médico e de autoridade para satisfazer os seus apetites sexuais com as mulheres que encontrou no hospital psiquiátrico em que trabalhava, as criadas, as enfermeiras, as familiares dos doentes e mesmo as doentes eram as suas presas. Tudo apontou minuciosamente no seu Diário. Tornou-se depois viciado em morfina. Foi expulso do exercito por mau comportamento. Matou a própria mulher a tiro de revolver. A sua vida é um rol de sucessivos vícios, baixezas e violências sobre os mais fracos.

A sua obra porém é de qualidade. A sua obra deve ser recordada e lida. O autor deve ser conhecido, criticado e desprezado.

Mas mesmo na sua literatura os defeitos de Géza Csáth transparecem. Pista seduz a sua amada com dois bofetões e daí retira lições sobre a arte de conquistar o coração feminino. Dois irmãos matam a mãe, vão lavar os dentes e seguem para a escola como se nada fosse. Mesmo no seu melhor texto “O silêncio Negro” um irmão estrangula o outro.

Os seus contos foram publicados sob o título “Contos sem final feliz”. Géza Csáth também não teve um final feliz. Acabou por se suicidar. O mundo perdeu então um pulha e um escritor.


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