quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Portugal

Portugal . p&b

Portugal p.b.é um belo livro de fotografias tiradas no nosso país. Um retrato fiel e verdadeiro, que a objectiva não mente, do nosso país, da nossa sociedade.

Um retrato a preto e branco mas não maniqueísta, pelo contrário muito pluralista. Um auto-retrato a várias mentes.

A imagem que obtemos é nítida mas não muito lisonjeira e em franca dissonância com os sonhos modernistas espalhados na última década e que, de facto, não passaram de uma ilusão e de simples propaganda.

Vemos um país de paisagens naturais deslumbrantes, de sol meridional, ocupado por um povo pobre e envelhecido, vergado pelo trabalho braçal mantendo costumes arcaicos, vemos infra-estruturas gastas, casas degradadas e vemos também uma nesga de modernidade querendo romper.

E vemos também a alma melancólica, pisada, sofredora do português e sua forma suave e tranquila de ser e estar.


domingo, 13 de novembro de 2011

Jogos de Azar






Jogos de Azar por José Cardoso Pires


O Portugal profundo dos anos 40 desvendado sem piedade e sem maquilhagem. Um país pobre, rude, calcado pelas elites políticas e económicas, mostrado através de um conjunto de contos em que desfilam ante os nossos olhos surpresos, acustomados à coloração cor-de-rosa e romantica que de do passado nos dão as nossas televisões, vidas dramáticas, despedaçadas pelo infortúnio, pela incúria das autoridades, pelas carências economicas, sociais e morais.

Uma sociedade seca, dura, bárbara, longe da modernidade, em que se pode morrer sem assistência num acidente de trabalho, ser vendido por um punhado de escudos, ou violada sem protecção nem direitos. Estilhaça o mito dos brandos costumes, que na verdade não existem, e ilumina o verniz que esconde o lado áspero, violento e monstruoso do nosso país. O imprério da lei da selva antes mesmo do neo-liberalismo. Uma realidade assustadora, arrepiante para a qual estamos a retroceder a passos largos.

Um livro que nos interpela, desafia e revolta. Em suma, um grande livro.

Algés ao longo dos tempos

Algés ao longo dos tempos de Levy Nunes Gomes




Apontamentos desgarrados e sem fio condutor sobre a história, os monumentos, a vida e as principais instituições privadas e públicas da freguesia de Algés.

De inicio Algés era a denominação de um vasto reguengo, i.e. uma propriedade do Rei, que ia da Ribeira de Alcântara à Ribeira do Jamor que D. Afonso Henriques reservou para si após a conquista de Lisboa. Se o nosso primeiro Rei pôde ficar com a terra não conseguiu mudar a designação árabe, que ainda hoje se mantém. O termo Algés deriva da palavra al-geis, que significa “o giz”, minério existente na região.

Contém informação útil para quem queira conhecer melhor a Freguesia de Algés.

domingo, 6 de novembro de 2011

After-Shock


After-Shock por Robert B. Reich




Nas últimas três décadas a economia americana tem vindo a expandir-se a bom ritmo. Mas os benefícios desse crescimento foram praticamente todos apropriados pelos 10% dos americanos que estão no topo. O salário mediano estagnou durante este longo período.

E no entanto o consumo aumentou fortemente. A parte de leão do consumo foi feita pelos mais ricos - os 10% do topo consumiram mais de 40% do total do consumo!!

A classe média contudo também aumentou o seu consumo. E como o fizeram se o seu rendimento ficou estagnado? Recorrendo a três mecanismos de compensação. A entrada das mulheres no mercado de trabalho adicionou mais um ordenado aos rendimentos do casal e o recurso a mais horas de trabalho.

Quando os estes dois mecanismos se esgotaram (a maioria das mulheres já trabalha e já não é aos americanos trabalhar mais horas) a classe média recorreu ao crédito, dando como garantia as suas casas. Enquanto durou a bolha imobiliária foi possível obter empréstimos cada vez maiores com base na mesma casa que continuamente se valorizava e permitia ao proprietário aumentar o seu empréstimo. Com o rebentar da crise do crédito imobiliário (crise do subprime) este mecanismo de compensação também se esgotou.

Reich argumenta então que na ausência de possibilidade de consumo da classe média (que define como os 40% da população para cima e para baixo do rendimento mediano) a economia não pode recuperar. Como resolver então esta crise?

A resposta é simples e evidente. Redistribuir a riqueza entre os mais têm e os outros. Assim advoga uma reforma do imposto sobre o rendimento (todo o rendimento, independentemente da sua fonte seria à mesma taxa) que colecte os mais ricos e distribua dinheiro à classe média. Advoga também a introdução de um cheque escola regressivo (tanto maior quanto menor o rendimento da família) que permitisse aos americanos mais pobres colocar os filhos nas melhores escolas. Lista ainda outras medidas de redistribuição activa.

