sábado, 13 de abril de 2024

Uma abelha na Chuva


 

Uma abelha na Chuva de Carlos Oliveira

 

Como abelhas em dias de tempestade, fustigadas pela chuva, empurradas pelo vento, atiradas ao solo, esmagadas pelas bátegas violentas, assim segue a vida do povo humilde e simples do campo português.

 

Um agricultor abastado, casado com uma fidalga, balança entre a propensão criminosa e a cobiça que o levam a cometer numerosos crimes de roubo, mesmo contra a própria família, e o remorso e o arrependimento que o arrastam para a bebida e o alcoolismo. Desprezado pela mulher, ridicularizado pelos empregados, atormentado pela consciência, comete a última das infâmias.

 

A sociedade rural portuguesa do pós-guerra, fechada, classista, hipócrita, católica, aqui retratada em toda a sua vilania que desemboca no pior dos crimes.

 

O romance Uma abelha na Chuva adaptado ao cinema estreou em 1972. Contudo, o filme de Fernando Lopes, realizador da corrente do Novo Cinema Português, protagonizado por João Guedes e Laura Soveral não alcançou êxito comercial.

 

Carlos Oliveira (1921-1981), escritor português. Apesar de esquecido do grande público e das editoras mantém-se como um dos maiores poetas e romancistas da sua geração.

domingo, 7 de abril de 2024

Caminhada


 

Caminhada por Ovídio Martins

 

Poesia de amor e de combate, escrita em português e em cabo-verdiano. Respondendo à geração da Claridade, estes poemas cortam com a temática da evasão, criticam a enganosa escolha do caminho-longe e introduzem uma crítica social e uma consciência nacionalista.

 

No poema “anti evasão” recusa claramente a fuga e a emigração “Gritarei / Berrarei / Matarei / Não vou para Pasárgada” e em “flagelados do vento leste”, título que homenageia a célebre obra homónima de Manuel Lopes sobre as fomes em Cabo Verde, escreve “Morremos e ressuscitamos todos os anos /para desespero dos que nos impedem / a caminhada / Teimosamente continuamos de pé / num desafio aos deuses e aos homens / porque descobrimos a origem das coisas”.

 

Nos poemas em cabo-verdiano surge um grito “Hora tita tchegá / nhas gente / Hora d’alvantá / quel mon / de cendê / quel luz / de gritá / quel grito / que sô nôs sabe”.

 

Apesar desta edição da UCLA ser datada de 2015 não houve o cuidado de transcrever os poemas em língua cabo-verdiana para o alfabeto oficial dessa língua, o que torna difícil a sua leitura.

 

Ovídio Martins (1928-1999), cabo-verdiano, poeta, ensaísta, homem de cultura, lutador anti colonial, esteve preso no Aljube e em Caxias, exilado na Holanda, regressando ao seu país após a independência onde exerceu diversos cargos públicos.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Poemas


 

Poemas de Viriato da Cruz

 

Seis poemas daquele que foi um dos grandes poetas do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, uma geração de escritores e artistas que nos anos 50 do século XX se pronunciou contra o colonialismo e a favor da independência.

 

Viriato da Cruz introduz nos seus poemas palavras e expressões em quimbundo  , uma das línguas nacionais de Angola, recorre a temas populares, opta por um estilo ritmado e forte, o que levou a que vários dos seus poemas fossem musicados e cantados, foca-se em temas africanos próprios de uma sociedade sufocada pelo colonialismo.

 

O seu mais conhecido poema é Namoro, notabilizado na voz de Fausto, que celebra um amor operário, simples e sincero – “Mandei-lhe uma carta …”.

 

Contudo, o poema mais emblemático, mais combativo, mais erudito é “mamã negra” em que se fala da sorte dura dos Negros em África e nas Américas e se recordam grandes personalidades negras como Langston, Zumbi, Toussaint, e tantos outros – “nascendo alimárias / … / a enxada é o seu brinquedo / trabalho escravo – folguedo…”.

 

Viriato da Cruz (1928-1973), escritor angolano, fundador do Partido Comunista Angolano e do MPLA, perseguido pelo regime colonial-fascista, refugiou-se na China onde veio da morrer.