sábado, 24 de julho de 2010

Amar de Novo

Amar de Novo de Doris Lessing

Este é um livro complexo, denso, extenso.

Num primeiro momento diremos que versa os amores impossíveis. E estes são vários: o de Julie Vairon, a bela e culta mulata da Martinica enamorada sucessivamente de dois nobres franceses, o do aristocrata inglês por Julie já morta e enterrada noutro século e noutro lugar, os de Sarah por membros da companhia de teatro que dirige e finalmente o de Andrew um actor texano por Sarah. Mas também o amor conjugal e filial falhado do irmão de Sarah. E o de Susan, a actriz que personifica Julie e Stephan. Muitos amores infelizes. Cada um à sua maneira.

Por isso numa segunda aproximação diremos estarmos na presença de um longo e minucioso catálogo dos obstáculos que tornam a felicidade impossível. Entre Julie e os seus amantes ergue-se, intransponível, a barreira da classe e do racismo, entre Stephan e Julie interpõe-se a morte, que transforma este amor numa impossibilidade absoluta, entre Sarah e Bill e Henry existe a diferença de idades, esse terrível preconceito social e o amor de Andrew por Sarah não é correspondido. Obstáculos insuperáveis, monstruosos que acabam por destruir os amantes menos avisados.

A cada obstáculo corresponde o seu desenlace natural: Stephan acaba por se juntar à sua amada, suicidando-se, Henry refugia-se no amor paternal, Andrew, americano pragmático, regressa a casa e casa-se com a consciência que será infeliz, Hall, o irmão de Sarah, vê a mulher abandoná-lo.

Muitos nos dizem que o segredo de envelhecer bem está na capacidade de manter o espírito jovem e ocupado com assuntos interessantes. O caso de Sarah mostra-nos exactamente o oposto. Mostra-nos a prisão que a nossa idade pode ser, as restrições que impõe, as limitações sociais que acarreta. O espírito, jovem e livre, sente e vive o amor, as suas doçuras e as suas agruras, mas a idade, e os preconceitos sociais a ela associados, impede a felicidade.

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