Reich defende que uma maior distribuição do rendimento seria benéfica quer para a classe média quer para os ricos, porque colocaria a economia numa rota de crescimento sustentado que a todos beneficiaria.

Por outro lado, identifica o risco de a indignação dos americanos da classe média cada vez mais empobrecidos num país cada vez mais rico, se materializar na eleição de radicais de direita para o Congresso e mesmo para a Presidência. Isso seria, na sua opinião, catastrófico. Uma redistribuição reporia a justiça social e o daria corpo ao famoso “sonho americano”.

Reich relembra que antes da grande depressão os Estados Unidos também tiveram uma distribuição de rendimento tão desigual como a actual e que esta foi uma das causas da crise (os americanos não podiam, por falta de recursos, consumir os bens produzidos e a economia parou). Por outro lado quando a distribuição de rendimento foi mais equilibrada, como no período que se seguiu à II Guerra Mundial, a economia cresceu a ritmos fortes no que foi conhecido como os Trinta anos gloriosos.

Excelente livro. Devia ser bem divulgado.

Robert B. Reich foi secretário do trabalho na administração Clinton e é professor na Universidade da Califórnia.

Sept Survivants





Sept Survivants por Luca Blengino com desenhos de Denys e cor de Delf






Um túnel vivo e sádico em que se entra mas de que não se sai facilmente. Sangue, violência e morte em doses massivas e sem justificação aparente. Uma moral aparente: para vencer um espírito maligno só um vilão ainda maior.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A questão Finkler

A Questão Finkler por Howard Jacobson

Uma auto-consciência aguda, crítica e irónica da situação judia é o ingrediente que humaniza este livro e torna a sua leitura simultaneamente divertida e intelectualmente estimulante.

Mas por baixo desta camada superficial de um verniz brilhante de auto-critica impiedosa revela-se uma defesa intransigente de Israel, do sionismo, da diabolização dos palestinos e o retrato dos gentios como seres destituídos de senso, desejosos de se tornarem judeus.

O livro é um toque a rebate para a unidade da disporá judaica. Subtilmente o autor defende que apesar da secularização, apesar das críticas superficiais e até ridículas a Israel de alguns judeus, apesar de alguns aspectos da religião, como a circuncisão, poderem ser descritos de uma forma cómica, no fundo os judeus serão sempre judeus e devem permanecer unidos face ao anti-semitismo crescente em todo o mundo, e que é importante manter e apoiar um Estado que possa em caso de necessidade servir de abrigo aos judeus dispersos pelo mundo.

Muitos aspectos do judaísmo são colocados à discussão, a visão crítica é apresentada, mas sempre sob uma tal luz, que a torna superficial e sem verdadeiro sentido, enquanto a visão tradicionalista que é num primeiro momento atacada acaba por, astutamente, surgir como profunda e mais adequada. A crítica mesmo que mordaz, mesmo que apresentada com simpatia, salientando a sua elegância intelectual e o seu evidente forte lado apelativo, mesmo que lógica esbarra desajeitadamente na solidez da tradição.

A luta dos palestinianos e os ataques anti-semitas são misturados e confundidos para que surjam como sinónimos na cabeça dos leitores. Mas o assassinato de palestinianos só aparece executado por um louco desesperado preste a ser despejado com a sua mulher e os seus numerosos filhos do seu colonato. Pela discrição que é feita, percebemos o seu acto tresloucado e por um momento como que nos esquecemos das vitimas inocentes e simpatizamos com ele. A mensagem está lá os palestinos são terroristas mas os excessos dos israelitas são fruto dos nervos em franja pela pressão que a resistência palestina.

O personagem Treslove, o protótipo do gentio, surge como um indivíduo irresponsável, destituído de engenho e arte, um morto vivo errante pela face da terra sem objectivo nem destino. Na sua melhor fase, quando se interroga sob o sentido da sua vida e está finalmente pronto, aos 49 anos, para assumir afirmativamente o seu destino o que escolhe é … tornar-se judeu. Uma verdadeira impossibilidade, uma vez que só pode ser judeu quem nasce de mãe judia.

Um livro inteligente, não panfletário mas claramente partidário. Uma mensagem de racismo e ódio sob uma capa de bonomia e auto-reflexão. Um exemplo de como a propaganda pode andar de mão dada com o bom gosto, com a erudição e com o sentido de humor mais requintado, em suma com a literatura.