quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Lisboa - Roteiros Republicanos



Lisboa Roteiros Republicanos por Maria Calado

A I República teve uma existência curta mas intensa, começou com uma revolução que derrubou uma dinastia secular, sobreviveu a tentativas armadas de restauração monárquica, arrastou o país para uma guerra mundial, foi interrompida por ditaduras efémeras, viu cair assassinado um Presidente e vários dos seus heróis, viveu atribulada e agitada, apresentou-se palavrosa e acutilante no verbo mas não produziu obra, não desenvolveu o país e quando se finou deixou-o em profunda crise. Poucos a choraram.

Este livro ilustra bem estas características da I República. Dois exemplos. A instrução e a habitação social.

A primeira considerada como a grande prioridade, a base da emancipação humana, a prioridade das prioridades, a grande paixão republicana, muitos discursos inflamados, muitos planos mas escassíssimos resultados para além da mudança de nome dos Liceus e das Escolas Superiores. Em termos de analfabetismo depois de tanto pregar e profiar “iria traduzir-se na redução de 3,,1% do analfabetismo na capital no final da República, de 30% (censo de 1911) para 27,7% (censo de 1925)”. Caso para lembrar o ditado popular “muita parra e pouca uva".

A segunda tida por essencial para melhorar a saúde pública e as condições de vida da população lisboeta. Planos e plantas não faltaram como os elaborados por Ventura Terra, vereador da Câmara de Lisboa, relativo ao Casal Ventoso. Mas preferindo acumular a vereação com intensa atividade profissional, nomeadamente no desenho e construção de elegantes moradias nas zonas mais nobres da cidade, não conseguiu alterar uma simples pedra no bairro operário construído numa encosta batida pelo vento. Não avançando qualquer obra “reduziu-se a ambição do projeto, mas mesno assim nada se fez”. Paradigmático para outros locais onde também “a intervenção nos bairros pobres da capital acabou por não se efetuar”.

As poucas obras de encetou não as concluiu. “Em Lisboa a I República só conseguiu iniciar dois bairros sociais: um é o Bairro Social da Ajuda, só inaugurado em 1937, e outro é o Bairro do Arco do Cego cujo projeto elaborado em 1919 pelos arquitetos Adães Bermudes e Frederico Caetano de Carvalho … só foi terminado em pleno Estado Novo…”.

Um excelente retrato de um regime desastroso que, pela sua inépcia, abriu caminho à mais longa ditadura da nossa história.

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