domingo, 24 de outubro de 2010

A arte e o modo de abordar o seu chefe se serviço para lhe pedir um aumento



A arte e o modo de abordar o seu chefe se serviço para
lhe pedir um aumento por George Perec


Uma porta que se abre. Uma horizonte que se descobre. Um sorriso que se alarga. Uma nova literatura que se descobre. Eis o impacto deste livro de George Perec.

A escrita constrangida – o texto segue um esquema elaborado por outra pessoa – de George Perec é fluida, clara e bem humorada. Não há virgulas, pontos de exclamação, de interrogação, ponto e virgula, ou qualquer outra pontuação. O texto é um grande parágrafo único, que se desdobra sequencialmente enumerando todas as possibilidades que se oferecem ao funcionário para abordar o seu chefe de serviço para lhe pedir um modesto aumento de vencimento mensal.

Perec, considerado por alguns o maior escritor francês da segunda metade do século XX, pertenceu ao movimento OuLiPo (Ouvroir de littérature potentielle), movimento de aproximação da literatura e da matemática animado entre outros por Raymond Queneau, François Le Lionnais, Italo Calvino.

Estes escritores utilizaram técnicas divertidas como a Bola de Neve – em que num texto cada palavra tem uma letra mais do que a precedente – o Lipograma – em que num texto não existe uma ou mais letras (Perec escreveu o volumoso romance A Desaparição em que a letra “e”, tão frequente no francês, está totalmente ausente) e o Palíndromo – em que uma frase pode ser lida da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda (exemplos: i) com uma palavra: reger, saias; ii) frase completa: Adias a data da saída, A rara arara, Roma é amor).

Pena é que a parte mais importante e relevante da obra de George Perec não esteja traduzida para português.

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